Não sei bem como explicar o que aconteceu nessa noite. Não No sei sequer se foi por causa da conversa parva do meu avô. Dormi sempre um bocado aos saltos. Ouvia as vozes dos meus pais ainda no escritório e lembro-me de pensar que eles estavam doidos por ficarem acordados até tão tarde, mas depois voltava a mergulhar no sono profundo. Mergulhar, é mesmo o termo, mergulhar.
Sonhei toda a noite com água e peixes enormes e coisas gigantescas. Tinhamos ido ao Oceanário na semana anterior, por isso já era um bocado fora de tempo aquele sonho. Mas durou a noite inteira.

Não sei se toda a gente acordou muito cedo ou se fui eu que acordei muito tarde, mas a Joana entrou pelo meu quarto a falar altíssimo e a abrir as persianas, coisa que me irrita até ao tutano. E foi nesse momento que aquilo aconteceu. Imaginem a cena ela entra naquela algazarra, eu acordo assustado e fico logo encandeado com a luz, ela atravessa o quarto a dizer uma data de coisas que eu faço o grande esforço de não ouvir e a porta fecha-se. No ar, mesmo ao meu lado, fica um peixe azul, talvez com o comprimento de um dedo, não mais.

E, estranhamente, aquele peixe pareceu-me um bocado atrapalhado e até envergonhado. Atirei-me para trás. Estava a sonhar. Tapei-me com o lençol e voltei a adormecer. Mas acordei outra vez, agora com um pingo de água na cara.
- Desculpa.
- Não me molhes a cama toda, por amor de Deus.
- Já pedi desculpa.
- Bom...

Só então caí em mim. Eu estava a falar com um peixe azul, que estava aparentemente suspenso no ar e que fazia um baru- lho irritante a abrir e fechar a boca, isto quando não estava a falar, claro. Sentei-me na cama e belisquei-me. Devia estar a sonhar, só podia ser.