Fundamentos da Comunhão Verdadeira

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Last edited by Silvio Dutra
September 2, 2016 | History

Fundamentos da Comunhão Verdadeira

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Comunhão e unidade é muito mais do que simplesmente amizade, conforme se costuma pensar geralmente.
A unidade e comunhão dos crentes entre si, e com Deus é produzida pelo Espírito Santo quando caminham na mesma fé, doutrina e amor. Onde isto faltar, o Espírito não pode produzir a unidade e comunhão esperadas por Deus.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo, quando orou em favor da unidade dos crentes em João 17, Ele pediu ao Pai que os santificasse na verdade, a saber, na Sua Palavra, para tal propósito. Somente este vínculo, este laço de união, é durável e inquebrantável.
Uma suposta unidade na Igreja que seja baseada em mera concordância em pontos relativos a estratégias ou deliberações tomadas em convenções e assembleias, não podem ser eficazes ou duradouras, e pouco ou nada poderão refletir daquela verdadeira união que é promovida pelo Espírito Santo.

Publish Date
Publisher
Silvio Dutra
Language
Portuguese
Pages
66

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Cover of: Fundamentos da Comunhão Verdadeira
Fundamentos da Comunhão Verdadeira
2016, Silvio Dutra
Paperback in Portuguese

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Table of Contents

Fundamentos da Comunhão Verdadeira
Silvio Dutra
FEV/2016
2
A474
Alves, Silvio Dutra
Fundamentos da comunhão verdadeira./ Silvio Dutra
Alves. – Rio de Janeiro, 2016.
66p.; 14,8x21cm
1. Cristianismo. 2. Unidade. 3. Fé. 4. Comunhão.
I. Título.
CDD 230
3
Sumário
Unidade e Comunhão
4
Harmonia com Deus, Consigo Mesmo e com o Próximo
7
O Propósito da Criação da Humanidade
13
O Critério da Comunhão Bem-Aventurada
16
“Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3)
20
A Unidade Entre os Cristãos é Obtida por Esforço
42
Alegria e Paz na Comunhão com Jesus
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Vencer o Egoísmo para Viver em Unidade
51
A União Indissolúvel do Crente com Cristo
54
4
Unidade e Comunhão
Comunhão e unidade é muito mais do que simplesmente amizade, conforme se costuma pensar geralmente.
A unidade e comunhão dos crentes entre si, e com Deus é produzida pelo Espírito Santo quando caminham na mesma fé, doutrina e amor. Onde isto faltar, o Espírito não pode produzir a unidade e comunhão esperadas por Deus.
Por isso nosso Senhor Jesus Cristo, quando orou em favor da unidade dos crentes em João 17, Ele pediu ao Pai que os santificasse na verdade, a saber, na Sua Palavra, para tal propósito. Somente este vínculo, este laço de união, é durável e inquebrantável.
Uma suposta unidade na Igreja que seja baseada em mera concordância em pontos relativos a estratégias ou deliberações tomadas em convenções e assembleias, não podem ser eficazes ou duradouras, e pouco ou nada poderão refletir daquela verdadeira união que é promovida pelo Espírito Santo.
O amor aqui citado não é o simples amor fraternal de amizade, ou fileo, mas o amor ágape divino que é sacrificial e sobrenatural, cujas
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características são destacadas no décimo terceiro capítulo de I Coríntios.
Atitudes carnais que são normalmente usadas para se promover a unidade dos crentes nas congregações locais, como exortações a que vistam a mesma camisa de determinado líder, ou sigam as diretrizes assentadas que sejam contrárias ao conteúdo e tom das Escrituras, não podem de modo algum, gerar a verdade, unidade e comunhão na Igreja.
Jesus orou por isto. E sem que o busquemos também pela oração, e sem perseverar na doutrina dos apóstolos como ocorria na Igreja Primitiva, jamais poderemos desfrutar de uma comunhão espiritual e verdadeira em nossas igrejas.
O apóstolo João que experimentou bem de perto a comunhão com Cristo, nos alerta que sem andarmos na luz em verdadeira santidade de vida, estaremos mentindo se dissermos que temos tido comunhão com Deus e uns com os outros:
I João 1.6 Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade;
I João 1.7 mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e
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o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.
Os crentes devem estar unidos no mesmo edifício espiritual que está sendo erigido por Deus, em Jesus Cristo.
Finalmente, neste assunto sobre a unidade e comunhão dos crentes entre si e Deus, deve ser levado principalmente em consideração, a verdade de que em Cristo todos são membros de um só corpo espiritual que foi planejado por Deus antes da fundação do mundo, do qual nosso Senhor é a Cabeça. Há de se ver então, uma justa e íntima cooperação entre os membros, cada qual cumprindo sua função para o benefício do todo, de forma que se cumpra o propósito de Deus, e Ele seja glorificado.
“Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.” 1 Coríntios 12:12
7
Harmonia com Deus, Consigo Mesmo e com o Próximo
Somente a verdadeira harmonia com Deus, pode nos trazer também uma verdadeira harmonia para nós mesmos e para o relacionamento com o nosso próximo.
Então, quando não estamos em paz conosco, ou com aqueles a quem amamos, isto é um sinal de que a nossa comunhão com Deus foi interrompida e necessita ser restaurada, pela limpeza dos canais que obstruíram tal comunicação com Deus, no espírito.
Quando o pecado nos domina, é porque nos tem faltado uma verdadeira comunhão com Deus, porque quando isto nos falta, costumamos nos entregar a práticas e a excessos destrutivos e pecaminosos, que de nenhum modo poderiam nos dominar caso estivéssemos vivendo numa relação abençoada com o Senhor, da qual decorre sempre equilibro, segurança, harmonia e paz.
Uso abusivo das faculdades do corpo, da alma e do espírito é um sinal de se estar sendo vencido pelo que a Bíblia chama de natureza decaída no pecado, ou carne, ou velha criatura, ou velho homem, ou simplesmente pecado.
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É preciso crucificar as paixões da carne, como ordenado em Gálatas 5, e por um sincero arrependimento, se abandonando as convicções carnais, para que os princípios divinos possam ser implantados pelo Espírito Santo, em nossas mentes e corações.
Para tanto, é necessário que estejamos decididos quanto às coisas que devemos abandonar, especialmente tais convicções pessoais, cheias de justiça própria, que sejam contrárias aos princípios revelados na Palavra de Deus. E estarmos bem esclarecidos que isto não poderá ser feito a não ser pelo trabalho do Espírito Santo em nos convencer do nosso pecado.
Assim, é somente quando ocorre tal operação espiritual em nosso ser, e quando somos transportados para aquela atmosfera que procede de Deus, e que se traduz em amor, alegria, esperança e paz, que temos inclusive o nosso próprio afeto natural regulado, que poderemos ser achados vivendo em harmonia com aquilo que é bom, aprovado, espiritual, celestial e divino.
Os sentimentos de derrota, de temor do futuro, das circunstâncias adversas, de enfermidades, enfim, de tudo aquilo que costuma nos deprimir, vão embora, quando Deus nos toma pela Sua mão e nos põe de pé na Sua presença,
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manifestando o Seu agrado para conosco, por estarmos vivendo na fé em Seu Filho Jesus Cristo, a quem recorremos para busca de auxílio, para um viver à altura da nossa vocação (chamada), a saber, de sermos santos assim como Ele é santo.
Os ataques do inferno não cessarão mas não poderão produzir mais em nós, qualquer dano ou afastamento do nosso coração de Deus, ou daqueles aos quais amamos, porque o Senhor mesmo pelejará por nós e nos manterá em paz e segurança, conforme a promessa que nos faz em Sua Palavra, em Is 32.15-19, no qual lemos o seguinte:
“15 até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então, o deserto se tornará em pomar, e o pomar será tido por bosque;
16 o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no pomar.
17 O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre.
18 O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranqüilos,
19 ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.” (Is 32.15-19)
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A habitação em moradas de paz e bem seguras, e em locais quietos e tranquilos, mesmo em meio à saraivada e à destruição de bosques e cidades, consiste na nossa permanência em espírito na pessoa do próprio Senhor Jesus Cristo, em toda e qualquer circunstância, seja ela de honra ou de humilhação.
É somente na nossa real comunhão com Ele que podemos ter tal fruto de paz, segurança, sossego e tranquilidade.
Não há coração que se espante, no qual Cristo esteja de fato reinando.
Daí a importância de um sincero arrependimento, de uma verdadeira busca de perdão em Deus, quando percebemos que nos está faltando a paz, a segurança, o sossego e a tranquilidade de mente e espírito, que procedem de nosso Senhor Jesus Cristo.
Quando não estamos praticando o que nos é ordenado pela Palavra de Deus, é sinal que nos afastamos da fonte de onde procede o poder para vivermos em conformidade com a referida Palavra.
Se não somos, da Parábola do Semeador, o solo endurecido à beira do caminho, ou o solo rochoso, ou ainda o solo rodeado de espinhos, que não podem sustentar o crescimento da
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Palavra de Deus, mas se somos o solo fértil que dá frutos espirituais para o Senhor, segundo a capacidade concedida por Ele a nós, para que produzamos a cem, a sessenta ou a trinta por um, então podemos estar certos de que Deus completará o Seu trabalho de crescimento espiritual em nós, iniciado na nossa justificação e regeneração, e o concluirá através do processo da santificação.
Deste modo, se alguém está se sentindo derrotado, deprimido, impuro, descontrolado, e com falta de paz em seu coração, que lhe impede consequentemente de viver em paz com Deus e com o seu próximo, não deve ficar se acusando e nem permitir que o diabo lhe mantenha debaixo de uma acusação condenatória, que o leve a olhar para si mesmo em busca de algo bom que lhe recomende a Deus.
Não devemos cair nesta armadilha, que tem paralisado a muitos na sua busca de justiça própria.
Antes, olhemos somente para Cristo e para a Sua misericórdia, perdão e salvação.
Somente Aquele que é Forte pode nos livrar da mão do valente que é o pecado e o diabo.
Somente nosso Senhor pode nos colocar de pé na Sua presença, depois de termos nos
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humilhado debaixo da Sua potente mão, reconhecendo que nós mesmos falhamos ao cairmos em tentação, por falta de vigilância e de oração incessantes.
Uma vez restaurados pelo Senhor, devemos continuar regando diariamente o bosque do nosso coração renovado pelo Espírito Santo, com o regador da fé, da vigilância e da oração, permanecendo firmes em toda e qualquer tribulação, sabendo que Aquele que nos conduziu à segurança e à paz, é poderoso para nos manter firmes e inabaláveis enquanto estivermos caminhando fielmente com Ele, não dando lugar ao diabo e à carne, por uma firme disposição de mente e de espírito de não mais cedermos a estes nossos inimigos citados, um palmo sequer que seja, no território do nosso coração.
Assim, vivamos segundo as seguintes ordenanças bíblicas:
“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.” (Gál 5.13)
“Ora, o Senhor conduza o vosso coração ao amor de Deus e à constância de Cristo.” (II Tes 3.5)
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O Propósito da Criação da Humanidade
Como se afirma no primeiro verso do Salmo 19, de fato: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.”.
Todavia, nem os céus, nem o firmamento, proclamam qual foi o propósito de Deus na criação, e especialmente na criação do homem.
Tal propósito não está proclamado em nenhuma criatura, senão somente na revelação especial escrita que Deus fez na Bíblia.
E a revelação de tal propósito divino na criação do homem, e o modo da sua redenção do pecado, foi revelado somente na Bíblia, e daí ela ser chamada de Palavra de Deus, ou Palavra da verdade.
E todo cristão é chamado a guardar esta verdade, através do testemunho da sua própria vida transformada, e pela sua proclamação, tal como ela se encontra revelada na Bíblia.
A maior parte desta verdade revelada tem a ver com o destino eterno do homem, e com o modo pelo qual tal destino é alcançado ainda neste mundo, através da conversão a Cristo pela graça, mediante a fé.
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A história da nossa redenção é o que há na Bíblia.
Tudo ali aponta para este objetivo, e tudo o mais que seja circunstancial está atrelado ao mesmo.
Ela não se propõe portanto a descrever geografia, ciência, matemática, história natural ou qualquer ramos do conhecimento meramente epistemológico e filosófico.
Assim, quando empenhados na tarefa de pregar e ensinar o evangelho de Cristo, nos ocupamos de outros assuntos e enfoques que vão além da revelação das Escrituras, em vez de contribuir em tornar a verdade conhecida, estaremos obstruindo ou enevoando a clara mensagem da verdade evangélica, tal como se encontra registrada na Bíblia.
Deve haver então uma aplicação de aprendizagem da Palavra e de esforço, para que não suceda que ainda que em sinceridade e bem intencionados, sejamos achados nós mesmos como mais um dos grandes opositores da mensagem genuína do evangelho.
Devemos lembrar em todo o tempo que há um propósito central específico, da parte de Deus, na criação da humanidade, porque isto nos ajudará a nunca sairmos do rumo que deve apontar para o farol que é Cristo e o evangelho, oferecendo a justiça do Senhor para a cobertura
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e perdão dos pecados, de modo que haja conversões e reconciliações, por parte dos que caminham afastados de Deus.
A Bíblia tem este grande objetivo de converter e reconciliar o pecador com Deus; porque afinal, o homem foi criado para ter comunhão em amor espiritual com o Seu Criador.
Fazendo isto, estaremos encaixados no propósito eterno de Deus relativo à criação, e somente isto poderá nos manter em paz com as nossas consciências, durante a nossa peregrinação neste mundo de trevas.
Não vivamos portanto tentando reconciliar, apaziguar, coisas que são irreconciliáveis, como luz e trevas, mentira e verdade, Deus e o diabo, em prol de uma falsa paz ou unidade.
Nunca haverá comunhão entre o erro e a verdade, e por isso somos convocados por Deus a assumir uma posição definida pelos valores verdadeiros e eternos que devem ser achados em nós para que alcancemos a vida eterna.
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O Critério da Comunhão Bem-Aventurada
“Companheiro sou de todos os que te temem, e dos que guardam os teus preceitos.” (Salmo 119.63)
Pelo princípio geral de que duas pessoas não poderão caminhar juntas na mesma direção nos assuntos da vida se não houver acordo entre elas, se estabelece o critério do companheirismo.
No campo moral e espiritual este acordo será então visto quer entre aqueles que seguem o bem, ou entre aqueles que seguem o mal.
De modo que não se pode dizer que haja um companheirismo real quando alguém faz parte de um grupo de pessoas de orientação diferente da sua, apesar de pensar que assim o seja, por motivo de ingenuidade ou ignorância da condição em que se encontra.
Este não era o caso do salmista porque estava bem definido quanto àqueles com os quais compartilharia o seu coração em íntima comunhão fraterna. Ele afirma em nosso texto que tinha por companheiros somente aqueles que temessem de fato a Deus, e que
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comprovassem tal temor por guardarem os Seus mandamentos.
Na verdade, esta não foi uma decisão isolada do salmista, porque temos da parte de Deus o mandamento de não entrarmos em jugo desigual, porque não é possível e nem desejável que haja comunhão entre luz e trevas.
Os que buscam o mal andam em trevas, e os que buscam o bem, andam na luz.
De modo que é por este princípio divino que todo cristão deve nortear a sua comunhão, pois o salmista diz que daria sua destra de companhia a todos, veja bem, todos, que tivessem o temor do Senhor, ou seja que fossem genuinamente pessoas dirigidas por Deus, tal como ele. Não seria por critérios interesseiros de busca de favor, honra, ou quaisquer outros que ele se relacionaria em íntima comunhão com as pessoas, mas fosse qual fosse a condição delas, se pobres ou ricas, sábias ou ignorantes, de condição social privilegiada ou não, enfim, fosse ela qual fosse, teria comunhão indistintamente com todos aqueles que amassem ao Senhor com um coração puro e sincero como o dele. Afinal, não há outra forma de se ter comunhão real na luz, a não por esta única via de mão também única.
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Verdadeiros santos amam a Igreja de Cristo, amam todos os demais santos, independentemente de suas denominações religiosas, países, costumes, ou seja o que for. Oram pelo avanço do reino de Cristo na terra. Vivem para servir zelosamente à Igreja do Senhor onde quer que ela se encontre, ou como se encontre. Intercedem por todos seus irmãos em Cristo e não apenas por aqueles com os quais prive de um relacionamento direto, porque está perfeitamente instruído pelo Espírito Santo que este é o desejo do coração de Cristo, a saber, o da unidade da sua Igreja, na mesma fé, na mesma doutrina, no mesmo amor, no mesmo espírito.
Quem quiser ser proselitista que o seja, mas para sua própria perda e dano, porque efetivamente não é este o desejo de Jesus para os seus servos.
O verdadeiro temor a Deus ao qual se refere o salmista é de caráter servil e filial. Tememos ao Senhor por conhecer o nosso dever de servi-lo com fervor de espírito, com sabedoria e diligência, sob o poder e direção do Espírito Santo; pois sabemos que Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, que deve receber a devida honra e adoração de todos os seus servos.
Em segundo lugar, este temor é de caráter filial porque o cristão é como uma criança diante de Deus que teme ofender ou desapontar o seu pai
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amado. E ele sabe que isto não pode ser feito senão pela santificação operada pelo Espírito Santo pela aplicação da Palavra de Deus à sua vida. Por isso o salmista define aqueles que têm o temor de Deus como sendo os que guardam os Seus mandamentos. Veja bem, não apenas aqueles que reconhecem que a Palavra de Deus é a verdade, mas que a praticam de fato, buscando amoldar suas vidas às ordenanças de Deus, de modo que sejam elas o guia de todo o seu comportamento.
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“Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3.3)
O alvo de Deus na criação do homem é o de que este tenha comunhão amorosa com Ele.
Agora, como é possível haver comunhão de espíritos onde Deus quer uma coisa e o homem outra, em relação ao mesmo assunto?
O argumento liberalista aponta a importância de a vontade do homem ser respeitada por Deus, ainda que vá na contramão da Sua vontade divina.
Não é necessário muito esforço para entendermos que é justamente nisto que reside o pecado.
Não foi isto que Satanás e os anjos caídos fizeram e que foi a causa da sua queda?
Não foi isto que Adão e Eva fizeram no Éden, e que trouxe a maldição de Deus a toda a criação?
Pode haver paz na casa quando os seus habitantes andam em desacordo?
E é importante lembrar que dependemos inteiramente da graça de Deus para ter
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harmonia em nossos lares, porque podemos ficar à mercê do ataque de demônios que podem causar terríveis ruídos em nossas comunicações e indisposições em nossos corações para com aqueles aos quais amamos.
Ai de nós se não fossem repreendidos pelo poder de Cristo! Se não fosse por isto poderíamos estar permanentemente com nossos corações turbados e magoados.
Então importa estarmos em paz com Deus e sujeitos à Sua vontade, Palavra e poder, de modo que possamos contar não apenas com os Seus livramentos, mas sobretudo com o deleite da comunhão com Ele, que se estenderá a todos os Seus filhos.
Nunca devemos esquecer que temos um estado latente ruim em nossa alma, decaída no pecado, o velho homem do qual devemos nos despojar continuamente pela mortificação do pecado.
E como faremos isto sem o poder da graça de Cristo? Sem o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo?
Deus não deve estar apenas em nossa casa espiritual, a saber, no nosso corpo, que é templo do Espírito, mas deve deter o pleno governo sobre a mesma.
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Este é o único modo de vivermos para a Sua exclusiva glória, e para o louvor da glória da Sua graça (Ef 1.6).
Importa caminhar com Deus, especialmente pela razão exposta pelo apóstolo em Gálatas 5.17:
“Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gál 5.17)
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Comunhão com Cristo
“Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo?” Amós 3:3.
A expressão, “andar juntos”, é comumente usada nas Escrituras como uma representação de comunhão. “Enoque andou com Deus: e já não era; pois Deus o tomou para si.”
Comunhão, em seu sentido completo, implica em atividade. Não é meramente contemplação, é ação, e, portanto, na medida em que andar é um exercício ativo, e andar com um homem é ter comunhão com Ele, comunhão ativa com Ele, vemos como andar vem a ser a imagem da verdadeira comunhão com Cristo.
Um velho puritano, certa vez disse, “Não dizem que Enoque retornou a Deus e depois O deixou, mas que Ele andou com Deus”.
Através de toda essa jornada, Ele teve Deus como companheiro e viveu em perpétua amizade com seu criador.
Há, também, outra ideia contida no termo “andar junto”. Não é apenas atividade, mas continuidade. Logo, a verdadeira comunhão com Cristo não é um mero êxtase, mas é o
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trabalho do Espírito Santo, e se é desfrutada pela alma saudável, será algo contínuo.
Isso também leva ao progresso, pois, ao andar junto, nós não levantamos nossos pés e os abaixamos no mesmo lugar, mas seguimos adiante cada vez mais próximos do fim da nossa jornada. E aquele que tem verdadeira comunhão com Cristo progride. É verdade que Cristo pôde seguir em direção à excelência, pois Ele já atingiu a perfeição, mas quanto mais próximo chegarmos dessa perfeição, mais amizade temos com Jesus – e a menos que progridamos, a menos que busquemos ser mais semelhantes a uma criança na fé, mais instruídos em sabedoria e mais aplicados em servir – a menos que busquemos ter mais zelo e fervor, perceberemos que, em tal momento de inércia, perdemos a presença do Mestre, pois é somente seguindo ao Senhor que prosseguimos em andar com Ele. Isso, portanto, irá abrir seus olhos para ver como andar com uma pessoa é uma excelente imagem para comunhão com Ele e como o termo, “andar com Deus”, é a melhor expressão para a amizade com Deus.
Consequentemente, nosso texto implica pela sua própria forma, na ideia de que dois não podem andar juntos a menos que concordem. E isso nos ensina, portanto, que a menos que estejamos em concordância com Cristo, não
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podemos nos ater ao doce estado de comunhão com Ele.
Nós devemos, antes de mais nada, notar o acordo aqui mencionado. Devemos, em segundo lugar, tentar notar a necessidade desse acordo. E então, em terceiro, devemos convidar todos os Cristãos a buscarem esse acordo com Cristo para que possam ter completa comunhão com Ele.
Eu não estou me dirigindo tanto ao mundo exterior quanto ao interior da Igreja. Quando pregamos o evangelho da Salvação, o pregamos ao mundo. Mas a comunhão é com o Santo dos Santos! A salvação, por si só, parece ser o Santo Lugar, mas a comunhão é o Lugar Interior, que é onde há o véu, e em que ninguém a não ser os cristãos tem permissão para entrar.
I. Primeiro, então, vejamos QUAL É O ACORDO que deve existir entre o seu Senhor e você antes que possa andar com Ele. Vamos manter a figura e ver que há certas coisas necessárias para que uma pessoa possa andar com outra.
Primeiro, é certo que se quisermos andar com Cristo, devemos andar no mesmo caminho que Ele. Dois homens não podem caminhar juntos se um segue uma direção e o outro segue o caminho oposto. Se um vai para a direita e o
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outro para a esquerda, eles não podem andar juntos, embora eles possam alcançar o mesmo fim. Por seguir diferentes estradas, Eles não podem caminhar juntos a não ser que andem juntos na mesma estrada.
É fato que Eles podem conversar mesmo estando a jardas de distância, mas se um caminhar de um do lados da estrada, e o outro em outro lado, pensaríamos que a comunhão entre Eles era um tanto distante e o amor um tanto frio. Mas, quanto mais próximo eles caminharem precisamente na mesma estrada, mais Eles serão capazes de manter amizade um com o outro.
Agora, filho de Deus, embora você não possa ser salvo por suas boas obras, e sua salvação não depende de suas obras, lembre-se do que a sua comunhão depende! É impossível ser amigo de Cristo sem ser obediente a Seus mandamentos. Deixe um Cristão errar e Ele será invadido por muitas aflições. Deixe um filho de Deus abandonar o caminho de Deus, permita-lhe, como, ai de nós, muitas vezes fazemos, pulamos a cerca para o prado do Caminho Errado, e ele não terá seu Senhor para pular com ele a cerca para o prado do Caminho Errado!
Se formos obstinados e escolhermos nosso próprio caminho, devemos ir por ele sozinhos. Se, por algum prazer aparente, ou algum ganho
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fantasioso, ao invés de seguirmos a Coluna de fogo, seguirmos a vontade incerta dos nossos próprios desejos, teremos que ir sós, e nas trevas, também! Cristo irá conosco em qualquer lugar que o dever nos chamar. Se o dever nos chamar à fornalha de fogo, o Filho do Homem estará lá. Se nos levar ao covil dos leões, Ele fechará as bocas dos leões. Ele não teria ido lá com Daniel, se ele tivesse buscado, por negligência do dever, evitar a destruição ameaçadora. O Senhor não teria ido com Sadraque, Mesaque e Abdenego dentro da chama da fornalha feroz, se Eles tivessem se ajoelhado à imagem, Ele não teria ido com eles. “Se você andar contrário à mim”, diz o Senhor, “Eu andarei contrário a você”.
Aqui eu devo ressaltar o que disse, antes que seja mal compreendido. Não disse que Cristo abandona Seu povo a fim de destruí-lo – mas Ele os deixa de modo a tirar sua comunhão com Ele. Pois, novamente, eu repito que, apesar de a salvação não depender de boas obras, a comunhão possui essa dependência – e não pode ser desfrutada entre Cristo e uma alma que está cheia de pecado. Um homem pode ter muitos pecados contra Ele e ainda assim ser salvo. E muitas vezes a fragilidade e a imperfeição fragmentam-nos. Mas se estivermos vivendo em pecado; se estivermos, de qualquer forma, violando os mandamentos de Deus – o âmbito do nosso pecado será o
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âmbito da separação entre nossas almas e Cristo. O pecado pode não nos matar, mas nos fará doentes. Tirará a mão direita de Cristo de cima de nossas cabeças. Tome cuidado, portanto, cristão, em andar nos passos do seu Mestre. Empenhe-se em ser obediente à Sua Lei. Viva de forma justa, sóbria e piedosa em meio à uma torta e perversa geração. Seja como Calebe, que seguiu plenamente ao Senhor. Esforce-se em todas as formas para aprender Sua vontade e então fazê-la. Em todos os caminhos apontados pelo Senhor, prossiga em sua jornada. Lembre-se de todas as Suas ordenanças, e pratique todos os Seus preceitos. Não seja o cavalo ou a mula que não tem nenhum entendimento, cuja boca deve ser presa com freios e rédeas para que não chegue próximo a você – mas seja guiado pelo próprio olho do Senhor. Corra no caminhos de Seus mandamentos e encontrará uma estrada de alegria! Esse é o primeiro ponto – aqueles que andam juntos têm que ir pelo mesmo caminho.
Além disso, ao ir pela mesma direção, Eles têm que ir pelo mesmo motivo. Duas pessoas podem estar indo no mesmo caminho, mas suponha-se que estejam indo por razões opostas? Há um advogado andando lado a lado com um homem que vai assaltá-lo. Deixe o pobre homem saber que vai ser roubado no fim da jornada e não haverá nenhuma comunhão entre os dois! Suponha que Eles lutarão entre si – não haverá
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comunhão alguma entre Eles. Imagine os dois indo à mesma eleição, pretendendo votar em candidatos opostos – Eles não estarão propensos a manter um diálogo amigável um com o outro, apesar de estarem indo no mesmo sentido. Então, é necessário que não devamos ir apenas pela mesma estrada, mas com o mesmo motivo.
Talvez você possa perguntar: “É possível que eu vá com Cristo pela mesma estrada, mas ainda assim não com o mesmo motivo?”. Certamente, é. Pense num homem que aparenta ser tão santo como um cristão. Ele parece ser tão obediente ao Senhor como alguém que realmente O segue. Nas cerimônias, ele é o primeiro a observá-las. Nas ações de moralidade, ele as atende da forma mais escrupulosa. Mas pergunte-lhe o porquê de fazer tudo isso, e ele responde que é porque deseja salvar sua alma através disso. Imediatamente, ele e Cristo estão em desacordo! Cristo compara tal pessoa a um anticristo e eles são inimigos jurados. Você está tentando salvar a si próprio? Então, você quer ser um salvador, enquanto Cristo é o Salvador? Então você e Ele estão em inimizade! Mas se você está viajando na estrada para ser salvo pela graça, desejando manifestar sua gratidão com seus lábios e em sua vida, então você não deseja roubar a função de Rei ou Sacerdote de Cristo de qualquer dignidade. Você não deseja se colocar como outro rei em Sião. Mas se você está andando nessa estrada com uma causa
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contrária à de Cristo, você não pode manter comunhão com Ele.
Há muita abençoada comunhão com Cristo a ser desfrutada no Banquete do Senhor, mas se alguém vem à Sua mesa meramente com o pensamento de que isso o tornará bom e salvará sua alma, não existe comunhão com Cristo para Ele porque esse não é o objetivo de Cristo. E ocorre o mesmo com o batismo. Essa ordenança é um abençoado meio de comunhão com Cristo em Sua morte e sepultamento, mas se alguém deseja ser batizado, supondo que a observância da ordenança salvará sua alma, então não há comunhão alguma! Se alguém atribui mais valor ao ato (de se batizar) do que Cristo ordenou e, portanto, faz dEle um dever a cumprirmos – o momento em que o homem supõe alguma eficácia na água e no corpo sendo submergido nesse lugar – então a comunhão cessa, pois a menos que venhamos a algo com a causa de Cristo, ou com uma razão que é agradável ao Seu coração, não somos capazes de caminhar com Ele. Dois não podem andar juntos a menos que estejam em concordância, não somente na direção em que andam, mas também no objetivo por que andam nessa direção.
Novamente, duas pessoas podem andar na mesma estrada, elas podem andar com o mesmo propósito e ainda assim não serem capazes de se comunicarem a menos que
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andem no mesmo ritmo. Se uma pessoa viajar muito rápido, e outra que vive na mesma casa, ir para casa rastejando muito lentamente, talvez elas passem pelas mesmas ruas, contudo não dirão nada uma para a outra porque uma estará em casa bem antes da outra. Então devemos concordar no passo em que viajamos. Por que é que muitos cristãos não possuem amizade alguma com Jesus? É porque Eles viajam para o Céu tão devagar que o Senhor Jesus os deixa para trás! Eles são tão desinteressados, tão frios, tão indiferentes – têm tão pouco zelo, tão pouco amor – têm tão pouco desejo em glorificar a Deus que o coração veloz de Jesus não pode se conter para permanecer com eles.
“Oh” – alguém diz – “eu viajo o mais rápido que eu posso, mas eu só sou uma fraca criatura! Eu geralmente vou devagar quando vejo os outros correndo e, quando eu corro, eu vejo os outros voando”. Amados, Cristo não mede sua caminhada pela velocidade com que você vai. Se o seu desejo é sem interesse, o Senhor Jesus o deixará e viajará na sua frente – e você provavelmente irá sentir o chicote da aflição atrás de você incomodando sua alma para viajar mais rápido! John Bunyan tem um bom exemplo. Ele diz, “Se você enviar um servo para encontrar remédios e Ele for o mais rápido que puder, talvez ele conduza um cavalo ruim que não pode fazê-lo ir mais rápido. Mas se o mestre não medir o passo pelo ritmo em que o cavalo
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vai, mas por aquele que o servo quer que o cavalo vá, ele dirá: aquele homem iria mais rápido se tivesse um cavalo melhor, e já estaria de volta com os medicamentos.”
Também é assim com nossa pobre carne e sangue. É um ritmo de aflição em que não podemos ir montados sem algo tão triste de ser conduzido – mas o Senhor Jesus mede nosso andar, não pela verdadeira distância percorrida, mas pelos nossos desejos! Quando Ele nos vê esforçando e estimulando, como se fosse, em oração, puxando a rédea, e trabalhando para tornar nossa pobre carne e sangue em algo elevado com devoção e zelo, Ele aceita a vontade pela ação e continua nos acompanhando, mesmo conosco que somos tão pobres discípulos. Mas deixe nossos desejos serem frios, nos tornarmos preguiçosos, não fazemos nada por Cristo – que maravilhoso se o Senhor Jesus disser: “esse homem não observa às minhas Palavras e não pratica o que eu digo. Eu não vou cear com ele e nem Ele comigo. Eu vou dar conforto suficiente para mantê-lo vivo. Eu lhe darei alimento espiritual suficiente para salvar sua alma da verdadeira fome, mas o porei numa dieta pobre até que ele torne a Mim com pleno propósito de coração. E então o trarei para perto de Mim e lhe mostrarei Meu amor.”
Há mais uma coisa. Imagine duas pessoas viajando em uma mesma estrada, com as
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mesmas intenções e na mesma passada, mas se ainda assim, não andam juntas para manter amizade uma com a outra porque não gostam uma da outra. Onde não há amor (e que, talvez, seja o sentido completo do texto), não pode haver comunhão. A não ser que dois concordem com o coração, Eles não podem andar juntos. Você conhece alguns dos nossos excelentes amigos hiper-calvinistas. Agora, suponha que um Deles se depare com um arminiano – não se pode pensar por um instante que haverá um diálogo entre os dois sem que um irrite e abuse do outro. Suponha que um bom irmão Batista estrito fale conosco, que temos princípios mais amplos. Ele nos combaterá com armas pesadas e nos restringirão por nos conduzir ao pecado ao pecado de não estar em comunhão, tanto quanto deveríamos, todos que amam o Senhor Jesus Cristo e dar as boas vindas à mesa do Senhor a todos os que cremos que o Senhor aceitou. Mas, até onde a comunhão é exigida, o nosso irmão seria obrigado a ir para o outro lado da estrada. Deve haver, ele acha, uma pequena distinção e uma pequena diferença mantidas, para a honra de sua própria visão. E sabemos que há alguns irmãos que possuem uma peculiar grosseria de temperamento – eles parecem estar cobertos com cardos e espinhos afiados para furar e incomodar qualquer pessoa que apareça em seu caminho. Você não pode ter comunhão com eles. É impossível andar na mesma estrada com eles - para você seria
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melhor manter a paz de qualquer forma porque eles dariam má interpretação ao que você diz. É preciso que haja um acordo no coração, um acordo na opinião, de outra forma dois não podem andar juntos.
Oh, cristão, você tem concordância de coração com o Senhor Jesus? Você ama a Cristo e você O considera como algo bom? Você já buscou exaltar e falar bem de Seu nome? Você o considera o chefe de dez mil e totalmente desejável? Acha que Ele também tem uma opinião a seu respeito? Ele já te disse, “você é completamente justo; não há mancha em você”? Ele já falou palavras suaves ao seu coração que te fizeram pensar que Seu coração compassivo te conquistou? Ah, então, a comunhão é fácil entre você e seu Senhor, pois duas almas estão ligadas ao mesmo feixe de vida, e, portanto, é possível para você e Cristo caminharem juntos! Você e Ele têm a mesma opinião? As palavras de Cristo são sua doutrina? Você já foi ensinado a desistir de toda divindade que não venha de Cristo? Você pode dizer dEle, “Ele é meu único Mestre, meu único Professor na Lei e no Evangelho. Aos pés dele, como fez Maria, eu poderia sentar e receber essas palavras e crer que tudo que Ele proferiu é a Verdade de Deus”? Se sim, a comunhão entre você e Cristo é fácil, pois, quando dois concordam em pensamento, intenção, direção e afeição, podem andar juntos.
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II. O segundo ponto deveria ser A NECESSIDADE DO ACORDO.
Primeiro, Cristo não andará conosco a menos que estejamos em concordância com Ele por que se Ele o fizesse, seria um insulto à Sua própria honra. Não, mais que isso, seria uma negação de Sua própria Natureza! Cristo concordaria com o maligno? Deveria Ele fazer-se mais livre e comunicativo com aqueles que se entregam aos desejos da carne e desobedecem Seus mandamentos? Seria um desgosto se o Filho do Rei andasse de braço dado com traidores! Não deveríamos ver como um bom sinal se víssemos o mais exaltado na terra andando com o mais rebaixado. Cristo mantém boa companhia, mas se não tivermos nossos corações purificados pelo Espírito Santo, Ele absolutamente não virá a nós. Ele não permanecerá nem mesmo com Seus próprios filhos, enquanto Eles abrigarem o pecado. Convide o diabo para a sala de estar do seu coração, e Cristo não virá. Não, seria uma diminuição de Sua própria dignidade, um insulto ao Seu próprio caráter. Entregue o seu coração ao vício de algum desejo ambicioso, e então não poderá insultar o Salvador convidando-O para vir a você. Em nossas casas não convidamos duas pessoas que estão em inimizade, e não seria bem isso se Cristo viesse onde o pecado está reinando, ou sendo mimado,
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ou satisfeito? Não, irmãos e irmãs, Ele sabe que há pecado no melhor coração humano, mas, à medida que Ele é reprimido e conforme Ele vê que nosso desejo é o de nos desfazermos do pecado, Ele virá. Mas quando Ele vê o pecado sendo estimado e alimentado no lugar que deveria ser Seu próprio palácio; quando Ele vê orgulho e autossegurança abrigados lá, Ele diz: “não retornarei até que eles tenham se arrependido de seus pecados.”
Existe outra razão pela qual você não pode ter comunhão com Cristo a menos que esteja em acordo com Ele, e é porque você mesmos são incapazes disso. A não ser que sua alma esteja em concordância com Cristo. A menos que, em motivo, objetivo e vontade, você esteja, da forma mais possível, como seu Mestre, você não pode se elevar à dignidade de amizade com Ele! Amizade com Cristo é um grande privilégio – nenhum homem pode alcançá-la enquanto satisfizer propósitos maus, ou desejos baixos. O coração deve ser assimilado à semelhança de Cristo. Deve ser purificado e renovado pelo Espírito Santo, ou Ele perde suas asas e fica incapacitado de subir aos lugares altos da terra onde Cristo mostra a Seu povo o Seu amor.
Cristo não pode e não irá manter doce amizade com Seu povo a menos que estejam em harmonia com Ele. Se os cristãos se desviassem do caminho de Cristo e decaíssem de seus
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caminhos – e Cristo ainda lhes satisfizesse com festas de amor – eles não perceberiam seus pecados e continuariam neles. Deixe um pai tolerar o filho desviado com toda a ostentação de sua afeição. Deixe-o pôr de lado a correção. Deixe-o nunca usar uma palavra severa, mas tratar o pecador com o mesmo amor para com outro que é respeitador e obediente – como esperar que o filho abandone seus erros? Se Cristo desse o mesmo amor, as mesmas bênçãos no pecado e depois do pecado, como Ele dá no cumprimento do dever, Seu povo dificilmente reconheceria seus pecados e iria continuar neles. Mas da mesma forma que o Senhor se agrada em causar dor pelos sintomas de doença, assim como uma dor no corpo torna-se um indicador de algo errado conosco, Ele faz da ausência da sua própria amizade o sintoma pelo qual podemos saber que há algo errado com a nossa alma que é hostil a Ele – algo que precisa ser expulso antes que a santa Pomba venha, com asas de conforto, para habitar nos nossos corações. “Podem dois caminhar juntos, sem concordância?”. Não. Isso é impossível.
III. Agora, em terceiro lugar, Eu gostaria de convencer todos os cristãos a BUSCAREM ESSE ACORDO COM CRISTO.
Amados, para que vocês possam estar em acordo com Cristo, devo primeiro lhes lembrar
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que a perpétua habitação do Espírito Santo deve estar com vocês. A menos que o mesmo Espírito que habita em Cristo habite em vocês, seu acordo não poderá jamais alcançar uma altura de forma a admitir profundidade ou proximidade de união. Tenham cuidado em continuamente buscar a unção que vem do alto, na habitação do Santo de Israel! Na medida em que seu coração for revestido pela influência Divina e batizado pelo santo fogo do Espírito – nessa proporção sua alma estará em concordância com Cristo e sua união será verdadeira, íntima e permanente. Tenham cuidado nisso.
E então, prosseguindo, sob essa Divina influência, observe bem todos os seus motivos. Não procure ter algum objetivo para conseguir glória para si próprio, ou honra para os seus companheiros. Cuide para que tudo que você fizer, seja feito com uma única visão da honra de seu Mestre, pois, a não ser que Sua visão seja única, seu corpo será cheio de trevas. Se você verá o brilho da face de seu Senhor, você deve buscar a glória dEle e somente dEle.
Então, se você vai ter união com Cristo, tome cuidado, por conseguinte, em fazer tudo em dependência dEle, pois se, nos afazeres da sua alma, você trabalhar para si próprio, Cristo estará em inimizade com você. Não busque somente voltar-se para a Ele por direção, mas
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também por ajuda. E olhe para Ele em suas orações, em sua pregação, no seu ouvir e em tudo, pois então Cristo e sua alma concordarão e você terá amizade com Ele.
E, por último, esteja continuamente querendo mais santidade. Nunca se contente com o que você é. Busque crescimento. Busque ser mais e mais como Cristo! E então, quando esse desejo por santidade for o mais forte, você terá o mesmo desejo que Cristo, pois o desejo dEle é que você seja santo, assim como Ele é. E seu mandamento é, “seja, portanto, perfeito, como seu Pai que está nos Céus é perfeito.” E quando seus desejos forem os de Cristo, então será possível andar com Ele, mas não até então!
Eu desejo ter uma igreja em completo acordo com o Senhor Jesus Cristo, pois essa seria uma igreja contra a qual as portas do inferno não prevaleceriam! Se uma igreja é meramente fundada por um homem, o homem irá morrer e a igreja perecerá. Se uma doutrina é apenas ensinada por um homem e você a receber em sua própria autoridade, a autoridade dele passará como todas as coisas terrenas. Mas, se for de Deus, ai de quem combatê-la, porque nunca poderão prevalecer contra Ele! Ai daquele que se lançar contra essa pedra, pois será feito em pedaços! E se for rolada sobre ele, o reduzirá a pó! Sejamos claros que uma igreja deve ser uma igreja de Deus em suas doutrinas,
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em suas ordenanças, em oração e louvor – e nós devemos saber que ela deve ser como a rocha que lemos em Daniel, “cortada do monte sem auxílio das mãos.” Ninguém será capaz de quebrá-la, mas ela fará todos os seus opositores em pedaços e encherá a terra!
Agora há alguns amigos que estão prestes a andar com Cristo rumo ao batistério. Podem dois andar juntos a menos que concordem? Você pode entrar nesse tanque, mas não pode trazer Cristo com você a menos que esteja em acordo com Ele. Se você vier sem acordo com Cristo, estará cometendo um grande erro a respeito disso em sua vida, ou então não andará mais com Ele e estará ofendido com Ele.
Lembrem, irmãos e irmãs, a menos que dois corações estejam em concordância, a menos que Cristo e seu coração sejam feitos um, vocês terminarão a amizade um com outro antes do tempo! Cristo não mais ficará em paz com você, nem você estará em paz com Cristo. Sua profissão de fé não terá duração, afinal, a menos que seja verdadeira e real – a expressão do íntimo do coração. Eu oro para que sua profissão possa ser sincera hoje, que você possa testificar ao mundo um verdadeiro e completo Salvador de acordo com seu Senhor e Mestre. E se você não estiver em acordo com Cristo, eu te faço uma súplica, que apesar de ter ido tão longe, não vá mais longe! Não entre nesse tanque de
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batismo até que você verdadeiramente esteja em concordância com Cristo! Eu te ordeno, em nome do Deus vivo, que assim como você terá que permanecer perante Seu tribunal no fim, não seja hipócrita! Seja sincero, pois, se você se entregar de forma não completa a Cristo, você está fazendo como aqueles que vêm indignamente à Ceia do Senhor – que comem e bebem condenação para suas próprias almas – porque aquele que é mergulhado no tanque batismal como um hipócrita, é imerso na sua própria condenação!
Mas, humildes seguidores de Jesus, vocês têm nos testificado sua amizade na fé! Não tenham medo, agora, de confessá-la diante dos homens – e que Deus possa confirmar seus nomes, afinal, entre os seguidores do Cordeiro, pela causa de Seu querido Filho! Amém.
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A Unidade Entre os Cristãos é Obtida por Esforço
Os cristãos devem se esforçar para preservar, pelo Espírito, a unidade da fé, no vínculo paz, de maneira prática em suas vidas.
Para este propósito nosso Senhor nos impõe a renúncia ao ego e a tudo quanto temos (Lc 14.26,33), porque sem isto não é possível vermos os nossos irmãos como partes muito importantes não somente para as nossas vidas, como para a Igreja como um todo.
O primeiro passo para a unidade é a humildade; pois sem ela não haverá nenhuma mansidão, nenhuma paciência, longanimidade; e sem estas não será possível qualquer unidade.
Quando prevalece o orgulho, a justiça própria, a vanglória, não pode existir comunhão no espírito.
O orgulho quebra a paz, e produz toda sorte de dano.
A humildade e a mansidão restabelecem a paz, e a preservam.
Pelo orgulho vem a dissensão e a contenda; mas pela humildade vem o amor.
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Agora, como dissemos antes, isto deve provir do Espírito. Estas virtudes são celestiais e não se encontram na nossa velha natureza.
Elas fazem parte da nova natureza que recebemos do alto pelo Espírito Santo, mas devem ser buscadas e exercitadas para que se manifestem no nosso viver.
Daí decorre a necessidade que temos de andar continuamente no Espírito, porque é dEle que provêm estas virtudes, porque fazem parte do Seu fruto.
Por conseguinte, se os cristãos não estiverem andando no Espírito eles não podem ter esta unidade e paz. Eles não serão achados num só querer e sentir quando se reunirem para adorar a Deus, senão ainda ocupados com as coisas terrenas que dominam a sua mente carnal.
Por isso somos convocados a nos esforçar para manter a unidade do Espírito no vínculo da paz. Este esforço indica que teremos que agir contra a inclinação natural de nossa velha natureza. Teremos que renunciar à nossa própria vontade, ao nosso ego, de maneira que sejamos dirigidos pelo Espírito.
Daí se entende a razão de Jesus ter dito que deveríamos tomar a nossa cruz, negar-nos a nós mesmos para poder segui-lO.
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Cristãos que vão para os locais de adoração não estando dispostos a renunciar ao ego, jamais poderão contribuir portanto para que se promova esta unidade espiritual que é tão desejada por Deus e que dá à Igreja poder para fazer a Sua obra e vontade.
É onde há unidade espiritual entre os irmãos que Deus derrama o óleo da unção do Espírito, e é ali que Ele decreta a Sua bênção.
Outro fator muito importante para esta unidade espiritual é que se conheça a sã doutrina e que esta seja efetivamente praticada, e quando muito seja aceita por todos, e que seja reconhecido em que temos sido faltosos, para confessá-lo e buscar corrigi-lo com sinceridade, no Senhor, para que sejamos confirmados em toda boa palavra e obra.
Agir contra a doutrina é o que caracteriza o verdadeiro espírito de divisão no corpo de Cristo, pois isto impede a sua unidade.
Sempre haverá aquele sentimento de quebra, de vazio espiritual, por causa dos cristãos carnais que não admitem submeter suas vontades à do Espírito Santo e à Palavra de Deus.
Eles continuarão resistindo ao Senhor e à Sua Palavra por causa das suas próprias imaginações que eles geraram por suas próprias
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convicções, e pela falta de revelação da verdade aos seus espíritos pelo Espírito Santo, por causa da rebeldia deles, pois o Senhor não pode instruir o coração rebelde, e assim isto trará juízos não somente a eles próprios, como ao avanço do reino de Deus, através da unidade da Igreja.
Estas resistências devem ser demolidas, e todo pensamento deve ser trazido cativo à obediência de Cristo, para que se possa ver uma obra de Deus sendo efetivamente realizada na nossa congregação (reunião, ajuntamento).
Lutero disse que gastou quinze anos para conduzir a congregação que dirigia à unidade da fé e da doutrina do evangelho, quebrando as resistências que existiam, pacientemente, ao longo dos anos, mas reconhecia, que por falta de vigilância e cuidado, isto poderia ser perdido em pouco tempo, por se acatar algum tipo de ensino contrário às ordenanças de Cristo.
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Alegria e Paz na Comunhão com Jesus
Quando descobrimos quem é de fato o Senhor Jesus e o quanto Ele nos ama e cuida de nós, a consequência natural é que nos regozijaremos sempre nEle, e manifestaremos isto com a nossa adoração e louvor voluntários, com alegria de coração.
Quando crescemos no conhecimento da graça e de Jesus, e passamos a conhecer cada vez melhor, qual é o caráter, amoroso, justo e bondoso do nosso Rei, nada deste mundo poderá nos tornar insatisfeitos.
Tudo suportaremos por amor a Ele com alegria em nossos corações, não somente como expressão de nossa gratidão, mas, sobretudo, porque será impossível viver de outro modo, estando permanentemente em espírito diante da Sua Grandeza e Majestade.
Ainda que sejamos contristados por breve tempo com muitas aflições, estas não podem roubar a alegria que temos na nossa comunhão com o Senhor.
Podemos dizer juntamente com o apóstolo Paulo, as seguintes palavras:
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"2Co 4:8 Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados;
2Co 4:9 perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;
2Co 4:10 levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo."
Esta alegria sobrenatural, que é fruto do Espírito, habita em nosso coração de tal maneira que podemos ser achados contentes em toda e qualquer circunstância.
Nós podemos aprender isto, assim como Paulo havia aprendido (Fp 4.11).
A alegria e coroa dos ministros do evangelho é ver que seus amados irmãos, que estão sob o seu cuidado permanecem firmes no Senhor, perseverando na fé em meio às tribulações que têm que enfrentar neste mundo, com a plena convicção de que por maiores e duradouras que sejam estas tribulações, pode ser dito delas que são leves e passageiras, comparadas com o peso de glória a ser revelado àqueles que perseveram (2 Cor 4.16,17).
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Agora, esta alegria que os crentes têm em Cristo não é uma alegria carnal, ou seja, oriunda da carne, que tenha seus motivos na carne. É alegria puramente espiritual.
Nem mesmo as nossas presentes necessidades neste mundo são motivo para nos roubar esta alegria espiritual no Senhor, porque devemos aprender a não andar ansiosos por coisa alguma; ao mesmo tempo em que devemos fazer conhecidos os nossos pedidos diante de Deus por meio da oração e da súplica, sendo-Lhe gratos pelas respostas que nos der, ainda que seja um “não”, ou um “espere”; porque é somente assim, reconhecendo Sua soberania, que a Sua paz poderá guardar nosso coração e nosso pensamento, em nossa comunhão com Cristo Jesus (Fp 4.6).
Como esta alegria é fruto da graça, onde ela estiver presente também será achada a paz espiritual que é outro fruto da graça. Esta paz não significa ausência de problemas ou a realização de todas as nossas aspirações.
A paz que Deus nos dá é sobrenatural. Ela não pode ser explicada pela razão, porque excede todo o entendimento.
É paz comunicada diretamente ao nosso espírito, pelo Espírito de Deus.
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Ela não é o fruto dos nossos pensamentos.
É paz no meio do conflito, a qual nos visita muitas vezes inesperadamente; vinda do alto, como resposta à nossa oração e comunhão com o Senhor, e permanece em nós ao lado da gratidão, da alegria e do amor, enquanto permanecermos nesta comunhão.
Deste modo, é requerida uma real santificação de nossas vidas para a preservação desta alegria, paz e comunhão com Deus.
Sem santificação não podemos ter o nosso pensamento fixado naquilo que é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama e que possua virtude e louvor (Fp 4.8).
Não admira portanto que aqueles que vivem em comunhão mental com coisas que sejam abomináveis ao Senhor, se queixem de terem falta de alegria e paz espiritual.
Eles poderão até mesmo exibir um comportamento alegre, mas será uma alegria oriunda da carne, e não do Espírito Santo, cujo fruto é também alegria.
Deus é inteiramente santo e justo.
Ele é luz perfeita. Ele é perfeito amor e bondade.
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Então, que comunhão poderíamos ter com Ele, nos agradando das coisas que são das trevas e rejeitando aquelas que são da luz?
A nossa mente corrompida pelo pecado original deve ser renovada pelo Espírito Santo, com a Palavra de Deus e as coisas que são aprovadas, a saber, que são verdadeiras, honestas, justas, puras, amáveis, e que possuam boa fama, virtude e louvor.
Por isso não é possível amar o mundo, as coisas reprovadas que há no mundo, e ter ao mesmo tempo, o amor e a aprovação de Deus.
Não há um caminho fácil para a paz.
Não há um caminho fácil para a consolação do Espírito Santo, porque Ele sempre santificará primeiro, e depois consolará.
Não se pode contar com Sua consolação enquanto permanecemos deliberadamente na prática do pecado, amando as trevas, em vez da luz.
Mas todo aquele que se consagrar ao Senhor, sujeitando-se à disciplina do Espírito Santo, poderá dizer junto com o apóstolo: “posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.13).
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Vencer o Egoísmo para Viver em Unidade
Nenhum cristão deve buscar o que é somente do seu interesse, mas, sobretudo o que é do interesse dos outros.
Se não agimos deste modo, ficamos privados da graça, porque Deus somente a concede, à Igreja que vive em unidade. Sem a graça não podemos ficar de pé, permanecendo na presença de Deus.
O amor em unidade é um dever.
E esta unidade não é de caráter carnal, mas espiritual, segundo a fé e a sã doutrina.
Cristo ordena aos Seus discípulos, que eles devem se amar com o mesmo amor com o qual Ele os tem amado.
As características deste amor estão destacadas em I Cor 13. Ali podemos ver que não é um amor que busca o seu interesse, que não se irrita facilmente, que é paciente, benigno, sofredor, longânimo, que não se alegra com a injustiça, mas com a verdade. Enfim, é um amor sobrenatural, o amor conforme ele se encontra na essência de Deus, e que nos é comunicado pela ação da graça e poder do Espírito Santo em nossa mente e coração.
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E, quão difícil é manter o amor fraternal na unidade do Espírito Santo, porque demanda completa diligência da parte dos cristãos na luta contra a natureza carnal pecaminosa, o diabo e o fascínio do mundo.
Se alguém pretende fazer a vontade de Deus terá obrigatoriamente que renunciar ao que o mundo lhe oferece, e que é contrário ao modo de vida que nos foi determinado por Cristo.
Nós temos que amar o nosso próximo como a nós mesmos, sabendo que nós, tanto quanto eles estávamos destituídos da graça de Jesus, em completa situação de miséria e debaixo de uma condenação eterna.
Importa fazer valer, sobretudo a misericórdia e a humildade em nosso testemunho de vida.
Jesus nos deixou o exemplo supremo disto, para que seguíssemos Seus passos. Se o fizermos, somos bem-aventurados e temos a aprovação de Deus.
Os que são de Cristo devem viver como Cristo viveu neste mundo, deixando-nos Seu exemplo para ser seguido.
Cristo era totalmente manso e humilde de coração, como Ele próprio afirma em Mt 11.29.
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Em tudo o que fez nunca estava buscando ser servido, mas servir; nunca estava buscando o que era do Seu interesse, mas veio buscar e salvar o que se havia perdido, como se vê em Lc 19.10. Tão intenso foi Seu serviço em favor dos homens, que não tinha sequer onde reclinar Sua cabeça, e raramente tirava tempo para descansar.
Ele se gastou completamente por amor aos pecadores, até à morte na cruz.
E estando nós crucificados juntamente com Ele, é exigido de nós que vivamos com o mesmo amor.
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A União Indissolúvel do Crente com Cristo
"1 Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.
2 Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte." (Romanos 8.1,2)
A libertação encontrada pelo crente em Jesus, em relação à condenação, ao pecado e à morte, é afirmada pelo apóstolo como uma verdade absoluta e final na vida de todos aqueles que foram justificados pela fé e que por conseguinte foram regenerados pelo Espírito Santo, ou seja, tornados novas criaturas.
Não é particularmente Paulo que vê o crente nesta condição, mas o próprio Deus que revelou a ele esta condição firme e segura na qual todo cristão autêntico se encontra em sua união vital com Jesus Cristo.
Muitos indagam entretanto, por que teria então o apóstolo citado a condição de desventura citada por ele na parte final do sétimo capítulo?
Não podemos esquecer que a condição ali apontada por ele não se refere a qualquer tipo de
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instabilidade no edifício espiritual que está sendo erigido com os cristãos como sendo pedras vivas sobre o alicerce que é Jesus Cristo. Até mesmo o conflito interior da luta contra o pecado não pode mais separar o crente do Senhor que o resgatou e o tornou participante da Sua própria vida, e, na verdade, esta luta está polindo o crente como pedra do edifício.
Nós vimos o apóstolo afirmando esta firmeza do crente em Jesus ao longo de toda esta epístola, e a título de recordação, leiamos as suas palavras em Rom 6.17-22, onde ele reafirma esta plena condição de liberdade alcançada pelo crente por meio da simples fé em Jesus.
"Rom 6:17 Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;
Rom 6:18 e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.
Rom 6:19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Assim como oferecestes os vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação.
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Rom 6:20 Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça.
Rom 6:21 Naquele tempo, que resultados colhestes? Somente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte.
Rom 6:22 Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna;"
Veja que é destacada uma condição presente de liberdade total do crente, por estar em Cristo, contrastada com a de escravidão ao pecado no passado.
Não há qualquer sombra de dúvida no apóstolo e muito menos nos Senhor Jesus, quanto ao fato de que os crentes já não são mais escravos do pecado, e nem de Satanás, porque Jesus os livrou perfeita e completamente.
Mas alguém indagará: "Por que então se vê tanto mau testemunho mesmo nas vidas de crentes autênticos - pessoas que foram justificadas e regeneradas pelo Espírito?"
Isto decorre não por que perderam a filiação a Deus, ou por que deixaram de ter o Espírito, ou ainda por que voltaram à sua velha condição anterior de pessoas inteiramente carnais, deixando de ser novas criaturas em Cristo.
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O que sucede é que deixaram de andar do modo digno da sua vocação, abandonaram a comunhão com o Senhor, negligenciaram os deveres espirituais da vigilância, da oração e da meditação da Palavra e do empenho na obra de Deus.
Voltaram a ser, caso nunca tenham deixado de ser, pavios fumegantes e canas rachadas, mas mesmo assim não serão lançados fora pelo Seu Senhor, que há de completar a boa obra neles, ainda que seja no céu.
Ele os corrigirá, disciplinará, mas não os rejeitará.
Afinal, não foram escolhidos por Deus por algum mérito que houvesse neles, ou algo que Lhe agradasse, mas simplesmente o Senhor lhes escolheu porque lhes amou primeiro antes mesmo da fundação do mundo.
Todavia, uma vez tendo sido feitos filhos de Deus não poderão agradá-Lo caso não vivam do modo digno da sua eleição, que foi para a santificação no Espírito (I Pedro 1.2).
O justo (aquele que foi justificado) recebeu a vida de Jesus pela fé, e agora importa que continue caminhando por fé e não por vista.
Deve se despojar das obras da carne, uma vez que o velho homem recebeu a sentença de
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morte na cruz do Calvário, quando morreu juntamente com Cristo.
Uma pessoa que foi libertada não deve viver mais como um escravo do seu antigo senhor, a saber, do pecado e do diabo.
Quando Jesus disse que somente Ele poderia nos libertar dessa escravidão, ele enfatizou com um "verdadeiramente" - "verdadeiramente sereis livres", ou seja, uma liberdade efetiva, real, consumada, para um casamento com Cristo que é de caráter indissolúvel, e que nem mesmo a morte pode separar.
Nosso Senhor também afirmou em João 3.6: "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito."
Foi daqui que o apóstolo Paulo retirou o seu ensino que encontramos neste oitavo capítulo de Romanos, quando diz que aos olhos de Deus os crentes são vistos como espirituais, e não mais como carnais, ou seja, eles nasceram da carne, de seus pais, mas em Cristo, nasceram do Espírito, e são espírito vivificado, pronto para responder à demanda de Deus em ser adorado em espírito e em verdade. Todavia, não podem manifestar esta vida separados da comunhão com Jesus. É nEle, que todo o propósito de Deus é cumprido, de modo que sem Ele, nada podemos fazer.
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Tudo isto está declarado pelo apóstolo em Rom 8.4-17. Releia este texto, e note como ele se refere ao fato inconteste de que o crente não anda segundo a carne, como aqueles que não foram justificados (v.4), e estes últimos caminham sem Deus no mundo porque podem somente se inclinar para as coisas da carne, e não para as que são do Espírito (v.5) - e o resultado desta inclinação que o ímpio tem para carne é inimizade contra Deus e morte espiritual, mas a que o crente tem no Espírito é para a vida eterna e para a paz, reconciliação com Deus (v.6).
Deus criou o homem para ser espiritual e não carnal - leia Gên 6.3. Mas é somente em Cristo que alguém pode se tornar espiritual, e como todos os crentes estão em Cristo, e todos são de Cristo e têm a habitação do Espírito Santo, eles têm o seu espírito vivificado porque foram justificados com a justiça de Jesus (v. 7-11).
Como toda a nossa vida espiritual tanto em crescimento e manifestação depende inteiramente do nosso caminhar no Espírito, é evidente que quando fazemos concessão ao pecado e andamos segundo o mundo, não há de se ver um espírito cheio da vida abundante de Jesus, senão um espírito que, ainda que tenha sido vivificado no dia da conversão, encontra-se agora como morto, insensível e incapacitado para manifestar a vida que é do céu, condição
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esta, entretanto, que pode ser revertida pela confissão e pelo arrependimento, ainda que repetidamente.
Mas ainda que isto seja verdadeiro, nem sequer é a isto que Paulo se refere em primeira mão no verso 13, no qual afirma que se vivermos segundo a carne, morreremos, mas se pelo Espírito, mortificarmos as obras do corpo, viveremos. Ora, o argumento segue também aqui neste ponto tudo o que ele disse anteriormente e que continuará afirmando, até culminar com o brado de triunfo e louvor do final deste capítulo quando diz que nada mais poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, e o motivo disto é porque fomos justificados e unidos a Ele para sempre, como membros do Seu corpo, sendo participantes da Sua própria vida.
Então estes que tiveram o seu velho homem crucificado, e que pelo Espírito tiveram os feitos do corpo mortificados na regeneração, são indubitavelmente todos aqueles que creram em Jesus e que pela fé nEle se tornaram filhos de Deus.
De modo que logo a seguir, a partir do verso 14 até o 17, o apóstolo confirma o que acabamos de expor.
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Até mesmo a citação dos versículos 18 a 28, que pode parecer à primeira vista estar fora do contexto dos argumentos que Paulo apresentou anteriormente, na verdade é uma confirmação de tudo o que havia dito, porque nem mesmo as aflições presentes, nem o gemido da criação existem como uma forma de oposição ao plano de Deus de ter muitos filhos semelhantes a Cristo. Tudo o que há de tribulação e aflição no mundo coopera para a consumação deste Seu propósito eterno, porque é justamente por estas provações que somos aperfeiçoados para sermos à imagem e semelhança de Jesus.
E para suportar e vencer estas provações temos a ajuda do Espírito Santo que nos fortalece para mantermos uma vida de vigilância e oração, de modo que possamos viver de modo agradável a Deus crescendo na graça e no conhecimento de Jesus.
Daí Paulo ter dito:
"28 E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito."
Paulo chamou os crentes de Corinto de carnais, porque eram bebês em Cristo que não se desenvolviam em seu crescimento espiritual. Não devemos portanto entender essa forma
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dele se expressar naquela epístola como algum tipo de indicação que eles não eram de Cristo, ou que não tinham o Espírito.
Eles foram assim chamados porque estavam andando de modo desordenado, mas daquele mal foram curados pelo mesmo remédio que nós também somos, porque se arrependeram e retomaram a caminhada da vida cristã do modo pelo qual deve ser retomada, a saber por um andar no Espírito, em comunhão com Cristo, observando e guardando os Seus mandamentos, por meio da fé e graça que Ele concede àqueles que se aproximam dEle com um coração sincero.
Assim, ao chamar, em certa ocasião, os crentes coríntios de carnais, o que Paulo queria dizer era que eles estavam no Espírito, mas viviam como os que vivem exclusivamente na carne, a saber, aqueles que não conhecem a Jesus.
E como sucedeu a eles, ocorre com muitos na Igreja, em razão da luta constante entre o Espírito e a carne, pois há em todo crente duas naturezas, uma terrena e outra celestial, uma velha e outra nova, uma carnal e outra espiritual, daí a existência do conflito.
Então, para o propósito de aperfeiçoamento dos santos Deus concedeu dons e ministérios pelo
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Espírito Santo, à Igreja, como se vê em I Cor 12, 14 e Ef 4.
Se o cristão permanecer vivendo de modo carnal Ele não poderá manifestar a vida e paz do Espírito Santo, a qual só pode ser conhecida e experimentada, caso se ande no Espírito.
Entretanto, por ter a habitação do Espírito ele já alcançou a condição de vida e paz, e foi livrado para sempre da condenação de morte que pairava sobre ele antes da sua conversão.
John Owen escreveu um tratado intitulado A Graça e o Dever de Ser Espiritual. O título é muito apropriado porque esta condição de ser espiritual é recebida exclusivamente pela graça e será mantida para sempre, todavia a sua manifestação na nossa viva cotidiana é dependente da nossa obediência ao Senhor e aos Seus mandamentos, por se viver na fé e andando no Espírito.
Foi para isto mesmo que fomos predestinados por Deus. De modo que nos chamou, pelo Espírito Santo, para nos convertermos e sermos adotados como Seus filhos, por meio da justificação, com vistas à nossa glorificação futura.
Deus não poupou ao seu próprio Filho para que Ele morresse por nós. Então como haveria nEle
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alguma possível intenção de vir a anular tudo o que nos tem prometido dar juntamente com Cristo, por causa da nossa união com Ele?
Como dissemos anteriormente fomos feitos co-herdeiros com Ele e isto significa que tudo o que é de Cristo é também nosso por direito concedido, prometido e jurado pelo Pai.
Então quem poderá ser contra o cristão de maneira a impedir que se cumpra nele o propósito de Deus?
Por que então viverá o cristão de modo diferente deste propósito glorioso que lhe foi concedido pela graça do Senhor?
Ele não deve dar ouvido à carne, voltaria Paulo a dizer no desenvolvimento destes argumentos verdadeiros que está apresentando desde o verso 30; mas seguir sempre a direção e instrução do Espírito Santo.
Ainda que esteja num corpo carnal que enferma e morrerá, contudo vive pelo espírito e no Espírito.
Paulo começou este oitavo capítulo dizendo que já não há nenhuma condenação para os que são de Jesus, e que andam segundo o Espírito Santo, e agora ele afirmou nos versos 33 e 34, que por causa desta justificação pela graça, mediante a fé, ninguém pode sustentar qualquer tipo de
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acusação contra os escolhidos de Deus que prevaleça no juízo vindouro contra eles, porque foram justificados.
Já não há de fato nenhuma condenação eterna para os cristãos, e nem o próprio Deus os condenará, porque Cristo carregou sobre Si os pecados daqueles aos quais justificou.
E é Ele mesmo que intercede pelos santos à direita de Deus, para que continue operando eficazmente naqueles que foram transformados em Seus filhos, para que sejam santificados.
É por causa desta intercessão de Cristo que o cristão persevera, porque se fosse deixado entregue a si mesmo, não poderia prosseguir adiante por causa do pecado que ainda opera na carne.
De maneira que necessita do Espírito Santo e da intercessão de Cristo para que o pecado seja vencido, e seja capacitado com poder, para viver segundo o homem interior, no espírito, e não segundo a carne.
O nosso Grande Sumo Sacerdote, nosso Senhor Jesus Cristo, intercede por nós dia e noite e tem cumprido a promessa de estar conosco todos os dias até a consumação dos séculos, e é esta a razão de não desfalecermos no meio da nossa jornada rumo à nossa pátria celestial.
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De tal ordem é a força deste poder operante da graça de Jesus no cristão que nada poderá separá-lo do Seu amor.
Nenhuma tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada poderão consegui-lo, porque o caráter desta união é indissolúvel; porque tem o mesmo caráter matrimonial.
A fé vence o mundo, e todas as coisas que se levantam contra o conhecimento de Deus, em Cristo. A fé que salvou o cristão é um dom de Deus, e sendo assim é algo indestrutível.
Ela não pode ser vencida por nenhuma tribulação, seja interna ou externa.
Nada do que sentimos ou sofremos poderá nos separar de Cristo se pertencemos de fato a Ele, por termos sido, justificados e regenerados.
Deus trabalhará em nós através de todas estas coisas que no presente nos parecem adversas, mas que no fundo estão contribuindo para o nosso bem, de maneira que sejamos aperfeiçoados em santificação e amor; o que nos fará experimentar graus cada vez maiores da plenitude que há em Cristo.
É portanto por meio de todas estas coisas que os cristãos são mais do que vencedores por meio do amor de Jesus.

Edition Notes

Published in
Rio de Janeiro, Brasil

The Physical Object

Format
Paperback
Pagination
ix, 6p.
Number of pages
66
Dimensions
21 x 14,8 x 0,7 inches
Weight
106 grams

ID Numbers

Open Library
OL25937716M

Work Description

Religião cristã

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