A Verdade que Pilatos não Conheceu

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Last edited by Silvio Dutra
August 24, 2016 | History

A Verdade que Pilatos não Conheceu

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Aos muitos Pilatos, nosso Senhor Jesus Cristo continua respondendo com total silêncio, à pergunta deles sobre o que é a verdade.
Há um grande motivo para este silêncio, uma vez que seria completamente inútil tentar explicar-lhes o que seja a verdade, uma vez que esta só pode ser conhecida quando vivida.
A verdade moral e espiritual é muito mais do que a simples realidade objetiva, ou até mesmo subjetiva, pois não há verdade no mal, pois é uma falsidade, o oposto da verdade, já que esta sempre está conformada ao caráter de Deus, que não é apenas a fonte de toda verdade moral e espiritual, como a própria verdade.
Daí Jesus ter afirmado ser a verdade, o caminho e a vida. É somente por conhecê-Lo pessoalmente, que se chega a conhecer a verdade.
E como já dissemos antes, importa vivermos nEle, para que o nosso conhecimento da verdade, que nos liberta da ignorância e da falsidade moral e espiritual, possa ser aumentado progressivamente em nós em graus cada vez maiores.

Publish Date
Publisher
Silvio Dutra
Language
Portuguese
Pages
71

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Edition Availability
Cover of: A Verdade que Pilatos não Conheceu
A Verdade que Pilatos não Conheceu
2016, Silvio Dutra
Paperback in Portuguese

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Book Details


Table of Contents

A Verdade que Pilatos Não Conheceu
Silvio Dutra
JAN/2016
2
A474
Alves, Silvio Dutra
A verdade que Pilatos não conheceu./
Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro,
2016.
70p.; 14,8x21cm
1. Jesus. 2. Verdade. 3. Evangelho.
I. Título.
CDD 241
3
Sumário
O Conhecimento da Verdade que Liberta
4
A Verdade Viva
7
Verdade, Sinceridade e Honestidade
9
O Genuíno Conhecimento da Verdade
13
Como a Verdade de Deus é Autenticada?
17
Veracidade
20
Verdade
29
A Verdade Que Conduz à Vida Eterna
32
Jesus, o Rei da Verdade
35
O Bom Combate da Fé é Sobretudo Luta pela Verdade
66
4
O Conhecimento da Verdade que Liberta
Deus havia dado, cerca de 750 anos antes de Cristo, a seguinte revelação ao profeta Oséias:
“Pois misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos.” (Os 6:6)
Então veio nosso Senhor em carne, a este mundo, e não somente confirmou tal revelação, como acrescentou pontos de esclarecimento para entendermos o seu significado, em duas passagens do evangelho de Mateus:
“Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento.” (Mt 9:13)
“Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes.” (Mt 12:7)
Veja que em Mt 9.13 nosso Senhor declara que o propósito expresso, relacionado à vontade de Deus, é o uso da misericórdia, e que esta misericórdia por Ele referida consiste na sua chamada de pecadores ao arrependimento.
5
E que sem a apresentação do que significa esta misericórdia, e convite aos pecadores, por meio dos seus ministros, e sem o atendimento dos que são convidados, ao chamado da misericórdia, de nada adianta apresentar ofertas, culto, sacrifícios religiosos para tentar agradá-lo.
E na segunda passagem de Mt 12.7, em seu confronto com a justiça própria dos escribas e fariseus, nosso Senhor lhes disse que eles haviam condenado inocentes, por conta de não entenderem o significado desta expressão que Deus lhes havia falado por intermédio do profeta Oséias: “MISERICÓRDIA QUERO”.
Mas, afinal, pecadores são inocentes aos olhos de Deus?
O que Jesus pretendia então, nos ensinar com o que disse?
O motivo de os fariseus e escribas não terem entendido, é o mesmo pelo qual também não entendemos, se não formos instruídos por revelação do Espírito Santo, quanto ao seu significado.
A carne, ou seja, o homem natural não pode compreender em que base a justiça divina opera com os pecadores.
6
Em primeiro lugar, não há culpa para imputação de penalidade, nesta dispensação da graça, na qual Deus decidiu usar de longanimidade e misericórdia para com todos.
A ninguém está o Senhor condenando, desde que Jesus veio ao mundo, porque a base da condenação, não está sendo levada em conta em razão daquilo que somos (pecadores com uma natureza que não corresponde em plenitude à natureza santa de Deus).
É de tal ordem a extensão da graça que Deus nos está oferecendo em Cristo, e aguardando pacientemente que nos rendamos a ela, para acharmos misericórdia e salvação, que até mesmo o ato de não ouvir e não dar a devida consideração à mensagem do evangelho, está sendo tolerado por Jesus, na expectativa de que mudemos de opinião, e que por fim aceitemos que de fato, não podemos, de nós mesmos, viver de modo agradável a Deus.
Veja as Suas palavras em Jo 12.47:
“Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.”
7
A Verdade Viva
Quando se diz na Bíblia que devemos andar na verdade, o que está em foco não é meramente a verdade moral, ou ainda o dito que corresponda à realidade de fatos e coisas, mas andarmos no caminho em que nos assemelhemos à pessoa de Jesus, em nossos pensamentos, atitudes e ações, pois ele definiu a verdade como sendo a sua própria pessoa, João 14.6.
Não se trata portanto de afirmar simplesmente que dois mais dois são quatro e não cinco, ou que aquilo que é verde é de fato verde e não vermelho. Mas, em sermos santos assim como Cristo é santo. Em sermos longânimos assim como ele é longânimo; e também perdoadores, mansos, humildes, fiéis, benignos, e tudo o mais que se encontra em perfeição na pessoa de Jesus.
Por isso nosso Senhor quando afirmou ser ele o caminho, acrescentou ser também a verdade e a vida; pois os três estão intimamente ligados em relações de causa e efeito.
Ele é o caminho que conduz à vida espiritual e eterna, e esta vida está fundamentada na verdade relativa a tudo o que se encontra nele, e não em outros caminhos diferentes onde há falsidades que procuram apresentar-se como
8
verdades relativas à vida, e que não passam, todos eles, de caminhos de morte, e não de vida.
“Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8.31,32).
“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8.36)
Os laços de morte espiritual nos quais estamos naturalmente presos só podem ser desatados quando estamos unidos a Jesus, porque é nele, e somente por ele, que podemos viver do modo santo que é agradável a Deus, uma vez tendo sido regenerados e santificados pelo poder do Espírito Santo.
9
Verdade, Sinceridade e Honestidade
“Exorta os servos a que sejam submissos a seus senhores em tudo, sendo-lhes agradáveis, não os contradizendo, nem defraudando, antes mostrando perfeita lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus nosso Salvador.” (Tito 2.9,10)
Há em nossa época uma grande transgressão de todos os mandamentos de Deus, mas não há certamente maior transgressão do que a da honestidade, da sinceridade e da verdade, em todos os níveis da sociedade.
Tão generalizada se tornou a prática da mentira, do roubo e da desonestidade que isto é visto até mesmo nos mais altos escalões, em níveis assombrosos, especialmente na prática da corrupção.
E nas classes mais baixas ouve-se falar dos chamados “gatos” de luz, de água, de Tv a cabo, Internet, e de outros serviços, como se fossem coisas muito naturais e normais.
A exigência bíblica, constante na Lei de Moisés, conforme determinado por Deus de que se usassem balanças justas e outras medidas justas é violada de todas as formas possíveis e parece ao entendimento comum que pirataria, engano
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comercial etc é coisa para espertos, e estes são celebrados em vez de serem reprovados.
Com isto, há uma grande insensibilidade e indiferença à mentira e desonestidade, exceto somente quando o seu praticante, é ele próprio prejudicado por outros.
Se houvesse um verdadeiro respeito à ordenança bíblica, até mesmo os chamados pequenos desvios que são praticados no ambiente de trabalho, como por exemplo os de lápis, clips, borracha, papel etc, seriam vistos como furtos, como de fato são, pois, do Espirito Santo seria ouvido no coração o seguinte: “Não pegue para si, para uso particular, porque isto não lhe pertence.”
A honestidade não é medida portanto pelo valor grande ou pequeno da coisa desviada, pois o que conta aos olhos do Senhor, é a intenção do coração de quebrar o mandamento que diz: “Não furtarás.”
No entanto, a desonestidade não se refere tão somente a coisas, como também à falta da verdade, da sinceridade em relação ao que somos de fato aos olhos de Deus. Se somos ou não honestos em confessar-lhe as nossas faltas, para que sejamos capacitados pela Sua graça a superá-las.
11
Agora, por que se exige total honestidade, sinceridade e verdade da parte dos homens?
Porque foram criados para ser à exata imagem e semelhança de Deus, o qual é perfeitamente verdadeiro, honesto e sincero.
Não há em Deus a menor sombra de corrupção em seu caráter.
Daí o Senhor Jesus Cristo afirmar que Ele próprio é a verdade. Ou seja, tudo o que é verdadeiro, honesto e sincero, especialmente em relação àquilo que devemos ser como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus tem nEle o perfeito modelo. Ele é perfeito Deus e perfeito homem. E se manifestou para que a nossa humanidade pudesse ser revestida da divindade.
Assim, quando o Novo Testamento se refere à verdade, na quase totalidade dos textos o que temos é a verdade objetiva do evangelho, a verdade revelada por Jesus Cristo, nosso Senhor, verdade esta na qual todos os crentes devem andar por meio da fé, ou seja, em santidade de vida e em comunhão com Cristo, sendo atuantes na obra de Deus, mas também temos referências à verdade subjetiva quanto a um procedimento moral exemplar em sinceridade e integridade.
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O fundamento da verdade é o amor ágape sacrificial, celestial e divino. Quando se diz que se ama a Deus com este amor ágape, e quando este falta em relação aos nossos semelhantes, mentimos e somos considerados por Deus como mentirosos porque negamos em nosso próprio viver aquilo que afirmamos ter com os nossos lábios e que na verdade não possuímos.
Deus é amor porque sempre atua em consistência com o amor, e é verdadeiro porque é sempre consistente com todos os seus atributos, nunca atuando contra qualquer um deles.
Como isto falta aos homens, é afirmado na Palavra que Deus é verdadeiro e todo homem é mentiroso, de modo que necessitamos da restauração da verdade em nós mesmos, pela implantação das virtudes de Cristo e despojamento das obras do corpo que são pecaminosos, por serem contrárias ao caráter divino.
13
O Genuíno Conhecimento da Verdade
Ou a sábia aplicação do conhecimento verdadeiro.
Por este título pretendemos discorrer sobre o conhecimento da verdade conforme este se relaciona com a vontade de Deus.
O conhecimento que é segundo Deus transcende o mero acúmulo de informações ainda que referentes a toda a revelação escrita, quando a isto não acompanha um adequado discernimento da forma sábia de aplicação deste conhecimento adquirido.
Por exemplo, sabemos que em Cristo caíram todas as prescrições cerimoniais do Velho Testamento, inclusive a referente a se fazer distinção entre alimentos limpos e imundos, assim considerados pela Lei de Moisés.
A Igreja de Corinto se viu às voltas com a falta de aplicação sábia deste conhecimento anteriormente referido, bem como quanto a saber que o comer alguma carne vendida nos açougues que houvesse sido oferecida no culto a ídolos, não era pecado, quando não existisse um conhecimento consciente quanto à sua origem.
14
Muitos crentes, gabando-se deste conhecimento de que o ídolo nada é, golpeavam as consciências fracas de alguns irmãos por tentarem dissuadi-los a abandonarem a sua abstinência cautelosa de tal alimento por temerem ofender a Deus.
Assim, pecavam contra o amor com o próprio conhecimento da verdade.
Vemos, portanto, que a par do caráter absoluto dos mandamentos de Deus, a sua observância demanda que tenhamos sabedoria e inteligência espiritual para conhecê-los e praticá-los segundo a sua boa, perfeita e agradável vontade.
Daí ser a revelação feita em graça e não de modo legalista, pelo mero cumprimento da exigência da letra da lei, conforme sucede em tribunais humanos, quando nem sempre a justiça e bom senso são seguidos, misturando-se ao juízo a fé, o amor e a misericórdia, conforme sucede com o modo de Deus julgar, e que é sempre perfeito, por não levar em conta apenas considerações legais e frias baseadas numa estrita aplicação da lei, que não considera diversos outros fatores não menos importantes.
A vida eterna depende do correto conhecimento espiritual de Deus Pai e de nosso Senhor Jesus Cristo.
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A salvação é simplesmente por graça e mediante a fé, mas isto não é possível sem um verdadeiro conhecimento da verdade revelada, que nos conduza ao Cristo verdadeiro revelado nas Escrituras.
Assim, a nossa primeira e grande fonte de conhecimento é o próprio Espírito Santo, que é o nosso Grande instrutor, e a matéria a ser aprendida é a Palavra de Deus - a espada do Espírito, o instrumento do Espírito.
Não basta portanto conhecer apenas a letra da Palavra, mas o significado espiritual da mesma em aplicação em nossas vidas, que devem ser transformadas com base neste conhecimento verdadeiro.
Isto pode ser visto com clareza em inúmeras passagens das Escrituras.
Além disso, cabe destacar que o conhecimento bíblico se refere sobretudo ao conhecimento que Deus possui daqueles que lhe pertencem, por estarem unidos pela fé a Jesus Cristo. E estes que são conhecidos de Deus, por conseguinte, também o conhecem, porque todo conhecimento pessoal verdadeiro é de via dupla.
Deste modo, a revelação enfatiza e prioriza este conhecimento pessoal. Aquele que está
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desprovido deste tipo de conhecimento, por mais que saiba o conteúdo das próprias Escrituras, ainda não conhece conforme convém conhecer.
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Como a Verdade de Deus é Autenticada?
A verdade de Deus está revelada em Sua Palavra escrita, ou seja, na Bíblia.
A prova da sua autenticação é realizada na vida de todos aqueles que creem nesta verdade revelada, uma vez que tudo o que nela se afirma e se promete é cumprido e visto na vida dos que creem. E tal cumprimento, particularmente no que se refere à santificação, se vê em maiores graus naqueles que possuem um maior conhecimento e fé na Palavra divina.
Isto sucede em razão do que foi afirmado pelo próprio Senhor Jesus Cristo: "As palavras que eu vos disse são espírito e são vida, (João 6.63), o que confirma que de fato a palavra de Cristo é primeiro espírito e, em seguida vida – vida em abundância, a vida espiritual, celestial, divina e eterna que procede dele mesmo para todo aquele que nele crê.
Os que creem chegam a conhecer que sem que haja uma atração de Deus Pai que nos conduza a ver com os olhos da fé a Jesus Cristo, jamais poderiam ter dado a sua confiança e assentimento no coração à aceitação da Palavra revelada como sendo verdadeira. Isto é feito portanto, por uma operação poderosa espiritual realizada pelo Espírito Santo para que possamos
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crer e sermos tomados pela vida espiritual que se encontra na pessoa de Jesus Cristo
Por saber que tal conhecimento espiritual somente seria possível por esta forma retrocitada, nosso Senhor afirmou expressamente que sua doutrina (ensino) não fora inventada por ele como sendo um mero homem, conforme era visto pelos escribas e fariseus, mas que a mesma era de procedência divina, e que esta somente poderia ser conhecida quanto à sua procedência por aqueles que efetivamente cressem nela como sendo verdadeira e procedente de Deus, porque veriam o seu cumprimento em suas próprias vidas.
E devemos destacar que a doutrina de nosso Senhor consiste principalmente na fé nele para a nossa justificação, regeneração, santificação e glorificação, pela graça. E isto será visto na vida dos que creem, confirmando a verdade da Sua Palavra.
Daí nosso Senhor ter afirmado o seguinte:
“Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.” (João 7.17)
Concluímos, portanto, que Deus designou a Sua Palavra para ser o instrumento da nossa
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salvação, conquanto esta deve ser pela fé, e não seria fé se não fosse simplesmente por se confiar naquilo que se ouve relativamente ao que não se vê, e conforme está escrito na Bíblia.
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Romanos 10.17)
20
Veracidade
"Ah! SENHOR, não é para a verdade que atentam os teus olhos?" (Jeremias 5.3 a)
A alusão não é feita à verdade doutrinal de Deus, ou à verdade de forma abstrata, mas à verdade prática, uma vez que deve existir nos corações e nas vidas dos homens. Pode-se ler: "Senhor, não estão os teus olhos sobre a veracidade?" Ou, "à fidelidade?" O Senhor disse a Jeremias no início do capítulo: “Dai voltas às ruas de Jerusalém; vede agora, procurai saber, buscai pelas suas praças a ver se achais alguém, se há um homem que pratique a justiça ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei a ela.” E a resposta de Jeremias foi: “Embora digam: Tão certo como vive o SENHOR, certamente, juram falso. Ah! SENHOR, não é para a fidelidade que atentam os teus olhos? Tu os feriste, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a disciplina; endureceram o rosto mais do que uma rocha; não quiseram voltar.”
Neste capítulo, você notará que não temos apenas uma descrição temerosa do estado de coisas, nos dias do profeta Jeremias. Temos também um conjunto mais melancólico de retratos de homens falsos.
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Jerusalém estava podre até ao âmago - a nação era enganosa por completo. No versículo 27 lemos: "Como a gaiola cheia de pássaros, são as suas casas cheias de fraude; por isso, se tornaram poderosos e enriqueceram." Quando um coração é mentiroso e desonesto, quando a retidão partiu dele, então está preparado para a semeadura de toda coisa má. Qualquer crime é possível para um mentiroso! Aquele que está estragado com falsidade será rasgado ao toque da tentação.
Deus nos livre da falsidade, uma vez que leva a algo pior, pois no segundo verso é dito que estas pessoas eram infiéis até mesmo em seus juramentos! "Eles dizem: “Certamente vive Jeová", mas falsamente juram. Eles ousaram usar o mais sagrado de todos os nomes em seus lábios e chamar a Deus para testemunhar uma mentira! Aquele tem ido tão longe assim com a falsidade nem sempre para em perjurar. Não é de admirar que eles não eram fiéis a seus votos de casamento. Eu não preciso ler a expressão forte em que o Profeta apresenta a fornicação e o adultério que abundavam em seus dias - quando não hesitaram em trazer dor a suas casas e extrema tristeza e miséria para as suas esposas por cederem às suas paixões, pois aquele que é traidor de Deus em breve será traidor de todos os laços familiares.
22
Quando Deus tinha aplicado a correção, eles disseram: "Isto não é Deus É má sorte. Isto é o destino e a sorte que ocorrem a todos" Eles não iriam ver a mão de Deus! Quando os corações estão corrompidos os homens não são capazes de ver um procedimento claro e verdadeiro de Deus ou que, quando veem eles os negam dizendo: “Não há Deus, ou se houver um Deus, Ele não se mete com as coisas da vida diária."
Lance fora o Deus puro e verdadeiro, e você precisa de um deus de algum tipo e assim cada homem fabrica um deus de si mesmo a seu gosto. A mente de terra dos gentios faz um deus da lama. O livre-pensador inventa um deus que não tem justiça e, consequentemente, não toma vingança contra o pecado. O homem olha para Deus e acha que o vê quando ele se vê em um espelho! Por natureza, cada homem é seu próprio deus, ele adora a sua própria imagem. É somente o homem que é puro de coração que pode ver a Deus.
E, pior de tudo, se não pode ser pior, quando um homem, uma vez dá-se a um coração enganoso, ele chega a ser um destruidor de outros. Observe o versículo 26. "Porque entre o meu povo se acham perversos; cada um anda espiando, como espreitam os passarinheiros; como eles, dispõem armadilhas e prendem os homens." Não contentes em estarem perdidos, eles mesmos se tornaram servos de Satanás
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para destruírem os outros! Esses demônios em forma humana que certamente atingiram o último estágio da corrupção, quando não somente pecam, eles mesmos, mas são os criadores do pecado nos outros!
Olhe bem para este retrato do progresso do engano. Eles começam sendo desonestos com seus semelhantes e, finalmente, chegam a este ponto de se tornarem agentes comissionados de Satanás, caçadores para o diabo, passarinheiros que enredam homens com os caçadores de pássaros! Este era o estado de coisas no tempo de Jeremias. Nós não temos, eu confio, bastante de tal estado de coisas entre nós, hoje, como uma praga universalmente prevalente, mas temos muito a doença da mentira em todas as épocas (Deve ser destacado que Spurgeon escreveu isto no século XIX, quando a iniquidade não havia ainda se multiplicado, como nos nossos dias, em que se tem ultrapassado em muito o estado das coisas que ocorriam em Judá nos dias do profeta Jeremias – nota do tradutor).
O apelo de Jeremias foi de um homem santo de Deus. Ele diz que, de fato, "Ó Senhor, não são teus olhos aptos para que possas detectar o que é verdade e o que é mentira? Tu contemplas a verdade. Aquilo que é trazido a Ti como adoração, podes dizer se é sincero ou não. Teus olhos veem os fatos que se encontram sob a
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cobertura das aparências. Tu podes discernir entre o justo e o ímpio."
Sim, Deus é o detector de imposturas e falsificações e pelo Seu julgamento infalível o precioso deve ser separado do vil - "porque o Senhor é um Deus de julgamento e por ele são pesadas as ações." "Não estão os seus olhos voltados para a verdade?"
O Profeta havia se oferecido para percorrer as ruas e procurar um homem honesto, mas ele, na verdade, clamou: "Senhor, Tu sabes onde ele está, se houver ainda um remanescente." Deus não precisa procurar com uma lanterna para encontrar um homem verdadeiro, pois "o Senhor conhece os que são seus". Ló em Sodoma é como um pássaro solitário nas montanhas, mas o Senhor o percebia e o livrou. Os verdadeiros estão muitas vezes escondidos aos olhos da humanidade, mas os olhos de Deus estão firmemente fixados sobre eles, como está escrito: "Os olhos do Senhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor."
O Senhor pode detectar impostores, mas ele também pode descobrir a veracidade e podemos estar certos de que Ele o fará.
Fingir ser outra coisa do que somos de fato, diante de Deus, é uma loucura terrível.
25
Certamente, Satanás rirá daqueles que vêm diante de Deus com palavras de piedade em seus lábios quando não há devoção em seus corações! Isto é totalmente inútil. É um desperdício de tempo e energia.
Tudo sobre você e eu que seja irreal, Deus odeia, e odeia-o mais em suas próprias pessoas do que em qualquer outro lugar! Se em oração, usamos expressões que realmente não vêm de nossos corações, ou se não falamos a verdade com os nossos semelhantes, isto é abominável aos olhos de Deus! Ele preferiria ter-nos diante dele em toda a nudez e vergonha dos nossos primeiros pais e ficar lá e confessarmos os nossos crimes do que nos vestimos com as folhas de figueira da formalidade e da hipocrisia.
Eu lhe diria que quaisquer que sejam os erros ou transgressões que você cometa, seja verdadeiro. Não use o manto da hipocrisia! Nunca professe ser o que você não é! Nunca se atreva a pôr em perigo a sua alma por uma mentira! Lembre-se, de que não há maneira nenhuma mais segura de ir para o inferno do que a forma de engano, pois está escrito: "Todos os mentirosos terão sua parte no lago que arde com fogo e enxofre." Aquele que ama e pratica a mentira deve ser lançado para fora da presença de Deus e da glória do Seu poder.
26
Lembre do grande valor da veracidade pois se diz: "Ó Senhor, não estão os teus olhos sobre a veracidade?" O grande valor disto é que ela, sozinha, é considerada por Deus em matéria de religião, pois Seus olhos estão sobre o que é verdadeiro em nós e todo o resto não é digno de Sua atenção. Por exemplo, suponha que eu diga: "Eu me arrependo". A questão é: - Será que eu realmente e do meu coração tenho tristeza pelo pecado? Há uma mudança em minha mente no que diz respeito ao pecado, para que o que eu amei uma vez agora eu deteste? É assim? – É somente pelo nosso arrependimento, que o coração é aceito diante de Deus. Lágrimas, suspiros, gemidos, estes são apenas vento e para nada servem se o coração não estiver quebrantado.
O mesmo acontece em relação à fé. Um homem pode dizer: "Eu creio", como milhares dizem em seu credo "Creio em Deus Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra", e assim por diante. Ah, mas você confia em Deus com todo o seu coração?
Você está real e sinceramente crendo em Deus e em Sua Palavra, no Filho de Deus e no Seu Evangelho? Se não, toda a sua fé professada é inútil!
Deus valoriza a honestidade e a sinceridade de nossas ações, e a profundidade delas. E Ele não
27
considera o que fazemos caso não seja a Sua verdade. Isto é igualmente verdadeiro em relação ao culto privado. A leitura diária da Bíblia é uma coisa muito excelente, mas você lê com sua alma, bem como com seus olhos?
O valor da veracidade será visto por Deus porque, mesmo em seu nível mais baixo de desenvolvimento, Ele a considera. Eu acho que eu poderia chamar de menor desenvolvimento o que está dito no primeiro versículo do capítulo, "vede agora, procurai saber, buscai pelas suas praças a ver se achais alguém, se há um homem que pratique a justiça ou busque a verdade", isto é, um homem que sente que ele não é tudo o que ele quer ser, mas que ainda quer ser verdadeiro. O homem que está sendo procurado aqui é consciente de muitas faltas. Sim, e ele sente que às vezes não é perfeitamente sincero e transparente e, por isso, ele odeia a si mesmo e observa as tendências enganosas do seu coração e com zelo procura ser fiel. Oh, meu caro amigo, se você realmente está no rumo certo. Se você está tentando ser sincero. Se você está trabalhando para ser sincero diante de Deus. Se você pode dizer: "Eu preciso de conversão genuína e verdadeira fé em Cristo.", então Deus aceita ainda que seja esta busca da verdade, que está em sua alma! Ele pode guarda-lo para que o busque pelo Seu Espírito Divino até que você
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saia para a clara luz do meio-dia da bendita verdade de Deus como está em Jesus.
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Verdade
Aos muitos Pilatos, nosso Senhor Jesus Cristo continua respondendo com total silêncio, à pergunta deles sobre o que é a verdade.
Há um grande motivo para este silêncio, uma vez que seria completamente inútil tentar explicar-lhes o que seja a verdade, uma vez que esta só pode ser conhecida quando vivida.
A verdade moral e espiritual é muito mais do que a simples realidade objetiva, ou até mesmo subjetiva, pois não há verdade no mal, pois é uma falsidade, o oposto da verdade, já que esta sempre está conformada ao caráter de Deus, que não é apenas a fonte de toda verdade moral e espiritual, como a própria verdade.
Daí Jesus ter afirmado ser a verdade, o caminho e a vida. É somente por conhecê-Lo pessoalmente, que se chega a conhecer a verdade.
E como já dissemos antes, importa vivermos nEle, para que o nosso conhecimento da verdade, que nos liberta da ignorância e da falsidade moral e espiritual, possa ser aumentado progressivamente em nós em graus cada vez maiores.
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Não devemos apenas conhecer coisas sobre a verdade que é relativa à vida que é espiritual, celestial e divina, mas conhecer por experiência própria, esta vida, por obtê-la por meio da fé em nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta vida verdadeira é manifestada quando temos a coragem de vivê-la. Ela deve ser incorporada aos nossos hábitos e pensamentos; ela deve nos conduzir a andar em novidade de vida.
Ao ser definida por Cristo como sendo a Sua própria vida, a verdade extrapola então, os mandamentos da lei, a par de abrangê-los.
A Palavra de Deus revelada, afinal, é mais do que mandamentos, e por isso pode ser definida como sendo a verdade, como nosso Senhor o faz em João 17.17. Dessa forma, ela se torna o meio da nossa justificação, regeneração e santificação, pois a fé vem pelo se ouvir a Palavra, e todos os atos da nova vida celestial em nós, são atos da fé.
Graças a Deus por nos ter dado a Sua Palavra revelada escrita, pois ela é a verdade, uma vez que reflete perfeitamente qual seja o caráter de Deus, ao qual nos convém imitar.
Pilatos estaria interessado em saber isto? Ou mesmo capacitado para entendê-lo?
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Por isso, nosso Senhor lhe disse que somente os que são pela verdade podem conhecê-la.
Bem-aventurados então são todos aqueles que estão com suas faculdades mentais e espirituais abertas, para recepcionar com mansidão a Palavra de Deus pregada, ou lida na Bíblia.
Deus lhes abrirá o entendimento e o coração para poderem vê-la implantada em suas próprias vidas, e assim serão testemunhas vivas de que tudo o que se afirma na Bíblia é de fato verdadeiro, pelo seu cumprimento que pode ser observado na vida daqueles que amam a Deus.
32
A Verdade Que Conduz à Vida Eterna Satanás é o pai da mentira e do engano. Ele procura por todos os meios e modos enganar com suas mentiras, porque assim como a verdade liberta, a mentira escraviza; assim como a verdade dá vida, a mentira mata. Adão deu crédito à mentira de Satanás no Éden e morreu apesar do diabo ter-lhe dito que não morreria caso desobedecesse a Deus. E não somente Adão morreu, como todos os homens morreram espiritualmente por causa do pecado original. Cristo veio para nos libertar da morte espiritual e eterna. Ele veio para dar vida e vida abundante, mas esta vida é dependente de permanecermos firmes na verdade revelada na Bíblia, e especialmente no Evangelho. Não pode haver a manifestação da vida que Cristo dá, onde prevalece a mentira. A Palavra de Deus é a verdade que livra da morte e gera a vida eterna, que está em Jesus.
33
Importa portanto conhecer e nos apegarmos à exata palavra do Evangelho de Cristo, de modo que não sejamos enganados por ninguém com suas vãs filosofias que não podem de modo algum nos salvar e santificar. É somente na pessoa do próprio Jesus que habita corporalmente toda a plenitude da divindade (Col 2.9), e é portanto nELe e somente nEle que os crentes podem ser também achados plenos porque é Jesus a Cabeça de todo principado e potestade (Col 2.10). O crente não é mais um endividado em relação a Deus porque Jesus pagou completamente a sua dívida. Era esta dívida que dava aos principados e potestades malignos a condição de nos trazer, antes da nossa conversão, debaixo do domínio deles, porque estávamos sem Deus no mundo, por sermos Seus inimigos, por causa dos nossos pecados. Todavia, desde que Cristo pagou a nossa dívida, os principados e potestades foram despojados por Ele do domínio que tinham sobre nós, de maneira que o trabalho deles ficou publicamente revelado quando Cristo morreu na cruz.
34
Estando agora libertados do domínio do pecado e dos espíritos das trevas os crentes devem preservar a vida que receberam pela fé, e que flui de Cristo e que é operada por Cristo, perseverando na comunhão com Ele em espírito. É nisto que consiste a vida cristã, e tudo o mais é decorrente disso, seja o nosso culto a Deus ou o nosso serviço a Ele e ao nosso próximo, pois importa que não propriamente nós, mas Cristo, viva e opere através de nossas vidas.
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Jesus, o Rei da Verdade
“Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.” (João 18.37)
Já vem chegando a época na qual, por costume, somos levados a lembrar o nascimento do santo menino Jesus, nascido rei dos judeus, contudo eu não me guiarei a Belém, senão ao pé do Monte Calvário; ali aprenderemos dos próprios lábios do Senhor acerca do reino do qual ele é monarca; e desta maneira seremos motivados a valorizar muito mais o alegre evento do seu nascimento.
O apóstolo nos informa que nosso Senhor deu testemunho da boa profissão diante de Pôncio Pilatos. É uma boa profissão quanto à sua forma pois nosso Senhor foi veraz, benigno, prudente, paciente, manso, e ao mesmo tempo firme e valente. Seu espírito não se acovardou diante do poder de Pilatos, nem se exasperou diante de seus olhar de desprezo. Em sua paciência assenhoreava a sua alma estabelecendo o testemunho modelo em favor da verdade, tanto em seu silêncio quanto em sua palavra. Ele
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também testemunhou a boa profissão em seu conteúdo porque embora tivesse falado pouco, falou o necessário. Reclamou seus direitos à coroa e ao mesmo tempo declarou que o seu reino não era deste mundo e nem seria sustentado pela força. Ele vindicou tanto a espiritualidade quanto a veracidade da sua soberania. Se alguma vez nos encontrarmos em circunstâncias semelhantes, que também sejamos capazes de dar testemunho da boa profissão. Talvez nunca tenhamos que dar testemunho diante de um Nero, como Paulo, porém, se tivermos que fazê-lo, que o Senhor nos ajude e nos dê a força necessária para que nos comportemos como valentes diante do leão. Em nossas famílias ou entre nossos conhecidos no trabalho, talvez tenhamos que enfrentar algum pequeno Nero ou responder a algum insignificante Pilatos, então que demos também testemunho da boa profissão. Oh que tenhamos a graça de permanecer prudentemente calados ou de ser mansamente francos, segundo requeira o caso e em qualquer de ambas circunstâncias que sejamos fiéis à nossa consciência e ao nosso Deus.
Que a face de Jesus, o fiel e verdadeiro testemunho, o príncipe dos reis da terra esteja frequentemente diante de nossos olhos para suportar o primeiro sopro de indecisão e para nos inspirar uma intrépida coragem.
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Temos para nossa consideração nas palavras do texto uma parte da boa profissão de nosso Salvador em relação ao seu reino.
I - Observe primeiro que nosso Senhor afirmou ser um rei. Pilatos disse: “Logo tu és rei?” Fazendo a pergunta com uma surpresa burlesca, já que o pobre homem diante dele teria pretensões de realeza. Vocês se surpreendem que Pilatos houvesse se maravilhado grandemente ao descobrir pretensões de realeza associadas a condições tão deploráveis. Nosso Senhor disse “tu dizes que eu sou rei”. A pergunta foi bem insincera, mas a resposta foi completamente solene: “eu sou rei”. Nada foi expressado jamais por nosso Senhor com maior certeza e sinceridade. Agora observe que esta afirmação foi feita sem qualquer ostentação ou com qualquer intenção de tirar proveito para si. Houve outras ocasiões em que caso dissesse “eu sou rei”, teria sido levado nos ombros pelo povo e coroado em meio a aclamações. Seus seguidores fanáticos numa ocasião lhe teriam feito rei de bom grado. E lemos que uma vez vieram a ele tentando fazer-lhe rei. Nessas oportunidades ele falava muito pouco acerca do seu reino, e o que chegava a dizer o expressava em parábolas e explicava somente a seus discípulos, quando se encontrava a sós com eles. O Senhor muito pouco se referia em sua pregação ao que concerne aos seus direitos de nascimento como
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filho de Davi, em relação à casa real de Judá, pois reunia as honras do mundo e desdenhava as glórias frívolas de um diadema temporal. Aquele que veio em amor para redimir os homens não tinha nenhuma ambição pelas insignificâncias da soberania humana, mas tendo agora sido traído por seu discípulo e acusado por seus compatriotas, e estando nas mãos de um governante injusto e quando não pôde se beneficiar disso, pois lhe traria escárnio em vez de honra, então declara abertamente e responde ao seu interrogador: “tu dizes que eu sou rei”. Observem bem a clareza da declaração de nosso Senhor. Não havia forma de interpretar mal suas palavras “eu sou rei”. Quando chegou o tempo para que a verdade fosse publicada, nosso Senhor não foi remisso em declará-la. A verdade tem momentos oportunos para o discurso e ocasiões nas quais o silêncio é mais conveniente - não devemos lançar nossas pérolas aos porcos – porém quando chega a hora de falar, não devemos duvidar – devemos falar com a voz de uma trombeta emitindo um claro sonido que nenhum homem possa interpretar incorretamente. Assim, embora fosse um prisioneiro condenado à morte, o Senhor declara corajosamente sua realeza sem se importar que Pilatos lhe cobrisse de escárnio em consequência disso. Oh que tenhamos a prudência do Senhor para falar a verdade no momento oportuno, e a coragem do Senhor para pregar a verdade quando chegar o seu
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momento. Soldados da cruz... aprendam com o seu Capitão.
A afirmação de realeza por parte de nosso Senhor deve ter soado como algo muito estranho no ouvido de Pilatos. Jesus indubitavelmente estava muito angustiado, triste, debilitado, em sua aparência externa. Ele havia passado a primeira parte da noite no jardim do Getsêmani em meio de uma agonia. Cerca da meia noite ele havia sido levado a Anás e a Caifás, e deste a Herodes. Nem sequer lhe havia sido permitido descansar ao despontar o dia, de tal forma que em puro cansaço, se veria muito distante de parecer com um rei. Pilatos em seu coração, desprezava os judeus como tais, porém tinha diante de si um pobre judeu, perseguido pelos de sua própria gente, desvalido e sem amigos, que tinha a ilusão de falar de um reino vinculado a ele; contudo a terra jamais viu a um rei mais verdadeiro, ninguém da linhagem de faraó, da família de Ninrode, ou da raça dos cézares era tão intrinsecamente imperial em si mesmo como Jesus o era. Reconhecido muito merecidamente como Rei em virtude de sua linhagem, suas obras e seu caráter superior. O olho carnal não podia ver isto, porém para o olho espiritual era mais claro do que a luz do meio dia. Até este dia, em sua aparência externa, o puro cristianismo é igualmente um objeto sem atrativo, que mostra em sua superfície poucos
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sinais de realeza. Cresce sem aparência e formosura, que quando os homens o veem não encontram uma beleza desejável para eles. É certo que há todavia um cristianismo nominal que é aceito e aprovado pelos homens, porém o evangelho puro é desprezado e rejeitado. O Cristo real, hoje é desconhecido e irreconhecível entre os homens da mesma maneira como foi em sua própria nação há dois mil anos.
A doutrina evangélica verdadeira está em baixa. A vida santa é censurada; e a preocupação espiritual é escarnecida. “O que?” Eles perguntam. “Você chama de verdade régia a esta doutrina evangélica? Quem crê nela em nossos dias? A ciência a tem refutado. Não há nada grandioso nela. Os velhos poderão achar consolo nela, e todos aqueles que não têm suficiente capacidade para pensar livremente. Seu reino tem terminado e não retornará jamais.”
Quanto a viver separados do mundo, classificam isto de puritanismo ou algo pior. Cristo em doutrina, Cristo em espírito, Cristo na vida, nestas áreas o mundo não pode suportá-lo como rei.
O Cristo louvado com hinos nas catedrais, o Cristo personificado em prelados altaneiros, o Cristo rodeado pelos que pertencem às casas
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reais, este sim, é aceitável, porém o Cristo que deve ser honestamente obedecido, seguido e adorado em simplicidade, sem pompas ou liturgias deslumbrantes, a esse Cristo não lhe permitirão que reine sobre eles. Poucas pessoas hoje em dia estarão ao lado da verdade pela qual deram a vida os seus antepassados. O dia do compromisso de seguir a Jesus em meio da vergonha e da maledicência, tem passado. Contudo ainda que os homens venham a nós para nos perguntar: “acaso chamam seu evangelho de divino? Vocês são tão ingênuos para crerem que sua religião vem de Deus e que submeterá o mundo?” Nós respondemos corajosamente? “Sim. Assim como debaixo da roupa do camponês e do rosto pálido do filho de Maria podemos discernir o Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai eterno, assim também sob a simples forma de um evangelho desprezado, percebemos nele os régios delineamentos da verdade divina. A nós não nos importa a roupa ou a morada externa da verdade, nós a amamos por si mesma. Para nós os palácios de mármore e as colunas de alabastro não têm importância. Valorizamos muito mais a manjedoura e a cruz. Estamos satisfeitos de que Cristo reine onde queira reinar. E esse lugar não é em meio dos grandes da terra, nem entre os sábios e poderosos, senão entre o vil do mundo e o que não é, pois é a estes Deus tem elegido desde o princípio para que sejam seus.
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Devemos acrescentar que a declaração de nosso Senhor de ser rei, será um dia reconhecida por toda a humanidade, porque quando disse a Pilatos “tu dizes que eu sou rei” profetizou a confissão futura de todos os homens. Alguns que têm sido ensinados por sua graça se regozijam nesta vida como o seu rei todo desejável. Bendito seja Deus que o Senhor Jesus poderia olhar nos olhos de muitos de nós, e nos dizer: “tu dizes que eu sou rei”, e nós lhe responderíamos “o afirmamos alegremente”. Porém chegará o dia quando ele se assentará em seu grande trono branco e então quando as multidões tremerem diante da sua temível majestade, pessoas inclusive como Pilatos e Herodes e os principais sacerdotes, reconhecerão que ele é rei. Então a cada um de seus aferrados e convencidos inimigos lhes dirá: “Agora oh desprezador, tu dizes que eu sou rei.” Pois diante dele se dobrará todo joelho e toda língua confessará que ele é o Senhor.
Recordemos neste ponto que quando nosso Senhor disse a Pilatos “tu dizes que eu sou rei”, ele não estava se referindo ao seu domínio divino. Pilatos não estava pensando nisto, nem nosso Senhor se referiu a isto. Contudo, não se esqueçam que como divino ele é Rei dos reis e Senhor dos senhores. Não esqueçamos nunca que ainda que tenha morrido em fraqueza como homem, ele vive eternamente e governa como Deus. E tampouco creio que se refira à sua
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soberania mediadora que possui sobre a terra em relação a seu povo, pois ao Senhor, todo o poder lhe é dado sobre o céu e a terra, e o Pai lhe tem dado poder sobre toda a carne para que dê vida eterna a todos os que lhe foram dados.
Pilatos não estava aludindo a isto em primeiro lugar, nem nosso Senhor tampouco, ele estava se referindo a este governo que pessoalmente exerce nas mentes dos fiéis através da verdade. Vocês recordam do dito de Napoleão: “eu tenho fundado um império mediante a força, o qual tem se desvanecido”. Jesus Cristo estabeleceu o seu reino em amor que permanece até este dia, e permanecerá para sempre. Esse é o reino ao qual a Palavra do Senhor se refere, o reino da verdade, espiritual, no qual Jesus reina como Senhor no coração daqueles que são da verdade. Ele afirmava ser um rei e a verdade que revelou e da qual ele era a personificação é portanto o cetro do seu império. Ele governa pela força da verdade sobre os corações que sentem o poder da justiça e da verdade, e que portanto, se submetem voluntariamente ao seu Guia, creem em sua Palavra e são governados pela Sua vontade. Cristo reclama soberania entre os homens como senhor espiritual. Ele é rei das mentes daqueles que o amam, dos que confiam nele e lhe obedecem, porque veem nele a verdade que suas almas desejam ardorosamente. Outros reis governam nossos corpos, Cristo porém, governa nossas almas.
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Aqueles governam por força, e ele pelos atrativos da justiça. A daqueles reis é em grande medida uma realeza fictícia, porém a sua é verdadeira e encontra a sua força na verdade.
II. Agora, observem em segundo lugar que nosso Senhor declarou ser este reino o objetivo principal da sua vida.
"Para isso nasci e para isto vim ao mundo."
A razão pela qual nasceu da virgem foi para estabelecer Seu reino. Era necessário que nascesse para ser rei dos homens. Ele sempre foi o Senhor de todos e não precisava ter nascido para ser um rei, nesse sentido, mas para ser rei por meio do poder da Verdade era essencial que nascesse em nossa natureza.
Por que isso? Eu respondo: primeiro, porque parece pouco natural que um governante deve ser alheio à natureza das pessoas sobre as quais ele governa. Um rei angelical dos homens seria inadequado. Não poderia existir a simpatia que é o cimento de um império espiritual. Jesus, para que pudesse governar pela força do amor e da verdade, tornou-se da mesma natureza da humanidade. Foi um homem entre os homens, um homem real, mas um homem verdadeiramente nobre e de condição régia, e assim, um rei dos homens. Mas, além disso, o Senhor nasceu para que pudesse salvar o seu
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povo. Os súditos são essenciais a um reino, um homem não pode ser rei, se não tiver ninguém a quem governar.
Todos os homens teriam morrido por causa do pecado se Cristo não tivesse nascido e vindo ao mundo para nos salvar. Seu nascimento foi um passo necessário para a Sua morte redentora - Sua Encarnação foi necessário para a Expiação. Além disso, a verdade nunca exerce tanto poder como quando se encarna. A verdade falada pode ser derrotada, mas a verdade que opera na vida de um homem é onipotente por meio do Espírito de Deus. Agora Cristo não se limitou a falar a verdade, senão que Ele é a Verdade. Se a verdade tivesse encarnado em uma forma angelical, teria possuído pouco poder sobre nossos corações e vidas. Mas a Verdade perfeita em uma forma humana tem um régio poder sobre a humanidade regenerada. A Verdade vinda em carne e sangue tem poder sobre a carne e sangue e, portanto, ele nasceu para este propósito.
Então, quando vocês ouvirem os sinos tocando no Natal, pensem na razão pela qual Jesus nasceu! Não pensem que veio para enfeitar suas mesas e encher seus cálices em suas festas. Quando você ouve que em certas Igrejas há celebrações pomposas e espetáculos eclesiásticos, não pense que Jesus nasceu para este propósito. Não, senão que olhem para
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dentro de seus próprios corações e pensem: "foi para isto que Cristo nasceu, Para ser rei, para governar através da Verdade a alma de um povo que é, pela Graça, conduzido a amar a verdade de Deus.
E logo acrescentou: "Para isto vim ao mundo." Isto é, Ele saiu do seio do Pai para estabelecer o Seu reino, revelando os mistérios que foram escondidos desde a fundação do mundo. Nenhum homem pode revelar o conselho de Deus, senão Aquele que tem estado com Deus! E o Filho que veio dos palácios de marfim da glória nos anuncia as boas novas de grande alegria! Por isso Ele também veio ao mundo desde a obscura oficina de carpinteiro de José, onde, por muitos anos, esteve escondido como uma pérola em sua concha. Era necessário que a verdade da qual veio para dar testemunho fosse dada a conhecer, e ressoasse nos ouvidos da multidão.
Uma vez que veio para ser rei, deveria deixar o isolamento e sair para lutar por seu trono. Tinha que falar às multidões na encosta do monte. Tinha que falar na costa do mar. Tinha que reunir seus discípulos e enviá-los de dois em dois para publicarem desde os telhados os segredos da verdade poderosa de Deus! Ele não saiu porque lhe encantava ser visto pelos homens ou por que buscasse a popularidade, senão para o propósito de estabelecer o seu
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reino publicando a verdade. Era necessário que saísse pelo mundo e ensinasse, pois de outra forma a Verdade de Deus não seria conhecida e, consequentemente, não poderia operar.
O sol deve sair como um noivo sai do seu aposento, ou o reino da luz nunca será estabelecido. O Espírito Santo deve sair do esconderijo dos ventos ou a vida nunca vai reinar no vale de ossos secos. Assim o reino da verdade veio não em aparência visível e começou a ser estabelecido nos corações daqueles que são pela verdade por ouvirem a voz do seu rei. Durante três anos o Senhor viveu notável e enfaticamente: "veio ao mundo." Ele foi visto pelos homens de maneira tão próxima que pôde ser contemplado, tocado e apalpado. Ele tinha a intenção de ser um modelo e, portanto, era necessário que fosse visto. A vida de um homem que vive em retiro absoluto pode ser admirável para si mesmo e aceitável para Deus, mas não pode ser exemplar para os homens. Por esta razão, o Senhor veio ao mundo, para que tudo aquilo que Ele iria fazer pudesse influenciar a humanidade.
Seus inimigos tiveram permissão para vigiarem cada uma de suas ações e se lhes permitiu que se esforçassem para apanhá-lo em alguma palavra para prová-lo. Seus amigos lhe vinham em privado e sabiam o que fazia na solidão, assim, toda a sua vida pôde ser reportada. Foi
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observado na fria encosta do monte à meia-noite, assim como em meio da grande congregação. Isto foi permitido para que a verdade fosse conhecida, pois cada ação de sua vida era a verdade e contribuía para estabelecer o reino da Verdade no mundo.
Vamos fazer uma pausa aqui.
Cristo é rei. Um rei pela força da verdade num reino espiritual. Para este propósito nasceu. Por isso Ele veio ao mundo.
Amado, pergunte a si mesmo: Tem este propósito do nascimento e vida de Cristo sido cumprido em você? Se não é assim qual é o proveito do Natal para você? Os coristas cantarão: "porque um menino nos nasceu, um Filho nos é dado." Isso é verdade para você? Como poderia ser, a menos que Jesus reine em você e seja seu Salvador e Senhor? Os que verdadeiramente podem se regozijar no seu nascimento são aqueles que lhe conhecem como Senhor dos seus corações, e que governa seu entendimento pela verdade de sua doutrina, sua admiração pela verdade de sua vida, e seus afetos pela verdade da sua pessoa. Para essas pessoas Ele não é um personagem que dever ser retratado com uma coroa de ouro e um manto de púrpura como os reis comuns e teatrais dos homens. Mas alguém mais resplandecente e mais celestial, cuja coroa é real, cujo domínio é
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inquestionável, que governa com verdade e amor! Conhecemos este Rei? Esta pergunta poderia muito bem ser aplicada a nós, pois, amados, há muitos que dizem: "Cristo é o meu Rei", porém não sabem o que dizem pois não lhe obedecem. Quem é servo de Cristo confia em Cristo, e caminha de acordo com a mente de Cristo e ama a verdade que ele tem revelado. Todos os demais são meros hipócritas.
III. Porém tenho que continuar. Nosso Senhor, em terceiro lugar, revelou a natureza de seu poder real. Já falei sobre isso, mas devo fazê-lo novamente. Poderíamos pensar que o texto foi escrito dessa maneira: "Você diz que eu sou um rei, para este fim eu nasci e para isto vim ao mundo, para que eu estabeleça o meu reino." As palavras não são essas, mas devem significar isso, porque Jesus não era incoerente em seu discurso. Conclui-se que as palavras utilizadas têm o mesmo significado que essas que o contexto sugere, ainda que seja expressado de forma diferente.
Se nosso Senhor dissesse: "para que eu possa estabelecer um reino," Pilatos poderia tê-lo mal interpretado. Porém quando se valeu da explicação espiritual e disse que o Seu reino era a verdade e que o estabelecimento de Seu reino era por meio de se dar testemunho da verdade de Deus, então, apesar de que Pilatos não o entendesse, por estar muito acima de sua
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capacidade de compreensão, contudo, de toda forma, não foi conduzido a uma má interpretação. Nosso Senhor nos diz que a verdade de Deus é a característica mais proeminente do seu reino e que seu poder real sobre os corações dos homens é através da Verdade.
Agora, o testemunho de nosso Senhor entre os homens foi enfaticamente sobre assuntos reais e vitais. Ele não lidou com ficção, mas com fatos reais, não com futilidades, mas com realidades infinitas. Ele não fala de opiniões, de pontos de vista, ou especulações, mas de verdades infalíveis. Quantos pregadores desperdiçam o seu tempo com o que pode e o que não pode ser! O testemunho de Nosso Senhor foi eminentemente prático e positivo, cheio de verdades e certezas.
Eu, às vezes, ao ouvir sermões, desejei que o pregador fosse diretamente ao assunto relacionado com a causa e o bem-estar de nossas almas. Que importância têm os milhares de temas triviais que esvoaçam em torno de nós, para homens que estão morrendo? Temos o Céu ou o inferno diante de nós e a morte bem perto. Pelo amor de Deus não brinquem conosco, mas digam-nos a verdade de uma vez! Jesus é rei nas almas do Seu povo, porque sua pregação nos tem abençoado da forma mais profunda e real e nos tem dado descanso em
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assuntos de ilimitada importância. Ele não nos tem dado pedras bem lavradas, mas pão real! Há milhares de coisas que vocês talvez não saibam, e se terão perdido por muito pouco, por não conhecê-las, mas, se vocês não conhecem o que Jesus tem ensinado não lhes irá bem!
Se vocês são ensinados pelo Senhor Jesus terão descanso para as suas preocupações, bálsamo para as suas dores e satisfação para os seus desejos. Jesus dá a verdade que os pecadores necessitam conhecer para que creiam nEle - a garantia do pecado perdoado pelo seu sangue, o favor assegurado pela Sua justiça e o Céu obtido pela Sua vida eterna. Além disso, Jesus tem poder sobre o seu povo, porque Ele testifica não de símbolos, mas dá testemunho da própria substância da Verdade de Deus. Os escribas e fariseus eram muito fluentes sobre os sacrifícios, oferendas, dízimos, jejuns e coisas afins, mas o que poderia influenciar tudo isso sobre os corações doridos?
Jesus tem o poder imperial sobre os espíritos contritos, porque lhes fala de Seu único e verdadeiro sacrifício real e da perfeição que tem obtido para todos os crentes. Os sacerdotes perderam o seu poder sobre as pessoas, porque não foram mais além da sombra e, mais cedo ou mais tarde todos aqueles que descansam no símbolo farão o mesmo. O Senhor Jesus mantém seu poder sobre os Seus santos, porque Ele
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revela a substância, pois a Graça e a Verdade vieram por Jesus Cristo. Que perda de tempo, é debater sobre a forma de um cálice ou a maneira de celebrar a comunhão, ou a cor adequada para as vestes do clérigo na época do Advento, ou a data exata da Páscoa! Vaidade das vaidades, tudo é vaidade! Tais ninharias nunca ajudarão para estabelecer um reino eterno nos corações dos homens!
Cuidemos para não colocarmos nós mesmos muita importância em coisas externas e perder de vista o essencial, a vida espiritual da nossa santa fé. O reino de Cristo não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo! O poder do Rei Jesus nos corações de Seu povo reside em grande maneira no fato de que Ele traz à tona a verdade pura de Deus, sem mistura, sem a contaminação do erro. Ele nos tem entregue uma luz pura e não trevas. Seu ensino não é uma combinação da Palavra de Deus e das invenções do homem! Não é uma mistura de inspiração e filosofia - prata sem escória é a riqueza que Ele dá aos Seus servos. Homens ensinados pelo Espírito Santo para amarem a verdade, reconhecem este fato e rendem suas almas à influência da Verdade do Senhor que os faz livres e lhes santifica; nada pode fazê-los repudiar tal soberano, porque como a Verdade vive e permanece em seus corações, assim Jesus, que é a Verdade, permanece também neles.
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Se sabem o que é a verdade, vocês irão se submeter tão naturalmente aos ensinamentos de Cristo, assim como as crianças se submetem sempre à autoridade de seus pais.
O Senhor Jesus ensinou que a adoração deve ser verdadeira, espiritual e do coração, ou então seria inútil. Ele não tomou partido pelo templo de Gerizim ou de Jerusalém; mas declarou que a hora havia chegado quando os que adoram a Deus o adorariam em espírito e em verdade. Agora, os corações regenerados sentem o poder disto e se alegram por terem se emancipado dos elementos desprezíveis do ritualismo carnal. Eles aceitam de bom grado a Verdade que as palavras piedosas da oração ou do louvor são vaidade, a menos que o coração tenha adoração viva dentro de si. Na grande verdade do culto espiritual os crentes possuem uma Carta Magna tão amada como a própria vida. Nós nos recusamos a ser novamente submetidos ao jugo da escravidão e nos apegamos ao nosso Rei emancipador.
Nosso Senhor ensinou também, que o viver falsamente é ruim e aborrecível. Ele desprezou os filactérios dos hipócritas e o alongar das bordas das vestes dos opressores dos pobres. Para Ele as esmolas ostentosas, as longas orações, jejuns frequentes e o dízimo da hortelã e do cominho nada eram, quando praticados por aqueles que devoravam as casas das viúvas. Não
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lhe importavam nada os sepulcros caiados e os pratos limpos por fora. Ele julgava os pensamentos e as intenções do coração. Que interjeições utilizou para denunciar os formalistas dos seus dias! Deve ter sido um grandioso espetáculo ter visto o humilde Jesus indignado, trovejando num trovão após outro Suas denúncias contra a hipocrisia!
Elias nunca invocou fogo do céu que fosse sequer a metade do tão grandioso: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!" É o mais estrondoso retumbar da artilharia do céu! Vejam que assim como o servo Sansão, Jesus ataca as imposturas da sua época e as ajunta em montões sobre montões para apodrecerem para sempre! Acaso Aquele que nos ensina a vida verdadeira não será o Rei de todos os filhos da verdade? Vamos agora saudá-lo como Senhor e rei. Além disso, amados, nosso Senhor não veio apenas para nos ensinar a verdade de Deus, mas também flui dele um poder misterioso através do Espírito Santo que repousa sobre ele sem medida, que submete os corações escolhidos à verdade, e, que logo guia os corações verdadeiros à plenitude de paz e alegria.
Acaso não têm percebido nunca ao terem estado com Jesus, que um senso de Sua pureza tem feito que sintam desejo de serem purificados de toda a hipocrisia e de todo caminho de falsidade? Acaso não têm sentido
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vergonha de si mesmos ao ouvirem a Sua Palavra, ao contemplarem a Sua vida e, acima de tudo, de desfrutarem da sua comunhão – por não terem sido mais sinceros, mais verdadeiros, mais justos, súditos mais leais do verdadeiro Rei? Eu sei que vocês o têm sentido! Nada sobre Jesus é falso ou mesmo duvidoso. Ele é transparente, da cabeça aos pés. Ele é a verdade em público, a verdade em privado, a verdade em palavra e a verdade em ação. Por isso, é que Ele tem um reino sobre os puros de coração e é veementemente exaltado por todos aqueles cujo coração está preso à justiça.
IV. E agora, em quarto lugar, o Senhor revelou o MÉTODO DE SUA CONQUISTA. "Para isso nasci e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade." Cristo não tem estabelecido o Seu reino pela força das armas. Maomé puxou da espada e converteu os homens, dando-lhes a escolha da morte ou da conversão. Mas Cristo disse a Pedro: "Põe a tua espada na bainha". A compulsão não deve ser usada com qualquer homem para lhe induzir a aceitar qualquer opinião, muito menos para induzi-lo a abraçar a Verdade de Deus. A falsidade requer o potro de tormento da Inquisição, mas a verdade não precisa de tal ajuda indigna. A sua própria beleza e o Espírito de Deus são a sua fortaleza.
Além disso, Jesus não usou as artes e nem os truques da superstição. Os insensatos são
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persuadidos por um dogma pelo fato de que ele é promulgado por um sábio doutor de alto nível, mas o nosso Raboni não usa títulos ressonantes de honra. O povo imagina que uma declaração deve ser correta se ela emana de uma pessoa que usa largas mangas ou cujos estandartes são de confecção custosa e a música é a mais doce. Estas coisas são bons argumentos para aqueles que não são reformáveis.
Jesus, porém, não deve nada ao Seu vestuário e a ninguém influencia mediante arranjos artísticos. Ninguém pode dizer que Ele reina sobre os homens pelo brilho da pompa ou pelo fascínio de cerimônias sensuais. Sua arma de combate é a Verdade! A verdade é tanto a sua flecha quanto seu arco, sua espada e sua adaga. Creiam-me, nenhum reino é digno do Senhor Jesus, senão aquele que tem as suas bases estabelecidas em verdades indiscutíveis - Jesus desprezaria reinar com a ajuda de uma mentira! O verdadeiro cristianismo nunca foi promovido pela política ou engano, fazendo uma coisa errada, ou dizendo uma coisa falsa. Inclusive, exagerar a verdade corresponde a gerar erro e assim derrubamos a verdade que pretendíamos estabelecer.
Há alguns que dizem: "Apresenta uma linha de ensino e nada mais, para que não pareças inconsistente." O que eu tenho a ver com isso? Se é verdade de Deus, eu sou obrigado a
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entregar tudo sem nada reter da mesma! A política em religião, como um navio à vela é dependente do vento, que vira para aqui e para ali, mas o verdadeiro homem como um navio que tenha a sua força motriz própria, vai direto para a frente, em linha reta, enfrentando a fúria do furacão. Quando Deus põe a Verdade nas almas dos homens, lhes ensina a não se desviarem e nem se adaptarem senão a se manterem debaixo de qualquer risco que seja. Isto é o que Jesus sempre fez. Ele deu testemunho da verdade e não deixou o assunto sendo manso e inocente como um cordeiro.
Aqui será apropriado responder à pergunta: "De qual Verdade Ele deu testemunho?" Ah, meus irmãos e irmãs, de qual verdade que Ele não deu testemunho? Ele não refletiu toda a verdade em sua vida? Vejam quão claramente expressou a verdade de que Deus é amor. Quão melodioso, como repiques de sinos de Natal foi o Seu testemunho da Verdade de que "Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Ele também deu testemunho de que Deus é justo. Quão solenemente proclamou esse fato! Suas feridas sangrantes, Suas agonias de morte soaram solenemente esta Verdade como com uma sentença que até mesmo os mortos podem ouvir!
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Ele testemunhou a exigência de Deus pela verdade no íntimo pois frequentemente fez a dissecação dos homens e os desnudou e abriu seus pensamentos secretos e os descobriu para si mesmos; e lhes fez ver que o olho de Deus suporta somente a sinceridade. Acaso não deu testemunho da verdade de que Deus resolveu criar para Si um povo novo e um verdadeiro povo? Acaso não estava sempre falando de suas ovelhas, que ouvem a sua voz? Do trigo, que recolheria no seu no seu celeiro e das coisas preciosas que seriam entesouradas quando os ímpios fossem lançados fora? Nisso estava dando testemunho de que o falso deve morrer, que o irreal deve ser consumido, que a mentira será coberta de ferrugem, mas que o verdadeiro, o sincero, o cheio de graça, o vital, subsistirá em todas as provas e durará mais que o sol. Numa época de fingimentos, Ele estava sempre varrendo pretextos e estabelecendo a verdade e a justiça como suas testemunhas.
E agora, amados, esta é a maneira pela qual o reino de Cristo é estabelecido no mundo. Por esta causa nasceu a Igreja e para este propósito, ela veio ao mundo, para estabelecer o reino de Cristo, dando testemunho da Verdade. Eu desejo ver meus amados, que todos vocês têm dado testemunho. Se amam o Senhor, deem testemunho da Verdade! Vocês devem fazê-lo pessoalmente. Vocês devem fazê-lo coletivamente. Nunca se ajuntem a uma igreja
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cuja doutrina não creia inteira e sinceramente, pois se o fizessem, estariam mentindo, e, além disso, participando do erro do testemunho de outros homens. Eu não iria nem por um momento dizer qualquer coisa para retardar a unidade dos cristãos, mas há algo antes da unidade e que é: "A verdade no íntimo" e a honestidade diante de Deus.
Eu não me atreveria a ser um membro de uma Igreja cujo ensino eu soubesse ser falso em pontos vitais. Eu prefiro ir para o céu sozinho do que enganar minha consciência por tal companhia. Vocês podem dizer: "Mas eu protesto contra o erro da minha Igreja." Caros amigos, como poderiam protestar de forma consistente contra este erro quando você o professa e concordar com ele por ser um membro da Igreja que o avaliza? Se você é um ministro de uma tal igreja, você está de fato dizendo ao mundo: "Eu creio no ensino e nas doutrinas desta Igreja," E se você for para o púlpito e disser que não crê nelas, o que as pessoas vão concluir? Deixo que julguem isto por si mesmos.
Eu vi a torre de uma igreja no outro dia, com um relógio nela, e me surpreendeu ao marcar dez e meia quando eu pensei que era apenas nove. Fiquei, no entanto, bastante aliviado quando vi que uma outra face do relógio indicava 08:15. "Bem", eu pensei: "Qualquer que seja a hora, o
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relógio está errado porque ele se contradiz." Então, quando ouço um homem dizer uma coisa por seu membro da Igreja e outra contrária por seu protesto particular, isso, não está correto em tudo, porque não é coerente consigo mesmo! Vamos dar testemunho da verdade de Deus uma vez que há grande necessidade de fazê-lo agora mesmo, pois dar testemunho não goza de boa fama.
Esta época não assinala nenhuma virtude tanto como "liberalidade", e não condena nenhum vício tão ferozmente como a intolerância, ou melhor, a honestidade. Se creem em algo e o sustentam com firmeza, todos os cães irão ladrar para vocês. Deixem-nos que ladrem! Eles vão parar quando se cansarem! Vocês são responsáveis diante de Deus e não de homens mortais. Cristo veio ao mundo para dar testemunho da Verdade e lhes enviou para fazer o mesmo, tenham o cuidado de fazê-lo, sem importar em ofender ou agradar, pois é somente por este processo que o reino de Cristo é estabelecido no mundo.
V. Agora, o último ponto é este. Nosso Salvador, depois de ter falado do seu reino e da forma de estabelecê-lo, esclareceu aos seus súditos: "Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz." Isso quer dizer que onde quer que o Espírito Santo tenha convertido um homem em amante da verdade de Deus, ele sempre reconhecerá a
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voz de Cristo e se renderá a ela. Onde estão as pessoas que amam a verdade? Bem, não precisamos perguntar por muito tempo. Não precisamos da lanterna de Diógenes para encontrá-los, porque eles virão para a luz, e onde está a luz, senão em Jesus?
Onde estão aqueles homens consistentes que são o que parecem ser? Onde estão os homens que desejam ser verdadeiros em secreto e diante do Senhor? Eles podem ser descobertos, onde as pessoas de Cristo são descobertas, eles serão encontrados ouvindo aqueles que testemunham a verdade de Deus. Aqueles que amam a verdade pura e sabem quem é Cristo, se encantarão com ele e ouvirão a Sua voz. Julguem então, neste dia, irmãos e irmãs, se são da Verdade ou não, pois se amam a verdade, vocês conhecem e obedecem à voz que lhes pede para se afastarem de seus antigos pecados, dos falsos refúgios, dos maus hábitos - de tudo o que não é segundo a mente do Senhor. Vocês já o ouviram falar às suas consciências quando lhes repreende por tudo o que é falso em vocês. Vocês já o ouviram lhes encorajando para permanecer na verdade que luta contra a velha natureza.
Terei concluído quando tiver lhes transmitido uma ou duas reflexões. A primeira é, amados, ousamos a nos por do lado da Verdade, nesta hora da sua humilhação? Reconhecemos a
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realeza da Verdade de Cristo, quando a temos desonrado todos os dias? Se a verdade do evangelho fosse honrada em todas as partes, seria uma coisa fácil dizer "eu creio nela." Mas agora, nestes dias, quando não tem honra entre os homens, ousamos nos apegar a ele a qualquer custo? Estão dispostos a caminhar com a Verdade através do lodaçal e do pântano? Vocês têm coragem de professar a verdade que não está na moda? Estão dispostos a acreditar na verdade contra a qual a falsamente chamada ciência, tem desferido o seu rancor? Estão dispostos a aceitar a verdade, embora seja dito que somente os pobres e sem instrução a recebem? Estão dispostos a serem discípulos do Galileu, cujos apóstolos eram pescadores? Em verdade, em verdade lhes digo que, naquele dia em que a verdade na Pessoa de Cristo se manifestar em toda sua glória, irá muito mal para aqueles que se envergonharem em reconhecê-la e ao seu Senhor.
Em continuação, se temos ouvido a voz de Cristo, reconhecemos o propósito da nossa vida? Sentimos que nós: "para isto temos nascido e vindo ao mundo, para dar testemunho da verdade”? Eu não acredito que você, meu querido irmão, veio ao mundo para ser um leiloeiro e nada mais! Eu não creio que Deus criou você, minha irmã, para ser apenas uma costureira, uma enfermeira, ou uma dona de casa! Almas imortais não foram criadas para
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fins meramente mortais. Para este propósito nasci, para que, com a minha voz neste lugar e em qualquer outro lugar, eu dê testemunho da verdade de Deus! Vocês reconhecem isso, então lhes rogo, a cada um de vocês, a reconhecerem que têm uma missão similar. "Eu não poderia ocupar o púlpito", dirá alguém. Não te preocupes com isso, dê testemunho da verdade onde quer que estejas, e na sua própria esfera. Oh não desperdicem o tempo e nem a energia, senão testemunhem a favor de Jesus Cristo!
E agora, por último, reconhecem amados a dignidade superlativa de Cristo? Veem que Cristo é Rei? Que Ele é um rei para você como nenhum outro poderia ser?
Amados, não precisamos perguntar: "O que Cristo fez por nós?", Vamos perguntar: "O que é que Ele não tem feito por nós?"
Emanuel, tudo devemos a ti! Tu és o nosso novo Criador, nosso Redentor do mais profundo abismo do inferno! Em ti tudo é resplandecente e totalmente desejável, tuas formosuras promovem a nossa adoração! Viveste por nós. Sangraste por nós. Morreste por nós! E estás preparando um reino para nós. E virás novamente para nos levar para estar contigo onde estás! Tudo isso infunde amor em nós. Todos te aclamam! Todos te aclamam! És o nosso Rei e Te adoramos com toda a nossa alma!
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Amados, lhes suplico que amem a Cristo e que vivam para Ele enquanto possam. Trabalhem enquanto houver oportunidade.
Quando tenho que guardar repouso e não tenho sido capaz de fazer algo, a grande tristeza do meu coração tem sido a minha incapacidade de servir a Jesus. Ouvia meus irmãos gritando no campo de batalha e via meus companheiros marchando para o combate e eu estava estirado como um soldado ferido numa cama e não podia me mover - exceto que entre suspiros dizia uma oração que todos vocês pudessem ser fortes no Senhor e na força do seu poder.
Este foi o meu pensamento "Oh, que eu tivesse pregado melhor, enquanto eu podia pregar e que vivesse mais para o Senhor, enquanto eu podia lhe servir!" Não incorram nesses arrependimentos no futuro por causa da indolência presente, mas vivam agora para Aquele que morreu por vocês! Se alguém que nos ouve nesta hora, e que nunca obedeceu o nosso Rei, que venha a confiar nEle agora, porque ele é um terno Salvador e está disposto a receber o maior e mais vil pecador que vier a Ele! Qualquer um que confie nele nunca descobrirá que lhe falhará, pois Ele pode salvar perfeitamente os que se aproximam de Deus por meio dEle!
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Que Ele lhes traga a seus pés e reine sobre vocês em amor. Amém.
Texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido pelo Pr Silvio Dutra.
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O Bom Combate da Fé é Sobretudo Luta pela Verdade
“pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para demolição de fortalezas; derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo; e estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa obediência.” (II Cor 10.4-6).
Não deixaremos de lutar com as armas espirituais da verdade contra tudo o que se levanta contra o conhecimento de Deus.
Não podemos confundir a longanimidade que nos é ordenada para com todos (I Tes 5.14) com falta de convicção e tibieza de vontade.
Nós devemos ser firmes na defesa da verdade tal como o próprio Deus nos ordena:
“Desde os dias de João Batista até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele.” (Mt 11.12).
Como disse Thomas Watson: “A terra será herdada pelos mansos (Mt 5.5); mas o céu, pelos que batalham. A vida cristã é semelhante à vida militar. Cristo é nosso Capitão; o evangelho,
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nossa bandeira; as graças do Espírito, nossa artilharia espiritual. E o céu somente pode ser conquistado por meio da força. Ninguém vai ao céu, exceto os que batalham por ele.”. Isto é, nós comprovamos para nós mesmos que somos de fato verdadeiros cristãos, quando existe em nós esta disposição por batalhar em defesa da verdade que nos foi revelada do céu por Cristo (Jo 1.17), sobretudo para que ela seja aplicada à nossa própria vida.
Temos de ser violentos em favor da verdade. Citamos aqui a pergunta de Pilatos: “O que È a verdade?”. A verdade é a bendita Palavra de Deus, chamada a Palavra da Verdade, ou seja, as doutrinas que deduzimos da Palavra e que com ela concordam, assim como a fotocópia corresponde exatamente ao original.
Algumas destas doutrinas são a da Trindade, a da criação, a da graça gratuita, a da justificação pelo sangue de Cristo, a da regeneração, a da santificação, a da ressurreição dos mortos e a da vida na glória. Em favor destas verdades, temos de ser violentos, o que significa sermos advogados ou mártires delas.
A verdade é pura (Sl 119.140). …comparada ao ouro refinado sete vezes (Sl 12.6). Não existe qualquer mácula na verdade; ela exala somente a santidade. A verdade é triunfante, como um grande conquistador; quando todos os seus
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inimigos jazem mortos, ela permanece no campo de batalha e ergue seu troféu de vitória.
Deus está ao lado da verdade, e, mesmo que não haja temor, ela prevalecerá.” Os céus, incendiados, serão desfeitos” (2 Pe 3.12), mas isso não acontecerá à verdade que vem dos céus (1 Pe 1.25).
A verdade tem efeitos nobres. …a semente do novo nascimento. Deus não nos regenera através de milagres e de revelações, e sim por meio da verdade (Tg 1.18). Assim como a verdade produz a graça divina no coração, assim também ela nutre esta graça (1 Tm 4.6).
A verdade santifica: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
A verdade é o selo que imprime em nós a marca de sua própria santidade. Ela é o espelho e o lavatório: um espelho que nos mostra as culpas e um lavatório onde podemos removê-las.
A verdade nos liberta (Jo 18.32). Ela destroça as algemas do pecado e nos coloca na posição de filhos de Deus (Rm 8.11) e de reis (Ap 1.6).
A verdade é um antídoto contra o erro.
O erro é o adultério da mente; envenena a alma, assim como o álcool polui o sangue.
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O erro condena tanto quanto o faz qualquer outro pecado.
Uma pessoa tanto pode morrer por meio de assassinato, como por meio de envenenamento, mas que outra coisa pode aniquilar o erro, senão a verdade?
O motivo por que muitos têm sido iludidos pelo erro e pelo engano satânico é este: ou não conhecem, ou não amam a verdade.
Não posso dizer o suficiente para honrar a verdade. A verdade é o fundamento fiel, o alicerce de nossa fé. A verdade é um modelo correto do verdadeiro cristianismo, mostrando-nos em que devemos crer.
Se retirarmos a verdade, a nossa fé é simplesmente fantasia. A verdade é o melhor diamante na coroa dos cristãos.
Sem andar na verdade não pode haver santificação porque Jesus tem dito: “Santifica-os na verdade...”
Não temos uma joia mais preciosa do que nossas almas, para a confiarmos a Deus; e Ele não tem joia mais preciosa do que suas verdades, para confiar a nós.
A verdade é a insígnia de honra; ela nos distingue da falsidade comportamental, assim
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como a pureza distingue uma mulher virtuosa de uma prostituta.
Somos ordenados a batalhar, como se estivéssemos em agonia, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 1.3). Se a verdade for retirada de um povo evangélico, podemos escrever em seu epitáfio: “Foi-se a tua glória”..
Esta violência santa também se manifesta quando nos mostramos violentos contrariando a nossa própria vontade e desejos (diligentes e esforçados) em favor de nossa salvação.
“Procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição (2 Pe 1.10). A palavra grega significa cuidado zeloso, ou seja, nutrir sérios pensamentos a respeito dos assuntos da eternidade; um cuidado que nos leva a colocar nossa mente e coração em atividade. É nesta vereda do cristianismo, neste caminho estreito, que todo cristão zeloso deve andar.

Edition Notes

Published in
Rio de Janeiro, Brasil

The Physical Object

Format
Paperback
Pagination
x, 71p.
Number of pages
71
Dimensions
21 x 14,8 x 0,5 inches
Weight
111 grams

ID Numbers

Open Library
OL25937609M

Work Description

Religião cristã

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August 24, 2016 Edited by Silvio Dutra Edited without comment.
August 6, 2016 Edited by Silvio Dutra Edited without comment.
August 6, 2016 Created by Silvio Dutra Added new book.