A Força que Há na Humildade e na Mansidão

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September 2, 2016 | History

A Força que Há na Humildade e na Mansidão

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A boca de Deus, pelos lábios de Jesus Cristo, tem proferido que o Reino dos céus pertence aos que são humildes de espírito, e que a terra será herdada eternamente pelos mansos,
Há, portanto, uma força, um poder, implícitos nestas duas virtudes irmãs, que são evidências daqueles que alcançam o cumprimento das boas promessas de Deus.
Fazem bem às suas próprias almas todos aqueles que investigam minuciosamente quais são as virtudes aqui referidas por Jesus.
Qual é o caráter das mesmas?
Como são obtidas?
Como se aplicam às nossas vidas?
Procuramos responder estas e outras perguntas neste livro

Publish Date
Publisher
Silvio Dutra
Language
Portuguese
Pages
81

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Book Details


Published in

Rio de Janeiro, Brasil

Table of Contents

A Força que Há na Humildade e na Mansidão
Silvio Dutra
JAN/2016
2
A474
Alves, Silvio Dutra
A força que há na humildade e mansidão./Silvio
Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016.
81p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Cristianismo. 3. Virtudes.
I. Título.
CDD 232
3
Sumário
Introdução.................................................................
4
A Sublimidade da Mansidão e da Humildade.................................................................
5
Servos Inúteis...........................................................
23
Humildade > Graça > Força Espiritual........
31
"E andes humildemente com o teu Deus." (Miqueias 6.8) .........................................................
32
“Ele se humilhou" (Filipenses 2.8)................
34
Quebrantamento e Contrição.........................
36
Jesus Lava os Pés de Seus Discípulos............
45
Lembre-se! ................................................................
49
A Si Mesmo Se Humilhou.................................
58
Na Grandeza da Sua Humildade Repousa a Sua Glória...............................................................
60
Nosso Dever de Sermos Humildes...............
62
Humildade.................................................................
64
Humildade, Modéstia e Simplicidade.........
66
Humilhar-se Sob a Potente Mão de Deus...
70
Humilde Como Uma Criança...........................
77
4
Introdução
A boca de Deus, pelos lábios de Jesus Cristo, tem proferido que o Reino dos céus pertence aos que são humildes de espírito, e que a terra será herdada eternamente pelos mansos,
Há portanto, uma força, um poder, implícitos nestas duas virtudes irmãs, que são evidências daqueles que alcançam o cumprimento das boas promessas de Deus.
Fazem bem às suas próprias almas todos aqueles que investigam minuciosamente quais são as virtudes aqui referidas por Jesus.
Qual é o caráter das mesmas?
Como são obtidas?
Como se aplicam às nossas vidas?
Procuramos responder estas e outras perguntas neste livro.
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A Sublimidade da Mansidão e da Humildade
O amor em unidade é um dever.
Cristo ordenou aos Seus discípulos que eles devem se amar com o mesmo amor com o qual Ele os tem amado.
As características deste amor estão destacadas em I Cor 13 e ali nós podemos ver que não é um amor, que busca aos seus interesses, que não se irrita facilmente, que é paciente, benigno, sofredor, longânimo, que não se alegra com a injustiça, mas com a verdade, enfim é uma amor sobrenatural que procede da ação da graça do Espírito Santo em nossas mentes e nos nossos corações.
É um dever imposto à Igreja permanecer neste amor.
Quão difícil é manter o amor fraternal na unidade do Espírito Santo, porque demanda completa diligência da parte dos cristãos, na sua luta contra a carne, o diabo e o mundo.
Se alguém pretende fazer a vontade de Deus terá obrigatoriamente que renunciar ao que o mundo lhe oferece, e especialmente àquilo que
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é reprovado, não somente pela Palavra de Deus, como por uma boa consciência.
Entretanto, mesmo num mundo de trevas mais densas como o nosso, se comparado ao dos dias de Paulo, Deus continua usando de misericórdia.
Deus é santo e em tudo é perfeito.
Contudo, planejou restaurar pessoas que Ele criou e que se tornaram não apenas imperfeitas, como também completamente ignorantes de quem Ele seja.
A razão disto é a grandeza do Seu amor e da Sua misericórdia.
Este amor e misericórdia de Deus não são meros sentimentos de empatia e compaixão por seres que se tornaram de nenhum valor para Ele, e que viviam somente para os seus próprios prazeres egoístas, indiferentes à Sua Pessoa e vontade, agindo como seus inimigos.
A extensão disto não pode ser avaliada adequadamente por nenhum de nós, senão somente pelo próprio Senhor, cujo julgamento e conhecimento do real estado do nosso coração são perfeitos.
Por isso o evangelho é sobretudo o oferecimento deste amor e misericórdia para
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que pecadores possam ser restaurados pela graça à imagem de Jesus.
Podemos deduzir por nossos sentimentos, imaginações, pensamentos e ações, o quanto estamos longe da santidade, bondade, amor, misericórdia, justiça e todos os demais atributos infinitos e perfeitos de Deus, ou seja, de ser aquilo que Ele é em Sua própria natureza.
Tendo encerrado a todos debaixo da desobediência, Deus revelou qual era o Seu propósito de usar de misericórdia para com todos, como se vê em Rom 11.32, e demonstrou fartamente tanto aos anjos quanto aos homens o quanto é um Deus misericordioso.
Ele demonstrou com isto que não é bom somente para com aqueles que são perfeitos como Ele, mas para com todos os que desejam obedecer-Lhe, fazer Sua vontade e viver para Ele, porque afinal, tem feito isto com os pecadores que se arrependem e se entregam ao trabalho da graça, para serem aperfeiçoados, por meio da fé em Jesus.
Por isso o Espírito Santo habita nos cristãos, a saber, para a realização deste trabalho de transformação, para que assim como Cristo é, eles sejam também.
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Deus não poderia ter exibido a Sua misericórdia e perdão aos anjos eleitos, porque afinal, eles não caíram para uma perdição eterna como os anjos não eleitos, e quem é perfeito não necessita de perdão.
No entanto, assim como caíram os anjos não eleitos para uma queda final e eterna, também cairão os homens não eleitos, apesar de que no caso destes, foi feito a eles o convite da salvação do evangelho o qual eles rejeitaram deliberadamente, sendo esta a causa da sua ruína.
Contudo, não importa, quanto à eleição, o fato de ser pecador, porque através da eficácia da Sua misericórdia e graça, e do Seu perdão, Deus é poderoso para transformar pecadores em pessoas perfeitamente santas, porque elas também aspirarão a tal santidade.
Assim, se por um lado Deus odeia o pecado, por outro, é completamente longânimo para com todos os pecadores, especialmente nesta dispensação da graça.
Esta atitude de Deus para com o pecado e para com o pecador se explica pelo fato dEle saber que sem a Sua graça o homem permanece caído num estado miserável diante da Sua perfeição e santidade divina.
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Por mais que se esforce para agradá-lo, toda justiça própria do homem, não passa de trapo de imundície diante de Deus.
Somente a justiça de Cristo, que é atribuída (justificação), e implantada (santificação) pela fé nos pecadores, é a única que pode agradar a Deus.
Assim, se o pecado, as falhas, as imperfeições que vemos nos outros, ainda nos perturbam profundamente, a ponto de nos tirar a paz, é porque ainda não fomos transformados à semelhança de Jesus, de forma a vermos o pecado da mesma maneira que Ele o vê, a saber, com profunda misericórdia, especialmente, naqueles que desejam fazer a Sua vontade, mas que ainda não sabem o modo como se deve andar na Sua presença.
Grandes avivamentos são demonstrações da graça e misericórdia que Deus está oferecendo a todos os pecadores na presente dispensação.
São também demonstrações do amor de Deus porque o Espírito Santo é derramado abundantemente, e quando isto sucede, ocorre simultaneamente o derramamento do amor de Deus em nossos corações, porque Deus é amor.
Avivamentos são demonstrações abundantes da bondade, longanimidade, misericórdia e amor
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de Deus pelos pecadores, porque aprouve a Ele encerrar a todos na desobediência para usar de misericórdia para com todos, de maneira que pudesse exibir aos anjos e aos homens quão grande é a Sua paciência, bondade, amor e misericórdia, ao mesmo tempo em que demonstra o Seu juízo sobre aqueles que rejeitam tão grande graça e compaixão.
Tal como Jesus é, somos também chamados a ser neste mundo, seguindo as Suas pegadas de amor, graça e misericórdia.
Sem isto, o nosso zelo, sem discernimento destas verdades, somente servirá para produzir feridas em nós mesmos e naqueles que estão ao nosso redor, porque será um zelo sem amor e misericórdia; um zelo com muita ousadia e nenhuma moderação, porque temos recebido o Espírito de ousadia, mas Ele é também Espírito de amor e de moderação.
Lembremos portanto, que Deus detesta o pecado mas pode e quer perdoar qualquer tipo de pecado, exceto a blasfêmia contra o Espírito Santo.
Os cristãos não devem mais viver como viviam antes da sua conversão.
Eles foram chamados para viverem em unidade em amor, no poder e instrução do Espírito.
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Então a unidade referida pelo apóstolo é tanto unidade de mente, incluídos aí os pensamentos e a vontade; quanto de coração.
O homem não pode produzir isto. É fruto da graça de Deus.
Mas não podemos ter isto se não o buscarmos e se não formos diligentes nesta busca.
Os cristãos não devem ter um espírito de oposição porque Cristo veio desfazer todas as inimizades.
Não há portanto maior inimigo para um cristão do que o orgulho e a paixão, que nos levam a fazer as coisas em contradição a nossos irmãos.
Quando as fazemos para ostentarmos a nós mesmos, nós destruímos o amor cristão.
Lembremos que sem Cristo nada podemos fazer em relação às coisas celestiais, espirituais e divinas.
Até mesmo para a nossa obediência a Ele, o nosso coração e vontade devem ser dispostos pelo Seu poder e graça.
É Ele quem efetua em nós o querer e o realizar.
Se o Senhor não nos conduzir ao arrependimento pela Sua bondade,
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permanecemos endurecidos e incapazes de lhe obedecer, fazendo Sua vontade.
Então, não está em nós, a capacidade para produzir esta vida de Deus.
Isto explica a necessidade de termos um derramar contínuo da graça e do amor do Espírito Santo em nossos corações.
Cristo veio nos humilhar, e então não deve existir entre nós um espírito de orgulho.
Nós temos que ser severos com nossas próprias faltas, e misericordiosos com os julgamentos que fazemos das faltas dos outros.
Um espírito egoísta destrói o amor cristão.
Por isso não devemos buscar aquilo que seja do nosso próprio interesse sem levar em conta o que é do interesse dos outros.
Nós temos que amar o nosso próximo como a nós mesmos, sabendo que nós, tanto quanto eles, estávamos destituídos da graça de Jesus, em completa situação de miséria e debaixo de uma condenação eterna.
Importa fazer valer portanto sobretudo a misericórdia e a humildade em nosso testemunho de vida.
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Jesus nos deixou o exemplo supremo disto para que seguíssemos os Seus passos.
Se o fizermos somos bem-aventurados e temos a aprovação de Deus.
A Igreja de Filipos estava comunicando com as necessidades de Paulo na prisão, mas ele estava lhes lembrando que ainda que dessem todos os seus bens aos pobres, e ainda que dessem o corpo deles à fogueira, se eles não vivessem na unidade do amor de Cristo, em humildade, nada disto lhes aproveitaria.
Os que são de Cristo devem viver como Cristo viveu neste mundo deixando-nos o Seu exemplo para ser seguido por nós.
Cristo era totalmente manso e humilde de coração, como Ele próprio afirma em Mt 11.29.
Em tudo o que fez nunca estava buscando ser servido, mas servir; nunca estava buscando o que era do Seu interesse, mas buscar e salvar o que se havia perdido, como vemos em Lc 19.10; e tão intenso foi o Seu serviço em favor dos homens, que não tinha sequer onde reclinar a Sua cabeça, e raramente tirava tempo para descansar.
Ele se gastou completamente por amor aos pecadores, até à morte na cruz.
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Paulo chamou o exemplo de Cristo para alertar os filipenses porque ninguém jamais poderá se humilhar tanto quanto Cristo se humilhou, porque Ele não era nenhum homem pecador, mas se fez homem, sendo Deus, exaltado à destra do Pai, coroado de honra e glória diante dos serafins, querubins, arcanjos e anjos no céu.
E o que Jesus fez?
Humilhou-se a si mesmo, esvaziando-se e tomando a forma de servo, assumindo a natureza do homem, apesar de ser Deus, como Paulo afirma nos versos 6 a 8 do segundo capítulo de Filipenses.
Ele fez isto porque era governado completamente por um sentimento de humildade e não de orgulho.
E é este mesmo sentimento de Cristo que todos os cristãos devem ter, conforme se ordena em Fp 2.5.
Cristo não considerou uma desonra o fato de ter sido feito menor do que os anjos, ainda que por um determinado período, a saber, enquanto viveu neste mundo esvaziado da Sua glória divina, como vemos em Hb 2.9, porque considerou maior coisa fazer a vontade do Pai relativamente à salvação dos pecadores.
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Os cristãos têm um serviço para fazer para Deus, que é a continuidade do mesmo serviço de Cristo, e para tanto eles necessitam ter o mesmo sentimento de humildade que houve em Cristo Jesus.
Jesus comprovou a Sua humildade através da Sua obediência ao Pai, e é do mesmo modo que a nossa humildade é comprovada diante de Deus, a saber, na nossa obediência a Ele.
Jesus se manifestou também para o propósito de nos ensinar qual é o modo correto de se viver para Deus.
Este modo que ele nos revelou é em completa submissão e serviço, escolhendo fazer a vontade de Deus, em vez da nossa própria vontade, e gastando-se inteiramente na Sua obra, porque afinal nos deu vida para que trabalhássemos para Ele.
Fomos colocados neste mundo para tal propósito, e bem-aventurados são todos aqueles que descobrem e se aplicam a isto.
A humilhação voluntária de Jesus se comprova também no fato de que Ele tem o nome que é sobre todo o nome, como vemos no nono verso do segundo capitulo de Filipenses; e por isso, ao nome de Jesus se dobra e se dobrará todo joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da
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terra, e toda língua confessa e confessará que Jesus é Senhor.
Porque Ele sempre foi e será o Senhor de tudo e de todos.
E como se viu Este que é o Senhor, em Seu ministério terreno?
Na forma de servo e em completa humildade.
Servo na verdadeira acepção da palavra, ou seja, servindo de fato tanto a Deus quanto aos homens criados à Sua imagem e semelhança.
E como devem ser e andarem então os cristãos, os quais não estavam na glória do céu antes de serem gerados, e que nunca tiveram e jamais terão a mesma intensidade de glória do Senhor deles?
Caberia se deixarem dominar por qualquer forma de orgulho ou vanglória à vista deste exemplo supremo?
Jesus viveu suportando pacientemente a maldade dos homens, em grande pobreza a ponto de não ter onde reclinar a cabeça; viveu de ofertas e sabia o que era a aflição; não viveu em pompa externa e não buscou nenhuma posição que o exaltasse sobre os demais homens, buscando fama e honrarias deste mundo.
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Ele não deu somente o Seu serviço aos homens mas sobretudo a Sua própria vida morrendo por eles na cruz.
Ninguém nunca desceu tanto ou poderá descer tanto em humilhação, quanto nosso Senhor, porque Ele estava na glória do céu quando veio assumir a nossa humanidade, ao ser gerado com um corpo humano no ventre de Maria.
Ele passou a ter a natureza humana além da natureza divina na qual Ele subsistia, e consentiu, apesar de sua perfeição gloriosa, em suportar conviver com pecadores falhos, impuros, imperfeitos e ignorantes como nós.
Se Ele não tivesse feito isto, jamais poderíamos receber a natureza divina para estar em nós, além da nossa natureza humana.
Para nós, receber a natureza divina é uma grande honra e glória. Mas para Cristo, assumir a nossa natureza humana, sendo Deus, foi uma grande humilhação, mas a Palavra nos afirma que Ele não se envergonhou disto, porque não se envergonha em nos chamar de irmãos, por ter-se feito semelhante a nós, como lemos em Hb 2.11 e 11.16.
Em face dos argumentos apresentados quanto à humilhação de Cristo e da consequente exaltação relativa à recompensa da Sua
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humilhação, e da necessidade de os cristãos seguirem o Seu exemplo, o apóstolo afirmou em Fp 2.12 que a consequência lógica e natural de tudo isto é que todos os cristãos devem desenvolver a sua salvação com temor e tremor; ou seja, os cristãos devem ter a devida consideração para com estas verdades, quanto ao que é esperado deles, de maneira que se tornem semelhantes ao Seu Senhor.
Desenvolver a salvação nada mais é do que se santificar em obediência à vontade de Deus.
Não somos naturalmente humildes.
Ao contrário, somos governados pela carne (natureza terrena pecaminosa).
Por isso é preciso mortificar a carne para que possamos ser governados pelo Espírito Santo, e assim, crescermos em humildade diante de Deus, para que Ele possa nos transformar segundo a semelhança de Cristo.
Ao falar de desenvolver a salvação, Paulo falou também no mesmo versículo 12 sobre obediência voluntária e resultante de uma disciplina consciente em cumprir a Palavra de Deus, mesmo quando não estamos na presença dos nossos líderes espirituais.
É necessário ter esta reverência ao Senhor com santo temor e tremor porque é Ele quem opera
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em nós, em relação ao desenvolvimento da nossa salvação, tanto o querer quanto o efetuar, não segundo aquilo que seja da nossa vontade, mas da Sua boa vontade divina, como se vê no verso 13.
Porque a nossa vontade natural quer sempre fazer aquilo que seja do nosso próprio interesse egoísta, mas a vontade de Deus é santa, perfeita, boa, agradável, e é esta vontade que o Espírito Santo quer implantar na nossa natureza.
O Espírito Santo não nos foi dado portanto para fazermos o que seja da nossa própria vontade, mas aquilo que é da vontade de Deus, na transformação de nossas vidas.
Quando o Espírito luta contra a carne não é para fazer a nossa vontade, mas para aplicar em nossas vidas a vontade de Deus, como vemos em Gál 5.17.
Em outras palavras, se não tivermos temor e tremor de Deus e da Sua Palavra, Ele consequentemente não atuará na nossa vontade e não operará na liberdade do Espírito para nos dar amadurecimento espiritual.
Então, efetuar, trabalhar, desenvolver a nossa salvação nada mais é do que cooperar com o Espírito Santo para o nosso amadurecimento espiritual, através do processo de santificação.
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É a graça de Deus que inclina a nossa vontade ao que é bom, e que nos permite executar o bem.
Não há nenhuma força, mérito ou capacidade em nós mesmos, que nos habilite a fazer a obra de Deus.
Além destas coisas recomendadas, Paulo lhes disse no verso 15 que para se tornarem irrepreensíveis e sinceros, como imaculados filhos de Deus, resplandecendo como luminares no mundo, no meio de um geração corrupta e perversa, deveriam fazer todas as coisas sem murmurações nem contendas; e retendo a palavra de Deus, que Paulo chama de palavra da vida no verso 16, porque é por meio dela que recebemos a vida eterna do Senhor que se manifesta em nós.
A fé é tanto maior, quanto mais habite ricamente em nós a Palavra de Deus, porque a fé é gerada pela Palavra, e a vida, pela fé, porque se afirma que o justo viverá pela fé.
Estes três são portanto mutuamente dependentes, e não podem ser separados, a saber: Palavra, fé e vida eterna.
A simples citação destas verdades não faz com que o nosso espírito se eleve, e sinta o desejo de louvar o grande nome do Senhor ?
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Não há um mover do Espírito Santo quando aplicamos o nosso coração a meditar nestas palavras?
Certamente que sim, porque são palavras verdadeiras, e Ele é o Espírito da verdade, que exulta com a verdade, toda vez que nos aplicamos a ela.
Mais uma vez, como em quase todas as suas epístolas, Paulo afirma no verso 16 do segundo capítulo de Filipenses, o propósito do esforço dos ministros em aperfeiçoarem os cristãos em santificação: para que eles possam se gloriar no dia de Cristo de não terem se esforçado e trabalhado em vão para Ele, preparando o Seu povo para se apresentarem diante dEle, ao saírem deste mundo, santos, inculpáveis e irrepreensíveis.
Por isso, os cristãos não devem viver murmurando, mas, ao contrário, dando graças por tudo a Deus; e também não em contendas, mas num só espírito, vinculados pelos laços do amor do Espírito, e eles terão isto se aplicando-se à prática da Palavra de Deus.
Todavia, ainda que eles viessem a fracassar, Paulo diz nos versos 17 e 18 que estava disposto a sofrer até mesmo o martírio em benefício da fé deles, e que continuaria se alegrando e se regozijando com eles, porque afinal havia ganho
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todos eles para Cristo, e que por isto jamais desistiria de continuar trabalhando em prol do aperfeiçoamento deles, motivo pelo qual também deviam se regozijar juntamente com ele.
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Servos Inúteis
“Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lc 17:10).
Este é o veredicto da auto-humilhação dado de coração pelos servos que haviam laboriosamente cumprido completamente o seu dever diário.
Este é o propósito da parábola proferida pelo Senhor Jesus para repreender todas as noções de autoimportância e mérito humano.
Quando um servo tem lavrado ou apascentado o rebanho, seu senhor não lhe diz: "Sente-se e eu vou esperar por você, porque eu estou profundamente em débito contigo." Não, seu senhor lhe pede para preparar a refeição da noite e esperar por ele. Seus serviços são devidos e, assim, o seu senhor não o elogia como se ele fosse uma maravilha ou um herói. Ele só está fazendo o seu dever se ele persevera desde a luz da manhã até o por do sol, e nem por isso espera ter seu trabalho realizado para ser admirado ou recompensado com pagamento extra e humildes agradecimentos. Nem devemos nos orgulhar de nossos serviços, mas confessar que somos servos inúteis.
24
Quando eu estive muito doente no sul da França e profundamente deprimido em espírito, que eu mal sabia como conviver com uma daquelas pessoas maliciosas que comumente assombram todos os homens públicos e, especialmente, ministros, me enviaram anonimamente uma carta aberta dirigida a "Esse servo inútil, C.H. Spurgeon".
Esta carta continha folhetos dirigidos pelos inimigos do Senhor Jesus, com passagens marcadas e sublinhadas - com notas aplicativas a mim. Quantos Rabsaqués existem, nestes dias, que têm escrito a mim! Normalmente eu os leio com a paciência. Eu não procuro por isenção de julgamento a partir desta contrariedade, nem costumo sentir que seja difícil de suportar, mas na hora em que meu espírito estava deprimido e eu estava com uma dor terrível, esta carta injuriosa me feriu rapidamente. Virei-me na minha cama e me perguntei – eu sou, então, um servo inútil? Eu sofria muito e não podia levantar a minha cabeça ou encontrar descanso.
Revi minha vida e vi suas fraquezas e imperfeições, mas não sabia como colocar meu caso até que este texto de Lucas 17.10 veio para meu alívio e respondeu como um veredicto ao meu coração ferido. Eu disse a mim mesmo: "Eu espero que eu não seja um servo inútil, no sentido em que esta pessoa tem a intenção de me chamar assim, mas eu sou seguramente isto
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em outro sentido." Eu me lancei ao meu Senhor e Mestre, mais uma vez com um senso mais profundo do significado do texto do que eu tinha antes - Seu sacrifício expiatório me reviveu e em humilde fé eu encontrei descanso. A propósito, eu me pergunto se qualquer ser humano deveria encontrar prazer na tentativa de infligir dor àqueles que estão doentes e deprimidos, mas ainda existem pessoas que se deleitam em fazê-lo. Certamente, se não há espíritos malignos abaixo, há alguns lá em cima e os servos do Senhor Jesus receberão as provas dolorosas da sua atividade!
Nosso texto é para nos repreender se pensamos que fizemos o suficiente, que suportamos a fadiga e o calor do dia por um longo tempo. Se concluirmos que temos realizado um bom e útil trabalho e que devemos ser convidados para ir para casa para descansar, o texto nos repreende. Se sentimos uma cobiça incomum por conforto e desejo que o Senhor nos dê alguma recompensa presente e marcante para o que temos feito, o texto nos envergonha. Isto é próprio de um espírito orgulhoso, inservível, e deve ser abatido com uma mão firme.
Em primeiro lugar, de que forma podemos ser úteis para Deus? Elifaz disse muito bem: "Porventura, será o homem de algum proveito a Deus? Antes, o sábio é só útil a si mesmo. Ou tem o Todo-Poderoso interesse em que sejas justo
26
ou algum lucro em que faças perfeitos os teus caminhos?”, Jó 22.2,3. Se temos dado a Deus de nossa substância, é Ele nosso devedor? De que forma é que se enriquece Aquele a quem pertence toda a prata e todo o ouro? Se nós colocamos as nossas vidas com a devoção dos mártires e missionários por causa dele, o que é isto para Ele, cuja Glória enche os céus e a terra? Como podemos sonhar em colocar o Eterno em dívida conosco? Como pode um homem colocar no seu Criador uma obrigação para com ele? Que não cometamos tal blasfêmia!
Queridos irmãos e irmãs, devemos lembrar que qualquer serviço que temos sido capazes de prestar tem sido uma questão de dívida. Espero que nossa moralidade não tenha caído tão baixo que nos leve a dar o crédito a nós mesmos para o pagamento de nossas dívidas! Eu não acho os homens no mundo dos negócios orgulhando-se e dizendo: "Eu paguei mil libras esta manhã para o fulano!" “Bem, você deu isto a ele?" "Oh, não, era tudo devido a ele!" É isto alguma grande coisa? Já chegamos a um estado de tão baixa moral espiritual que pensamos que temos feito um grande negócio quando damos a Deus o que lhe é devido? "É Ele que nos fez, e não nós a nós mesmos." Jesus Cristo nos resgatou, "não nós mesmos", pois somos "comprados por preço".
Também entramos em aliança com Ele e nos entregamos a Ele voluntariamente. Não fomos
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batizados em seu nome e na sua morte? O que quer que possamos fazer é apenas o que Ele tem o direito de reclamar de nossas mãos por causa da nossa criação, redenção e professada entrega a ele. Quando temos perseverado no árduo trabalho de arar até que nenhum campo seja deixado sem ser arado, quando fizermos o agradável trabalho de alimentar as ovelhas e quando tivermos terminado, preparando a mesa de comunhão para o nosso Senhor - quando tivermos feito tudo que deveríamos ter feito – fizemos nada além do nosso dever! Por que se gloriar, então, ou chorar por uma recompensa, ou buscar um agradecimento?
Muito acima de tudo isto, há a triste reflexão de que, infelizmente, em tudo o que fizemos, temos sido inúteis por sermos imperfeitos.
Quanto a mim, sou obrigado a dizer com verdade solene que eu não estou contente com qualquer coisa que eu já tenha feito. O que quer que a Graça tem feito por mim eu reconheço com profunda gratidão, mas conquanto não tenha feito nada de mim mesmo, peço perdão por isso. Peço a Deus que perdoe minhas orações, pois elas estavam cheias de culpa. Rogo a Ele para perdoar até esta confissão, pois não é tão simples como deveria ser. Peço-lhe para lavar minhas lágrimas e limpar minhas devoções e batizar-me num verdadeiro sepultamento com meu Salvador para que eu
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possa esquecer completamente de mim e somente me lembrar dele. Ah, Senhor, Tu sabes o quanto estamos aquém da humildade que devemos sentir. Perdoe-nos esta coisa. Somos, todos nós, servos inúteis, e se o Senhor fosse nos julgar pela Lei, certamente deveríamos ser lançados fora.
Uma vez mais, não podemos nos congratular afinal, mesmo que tenhamos tido sucesso na obra de nosso Senhor, pois por tudo o que temos feito estamos em débito com a graça abundante do Senhor. Se tivéssemos feito todo o nosso dever, não poderíamos ter feito coisa alguma, se Sua Graça não nos permitisse fazê-lo! Se o nosso zelo não conhece pausa, é Ele que mantém o fogo aceso! Se as nossas lágrimas são de arrependimento, é Ele que atinge a rocha e busca as águas a partir dela! Se há alguma virtude, se há algum louvor, se há fé, se há qualquer fervor, se há alguma semelhança com Cristo, somos feitura dele, criados para Ele e, portanto, não devemos dar a nós mesmos, a mínima partícula de louvor!
O que lhe damos vem de ti mesmo, grande Deus! Portanto, os melhores de nós são ainda servos inúteis! Se tivermos um motivo especial para arrependimento por causa de algum erro evidente, devemos ser sábios e nos apresentarmos ao Senhor com um espírito humilde e confessar a culpa e, então, continuar
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a fazer o trabalho de cada dia com um espírito laborioso e esperançoso. Sempre que você estiver angustiado por não conseguir fazer o que deveria; sempre que perceber a imperfeição de seu próprio serviço e se condenar por isso, a melhor coisa é fazer algo mais na força do Senhor. Se você não tiver servido Jesus bem até agora, vá e faça melhor!
Se você cometer um erro, não diga a todo mundo e não diga que nunca irá tentar novamente, mas faça duas coisas boas para compensar a falha. Diga: "Meu amado Senhor e Mestre não deve ter mais um perdedor em mim. Eu não vou me preocupar tanto sobre o passado como alterar o presente e despertar para o futuro." Irmãos e irmãs, tentem ser mais úteis e peçam mais Graça. O negócio do servo não é esconder-se num canto do campo e chorar, mas sair para arar. Você não deve balir com as ovelhas, mas alimentá-las e assim provar o seu amor a Jesus. Você não deve ficar na cabeceira da mesa e dizer: "Eu não aprontarei a mesa para o meu Mestre, assim como eu poderia ter desejado." Não! Vá e prepare melhor!
Tenha coragem, você não está servindo um mestre severo e, embora você se chame muito adequadamente de servo inútil, tenha bom ânimo, porque um veredicto mais suave deve ser pronunciado sobre você antes do tempo. Você não é o seu próprio juiz, seja para o bem ou
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mal, outro juiz está à porta e quando Ele vier, Ele vai pensar melhor de você do que a sua auto-humilhação permite que você pense de si mesmo. Ele vai te julgar pela regra da Graça e não pela Lei e Ele porá um fim em tudo o que procede de um espírito legalista e que paira sobre você com asas de vampiro.
emissário da Síria para intimidar com palavras o povo judeu nos dias do rei Ezequias.
Extraído de um texto de Charles Haddon Spurgeon, em domínio público, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra. (2ª parte do sermão de nº 1541)
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Humildade > Graça > Força Espiritual
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.” (Mateus 5.3)
Sejamos humildes e deixemos de lado toda a vanglória, orgulho e ira, pois temos o dever de sermos misericordiosos, à vista da grande misericórdia que temos recebido da parte de Deus.
“Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai.” (Lc 6.36)
Precisamos ser fortalecidos pela graça de Jesus para que possamos cumprir este mandamento, e sermos achados naquela condição de alma e espírito que lhe agradam.
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"E andes humildemente com o teu Deus." (Miqueias 6.8)
Nos dias desta exortação do profeta o povo de Israel estava tentando apaziguar-se com Deus meramente pela apresentação de sacrifícios no templo.
Com isto, pensavam que ele poderia fazer vistas grossas para os seus pecados.
Eles julgavam que pelo simples fato de serem descendentes de Abraão, e de ter Deus feito uma aliança com eles, que isto era suficiente para se sentirem seguros quanto ao favor de Deus em relação a eles, que lhes garantiria um viver em vitória neste mundo.
O mesmo sucede com a Igreja de Cristo, quando os cristãos se sentem seguros pelo fato de terem sido justificados e regenerados quando se converteram, e não se ocupam mais com o assunto da santificação de suas vidas, por uma sincera prática da Palavra de Deus.
Faríamos bem em deixar sempre soar em nossos ouvidos a indagação do profeta que foi dirigida aos israelitas: “O que o Senhor pede de ti?”, e a conclusão da resposta encontra-se no título do nosso texto. Esta mesma inquirição foi dirigida por Moisés a eles em seus dias: “Agora,
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pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti?” (Deut 10.12).
O que o Senhor requer dos cristãos?
Devemos responder com sinceridade a esta pergunta para nós mesmos.
Deus requer a fé, a justiça a misericórdia, o amor, porque é por cumprir os seus mandamentos que provamos que o amamos de fato.
Vãs serão todas as obras que fizermos em seu nome, caso não sejam acompanhadas por este esvaziamento do nosso ego, que comprova que andamos em humildade perante ele, para que possamos ser guiados à prática da sua Palavra pela instrução, direção e poder do Espírito Santo.
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“Ele se humilhou" (Filipenses 2.8)
Jesus é o grande mestre da humildade de coração. Precisamos aprender diariamente dele. Veja o Mestre tomando uma toalha e lavando os pés dos seus discípulos! Seguidor de Cristo, tu não te humilhas? Veja-o como o Servo dos servos e, certamente, tu não podes permanecer orgulhoso! Não é esta a sentença do compêndio de sua biografia: "Ele humilhou-se"? Ele não estava na Terra, sempre tirando primeiro um manto de honra e depois outro, até que fosse preso nu à cruz, e ali ele não se esvaziou do seu ser mais íntimo, derramando o seu sangue da vida, dando-se por todos nós, até que eles o colocassem num túmulo emprestado?
Quão baixo o nosso querido Redentor desceu! Como, então, podemos nos orgulhar? Coloquem-se ao pé da cruz, e contem as gotas vermelhas pelas quais foram limpos, vejam a coroa de espinhos; fixem os ombros açoitados, ainda jorrando com sulcos avermelhados; vejam as mãos e os pés dados ao ferro bruto, e sendo alvo de zombaria e escárnio; contemplem a amargura, e as dores e os espasmos de dor interior, mostrando-se na sua estrutura exterior; e ouçam o grito emocionado: "Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?" E se você não cair prostrado no chão diante dessa
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cruz, você nunca a viu: se você não for humilhado na presença de Jesus, você não o conhece.
Você estava tão perdido que nada poderia salvá-lo, mas somente o sacrifício do Deus unigênito. Pense nisso, e assim como Jesus se humilhou por você, curve-se com humildade aos seus pés. O senso do maravilhoso amor de Cristo por nós tem uma tendência maior para nos humilhar do que consciência da nossa própria culpa. Que o Senhor possa nos trazer na contemplação do Calvário, então a nossa posição não será mais a do homem pomposo cheio de orgulho, mas tomaremos a posição humilde de alguém que ama muito, porque foi muito perdoado. O orgulho não pode viver sob a cruz. Vamos sentar e aprender a nossa lição, e, em seguida, nos levantemos e a coloquemos em prática.
Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
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Quebrantamento e Contrição
Deveríamos dar uma atenção especial a este assunto uma vez que Deus afirma em Sua Palavra que em relação aos que têm o coração quebrantado e contrito, Ele habita, vivifica, salva, está perto, valoriza, e contempla.
Salmo 34.18 Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito.
Salmo 51.17 O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.
Isaías 57.15 Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos.
Isaías 66.2 A minha mão fez todas essas coisas, e assim todas elas vieram a existir, diz o Senhor; mas eis para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito, que treme da minha palavra.
O sofrimento não tem o propósito de ser algo em vão nas nossas vidas, do ponto de vista de Deus,
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pois tem determinado principalmente que através dele sejamos transformados segundo a Sua vontade e Palavra, para que Ele seja glorificado. A paciência na tribulação, no sofrimento que ela produz, é de grande valor para Deus, e também para nós, porque é por meio disto que aprendemos a ser pacientes e perseverantes nas coisas do Senhor, ensinando-nos a amar com o mesmo amor de Deus, que é sofredor, isto é, longânimo em sofrer em razão do pecado que há no mundo.
Uma visão correta da aflição é completamente necessária para um comportamento verdadeiramente cristão sob elas.
Carregar a cruz voluntariamente faz com que ela se torne leve, mas carregá-la com a mente perturbada por inquietações à busca de respostas fora de Deus para aquilo que se esteja experimentando, quando estas provas vêm da Sua parte, somente serve para aumentar o peso da cruz que carregamos.
Ter um espírito contrito e quebrantado na aflição é algo muito apropriado para acalmar as agitações do coração, e nos fazer pacientes debaixo dela.
Como Deus tem afirmado que que é com o coração quebrantado e contrito que Ele trabalha e dá sua especial atenção, então importa
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sabermos que Ele mesmo há de providenciar os meios para este quebrantamento e contrição, já que naturalmente não somos isto, senão altivos e autoconfiantes além da medida que convém.
Por isso Jesus nos deixou um legado de aflição no mundo, para o propósito mesmo de sermos aperfeiçoados por Deus em santidade.
Cruzes nos são trazidas no curso de nossas vidas para que as carreguemos, com o alvo de nos quebrantarem.
Importa carregarmos pacientemente estas cruzes e ver a mão de Deus nisto, porque, efetivamente, não há nenhuma aflição aqui embaixo que não tenha sido ligada ou permitida no céu.
A Palavra ensina que tanto o dia da prosperidade quanto o da adversidade procedem da parte de Deus, “que fez assim este como aquele para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.”, isto é, para que ninguém saiba o que lhe reserva o futuro, e assim vivam dependendo inteiramente de Deus, confiando suas almas ao fiel Criador na prática do bem, enquanto caminham neste mundo.
A adversidade e a nossa vontade não se harmonizam porque nossa alma não acha
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sossego enquanto debaixo das situações que a afligem.
Então necessitamos do poder da graça divina para nos sustentar sobretudo nas adversidades para as quais não há em nós qualquer poder ou habilidade para superá-las. Mas, na renúncia à nossa própria vontade, ficamos abertos à vontade de Deus, e este é o bom serviço que as tribulações podem nos prestar; de maneira que o apóstolo Paulo afirma que importa entrarmos no reino dos céus por meio de muitas tribulações, e o apóstolo Tiago que deveríamos tê-las por motivo de grande alegria.
A humildade e a mansidão de espírito nos qualificam para o relacionamento e a comunhão amigável com Deus por meio de Cristo. O orgulho fez de Deus nosso inimigo. Nossa felicidade e futuro aqui dependem do nosso relacionamento amigável no céu.
Assim a humildade é um dever que agrada a Deus, e o orgulho um pecado que agrada ao diabo. Por isso Deus exige de nós que sejamos humildes, especialmente debaixo da aflição. “Cingi-vos todos de humildade...” (I Pe 5.5).
O humilde e manso de coração terá paz e descanso em sua alma e mente, enquanto o orgulhoso terá a aflição reinando em ambas.
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O subjugar de nossas paixões é mais valioso do que ter todo o mundo debaixo da nossa vontade.
O trabalho de carregar a cruz deve ser em cada dia, em todos os dia da vida, porque se removermos a cruz, a vontade própria prevalecerá.
Portanto, é melhor ter um espírito humilde e quebrantado do que ter a cruz removida.
Se alguém não tomar voluntariamente a sua cruz a cada dia, não poderá fazer a obra de Deus de modo constante e agradável a Ele, porque o ego se levantará e se oporá àquilo que for da Sua vontade.
Quão perigoso é para aqueles que estão envolvidos na seara do Senhor desejarem que a cruz seja removida. Quando aspiram por total falta de problemas, de oposições, de perseguições, de dificuldades, e começam a se encantar de novo com a alegria puramente mundana, eles constatarão que a infidelidade a Deus terá invadido os seus corações, e que já não amam tanto a Sua obra e vontade quanto antes.
Por isso não se pode lançar a mão do arado e olhar para trás. Envolver-se na guerra do Senhor exige que seja considerado o custo relativo à necessidade de consagração e renúncia à própria vontade.
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Ninguém será um apóstolo como Paulo enquanto não estiver crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele.
O levar no corpo o morrer de Jesus é o que gera a verdadeira vida eterna. Se o grão de trigo não morrer ele ficará só. Não há frutificação na lavoura de Deus sem este morrer operado pela cruz. É neste sentido que o estar apegado à vida nos leva a perdê-la, e o perdê-la por amor de Cristo, a achá-la.
Muito desta mortificação da carne, desta auto negação está exatamente em se seguir à exortação do apóstolo Pedro em sua primeira epístola, na qual exorta todos à submissão de uns para com os outros e particularmente às linhas de autoridade estabelecidas por Deus: os servos a seus senhores, as esposas aos esposos, os filhos aos pais, os cidadãos às autoridades, as ovelhas aos pastores, os jovens aos anciãos.
Toda esta submissão de coração somente será possível caso se tenha humildade. Estas duas atitudes estão ligadas inseparavelmente por Deus, assim como Ele ligou o arrependimento à fé.
A seu tempo, Deus exaltará o que se humilha. Ele elevará aquele que se humilhou debaixo da sua potente mão, no tempo que Ele tiver determinado. Então o caminho para a elevação é
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se humilhar. É neste sentido que o maior de todos é o que mais serve.
Afligir o nosso espírito especialmente nas aflições, e não somente nelas, é o nosso dever, mas o elevá-lo é trabalho exclusivo de Deus. E todo aquele que a si mesmo tentar se exaltar será humilhado por Deus. Mas todo o que se humilhar será exaltado (Mt 23.12).
O recusar-se a se humilhar é portanto recusar o único caminho para a verdadeira exaltação.
É interessante observar que a exaltação é geralmente proporcional ao nível da humilhação. Ninguém se humilhou ou poderá se humilhar mais do que Cristo porque Ele se rebaixou, se esvaziou se humilhou sendo Deus, e sendo homem perfeito, sem pecado, e portanto ninguém poderá ser mais exaltado do que Ele, e por isso recebeu um nome que é sobre todo nome.
Este feliz evento da exaltação acontecerá no tempo próprio. No tempo próprio nós colheremos se não desfalecermos. Mas há aquela raiz de orgulho que está no coração de todos os homens que vivem na terra, que deve ser mortificada antes que eles possam ser considerados aptos para o céu, e por isso Deus os levará a circunstâncias humilhantes com vistas a atingir o referido fim. Foi por isso que Deus
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conduziu o povo de Israel naqueles quarenta anos no deserto, para os humilhar, provar e saber o que estava no coração deles.
o coração é naturalmente hábil para se revoltar contra estas circunstâncias humilhantes, e por conseguinte a mão poderosa do Senhor as traz e as mantém lá. O homem redobra suas forças naturais para fugir da dificuldade levantando a sua cabeça, e murmura por causa das suas aflições, e poucos dizem que confiam que o seu Criador por fim os abençoará.
Há muitas imperfeições naturais e morais em nós. Nossos corpos e nossas almas, em todas as suas faculdades, estão em um estado de imperfeição. O orgulho de toda a glória está manchado; e é uma vergonha para nós não nos humilharmos em tudo o que se refere a nós, e tentarmos nos apresentar a Deus como pessoas que não têm do que ser perdoadas e lavadas. É certo que no caso dos crentes o Espírito fez uma grande obra de regeneração e iniciou o processo de santificação, mas enquanto permanecem no mundo há muitas corrupções que remanescem na carne, e das quais devem se humilhar, se arrepender, e abandonar (II Crôn 7.14).
Uma das maiores provas da nossa humilhação é exatamente a de se submeter, de se render à vontade de Deus debaixo das nossas aflições, porque é exatamente nestas horas que o velho
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homem mais se levanta em seu orgulho e procura resistir com todas as suas forças procurando o modo de se livrar das coisas que o afligem sem contar com o fato de que é somente se submetendo ao Senhor que é possível ser livrado das aflições que Ele mesmo determinou para nos provar.
Então permita que as circunstâncias humilhantes tornem o seu espírito humilde, e assim você será útil nas mãos de Deus e será poupado de muitas aflições, porque elas têm em sua maioria exatamente este grande propósito de nos humilhar. E se somos achados humildes, então é nesta condição que o Senhor nos exaltará pois não haverá o risco de que sejamos vencidos pelo orgulho.
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Jesus Lava os Pés de Seus Discípulos
“Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?” (João 13.6)
Jesus tirou seu manto superior e se cingiu com uma toalha e começou a lavar os pés dos seus discípulos.
Jesus lavou todos os crentes, uma vez por todas, com o Seu precioso sangue. Esse é um assunto do passado – uma coisa pela qual bendizemos a Deus por toda a eternidade. Estamos limpos, através do sangue de Jesus. Mas aqui temos um outro tipo de lavagem - não de todo o homem, mas de apenas os pés. Não com sangue, mas com água.
Será que nosso Senhor faz algo desse tipo agora? Ele faz algo tão humilhante para si mesmo e ao mesmo tempo tão necessário para nós?
Nós respondemos: Sim, ele faz.
É nesse sentido que Jesus lava os pés do Seu povo: quando coloca longe de nós cada dia as nossas fraquezas e pecados.
Você tem que admitir que tem caído novamente nos mesmos pecados pelos quais a Graça lhe foi
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fornecida há muito tempo. E ainda Jesus Cristo terá muita paciência com você! Ele vai ouvir a sua confissão do pecado e dirá: "Eu vou limpá-lo." Ele aplicará novamente o sangue da aspersão - Ele falará de paz à sua consciência e removerá toda impureza. Oh, é um grande ato de amor eterno quando Cristo, uma vez por todas absolve o pecador, e o tira de debaixo do domínio da lei e o coloca na família de Deus! Mas quão grande longanimidade e paciência há quando o Salvador suporta a nossa insensatez diária. Dia a dia e hora a hora Ele remove o pecado constante da criança que erra, mas que ainda ama!
Secar uma enxurrada de pecados é algo maravilhoso - mas suportar o pingar constante de pecados diários - isto é Divino, de fato!
Jesus faz com que nossas obras sejam aceitáveis. Estas podem ser comparadas aos pés da alma. É pelos pés que um homem expressa sua atividade - a caminhada de um cristão - com isto queremos nos referir às boas obras que o cristão realiza para o seu Mestre. Nossas obras – nosso ensino pregação, orações, esmolas, pensamentos e ações não carregam qualquer mérito ou perfeição em si mesmas, mas Cristo não é injusto para se esquecer do nosso trabalho de fé e de amor, mas faz com que seu Pai seja glorificado por darmos muito fruto.
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Ele lava as nossas obras, de modo que sejam aceitáveis.
Você não teve escolha nas manifestações de Cristo em seu pior estado - Ele lhe colocou debaixo do Seu cuidado.
O Senhor Jesus ama o seu povo de tal forma, que a cada dia Ele está lavando seus pés! Ele sente sua mais profunda tristeza. Sua menor necessidade Ele atende. Seu maior pecado Ele perdoa. Ele ainda é o seu servo, bem como o seu amigo – e ainda toma a bacia e usa a toalha.
Agora, Deus nunca castiga seu povo por causa de qualquer pecado neles, a fim de puni-los por seus pecados - Ele puniu Cristo de uma vez para sempre no lugar deles. Mas agora, se pecamos, não deveríamos todos os dias ir diante de nosso Pai celeste e confessar o pecado e reconhecer a iniquidade? A Graça Divina de Deus no coração iria nos ensinar que deve ser assim.
Supondo que esta ofensa contra o meu Pai não é imediatamente lavada e afastada pelo poder purificador do Senhor Jesus - qual será a consequência disso? Por que deveria ficar sob a escravidão do mau hábito? Se eu não estiver lavado, eu devo muito em breve ter necessidade de sentir a vara da correção e certamente vou tê-la.
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Mas oh, amados, se o Senhor Jesus Cristo, dia a dia virá a mim e lavar-me-á destas corrupções contra o meu Pai - devo então, em grande medida, escapar da vara! Vou sentir um santo amor por meu Pai! Vou andar na luz de Seu rosto! Devo ter alegria e paz através da fé e vou correr a carreira cristã, não somente como salvo, mas desfrutando presentemente da paz em Deus através de Jesus Cristo, meu Senhor!
Citações de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
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Lembre-se!
"Lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito e de que o Senhor, teu Deus, te remiu;" (Deuteronômio 15.5)
Em uma autobiografia de William Jay, lemos que em uma ocasião ele foi chamado para ver o famoso Sr. John Newton, em Olney, e ele observou que sobre a mesa em que estava acostumado a compor seus sermões, ele havia escrito em grandes letras as seguintes palavras: "Lembre-se que você era um escravo na terra do Egito, e o Senhor teu Deus te resgatou".
O Sr. Newton viveu e agiu sob a influência da memória dos comandos deste texto, como foi observado naquela manhã em sua conversa com o Sr. Jay. "Senhor", disse Newton, "Eu estou contente em vê-lo, pois acabei de receber uma carta do Sr fulano de tal, residente em Bath, e você talvez possa me ajudar na resposta a ele. Mr. Jay respondeu que o homem era uma pessoa horrível, tinha sido um ouvinte do Evangelho, mas tornou-se um líder em todos os vícios. "Mas, senhor", disse Newton, "ele escreve muito penitentemente? Talvez uma mudança possa ter ocorrido a ele." "Bem", disse Jay, "Eu só posso dizer que, se alguma vez ele se converteu, então eu não devo perder a esperança sobre qualquer pessoa." "E eu", disse Newton, "nunca tenho
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perdido a esperança de ninguém desde que eu me converti."
Então, você vê, como ele pensava deste pobre pecador em Bath, ele estava se lembrando que ele, também, foi um escravo na terra do Egito e que o Senhor seu Deus o tinha resgatado. E por que não deveria a mesma redenção chegar até este transgressor notório e salvá-lo? A memória de sua própria mudança graciosa de coração e de vida deu-lhe ternura no trato com os que erram e esperança em relação à sua restauração. Que tal efeito bom seja produzido em nossas mentes - não somos todos chamados a ser anunciadores do Evangelho, mas em qualquer capacidade de um santo, um efeito benéfico santificador será produzido sobre uma mente sã, lembrando que somos escravos, mas que o Senhor nosso Deus nos redimiu. Que o Espírito Santo, a esta hora, traga a maravilhosa graça de Deus à nossa lembrança!
Quanto ao fato particular da redenção de Israel do Egito, deveriam ter muito cuidado para que fosse lembrada. O mês em que saíram foi estabelecido como o primeiro do ano (Êxodo 12.12). Uma injunção especial foi criada com o propósito de que a libertação pudesse ser comemorada no dia da Páscoa, para que não se esquecesse o cordeiro imolado e a aspersão do sangue que foram apresentados para a libertação deles.
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A Palavra do Senhor ordenou, dizendo: "E este dia vos será por memória, e vocês devem mantê-lo numa festa para o Senhor pelas vossas gerações, por estatuto perpétuo." Eles foram intimados, também, a instruírem seus filhos sobre isso, de modo que, além de um cerimonial havia também uma tradição oral a ser passada de pai para filho (Deuteronômio 6.20,21).
Sua lei dos Dez Mandamentos começou com um lembrete deste notável fato -"Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão: não terás outros deuses diante de mim."
Agora, Amados, se o judeu foi tão cuidadosamente instruído a lembrar-se da sua libertação do Egito, não deveríamos, também, tomar cuidado em relação a nós mesmos de maneira a nunca esquecermos a nossa ainda maior redenção através do sangue precioso de Cristo, pelo qual fomos libertados do jugo e da escravidão do pecado?
Veja como Paulo, em Efésios 2.11-13, nos fala que fomos chamados pela graça desde os confins da terra - “2.11 Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, 2.12 naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos
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às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. 2.13 Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. "
Ele coloca o mesmo pensamento em outras palavras, em Romanos 6.17,18, onde diz: " 6.17 Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; 6.18 e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça." Paulo queria nos lembrar de nossa redenção. E Deus, o Espírito Santo, que falou por Paulo queria nos lembrar!
Em primeiro lugar, vamos considerar nossa escravidão. Foi extrema como a escravidão dos filhos de Israel no Egito. Há muitos pontos nos quais um paralelo pode ser traçado. Vamos indicá-los em poucas palavras. Em primeiro lugar, quando estávamos não regenerados e vendidos sob o pecado, fomos escravizados por um grande poder contra o qual não podíamos lutar. Teria sido de nenhuma utilidade para os israelitas iniciaram uma insurreição contra o Faraó, ele estava muito firmemente estabelecido no trono e seus soldados, de longe, eram fortes demais para as pobres e fracas tribos de Israel.
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A Queda no pecado nos deixou também "sem força". A Lei, com toda a sua força, é "enfraquecida pela carne." Infelizmente, o homem não tem um coração voltado para a liberdade espiritual, caso contrário, o Senhor iria dar-lhe poder. Assim, aquele que está acostumado a fazer o mal não pode aprender a fazer o bem, sem a ajuda da força divina! Irmãos e irmãs, os grilhões que aprisionam o espírito do homem carnal são muito mais fortes para que possa se livrar deles. Ele pode tentar fazê-lo, como em momentos de reflexão alguns homens o fazem, mas, infelizmente, logo ficará cansado da luta pela liberdade e se resignará à sua prisão.
Se o homem tivesse sido capaz de operar sua própria redenção, nunca teria descido do Céu o Divino Redentor, mas porque a escravidão era muito terrível para o homem libertar-se, então, o Filho eterno de Deus, veio aqui para que pudesse salvar o Seu povo dos seus pecados.
E, bendito seja Deus, o paralelo com a história da libertação de Israel funciona mais, no seu caso, porque também, Deus ouviu os seus gemidos e lembrou da sua aliança (Êxodo 2.24). Tudo isso enquanto o nosso inimigo visava à nossa destruição! Quando Satanás tem homens sob o seu poder, trabalha por todos os meios para destruí-los totalmente, pois nada menos do que isso vai satisfazê-lo, e disso o faraó nos dias de Moisés era uma simples figura! E, assim como
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Israel no Egito, estávamos nas mãos de um poder que não nos deixaria ir. E ouvi uma voz por Moisés que disse ao Faraó: "Assim diz o Senhor: deixa ir o meu povo ir", mas a resposta do Faraó foi: "Eu não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel." E tal era a linguagem das nossas corrupções! Essa língua do diabo, que tinha o domínio sobre nós. "Eu não vou deixar você ir", disse o Príncipe das Trevas.
Eu gostaria de ajudá-lo ainda mais a lembrar dessa escravidão. Não pode ser difícil para alguns de vocês fazer isso, pois vocês vieram do Egito recentemente. Alguns de vocês foram libertados, agora, nesses últimos 20 anos, alguns talvez nesses 50 anos! Mas não pode ser difícil para você se lembrar o que deve estar tão indelevelmente marcado em você.
Ah, glória a Deus, somos livres! Não mais carregamos cadeias em nossas almas, mas nós ainda carregamos as cicatrizes antigas sobre nós. Às vezes, o velho temperamento reaparece, ou as antigas concupiscências. Trechos de músicas mundanas, lembranças de antigas paixões e eu não sei o que, além disso, são cicatrizes que nos fazem lembrar que fomos escravos no Egito!
Precisamos lembrar por estas cicatrizes que fomos redimidos e saímos da escravidão no Egito. Isto foi uma intervenção divina. "O Senhor
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teu Deus te resgatou". E foi experimentado pessoalmente. Era uma questão de consciência clara de sua própria alma. Você era um escravo, você sabia e sentia - o Senhor teu Deus te resgatou e você sabe disso e sente isso também! "Você era um servo, e o Senhor teu Deus te resgatou". Não pode haver nenhuma dúvida sobre isso! O próprio Satanás não poderia fazer alguns de nós duvidar! As cadeias eram tão reais e a liberdade tão preciosa!
Devemos, naturalmente, concluir, que se um cristão mantiver sempre em mente o seu antigo estado, isto iria torná-lo humilde. Você foi pregar e Deus tem abençoado a conversão de muitos, você se sente contente? "Lembra-te de que foste escravo na terra do Egito, e o Senhor teu Deus te resgatou".
No próximo lugar, seja grato. Se você não tem todas as misericórdias temporais que você deseja, mas se recebeu a mais escolhida de todas as misericórdias, a liberdade através de Jesus Cristo, portanto, seja alegre, feliz e agradecido. Lembre-se que você era um escravo e se você tem, senão pouco dos bens deste mundo, seja grato pela grande bênção espiritual que recebeu em ser libertado do jugo mortificante.
Seja grato, e seja paciente, também. Se você está sofrendo ou doente, ou se, por vezes, seu
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espírito é abatido, ou, se é pobre e desprezado, mas diga para si mesmo: "Por que eu deveria reclamar? Minha porção pode parecer difícil, mas não é nada em comparação com o que teria sido se eu tivesse ficado preso na terra do Egito! Graças a Deus eu não sou mais escravo de meus pecados.”
Em seguida, seja esperançoso. "Ainda não se manifestou o que havemos de ser." Você era um escravo, mas a Divina Graça, lhe livrou! Quem sabe o que o Senhor ainda pode fazer de você? Existe alguma coisa que Ele não pode, e não vai fazer por aquele a quem Ele já redimiu pelo Seu sangue? Ele te libertou do pecado! Oh, então, ele irá preservá-lo de cair e lhe fará perseverar até o fim. "Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida." Você está assim esperançoso?
John Newton persistiu na pregação, mesmo quando ele era realmente incapaz disso, pois ele disse: "O quê? Será que um velho africano blasfemo deixaria de pregar Jesus Cristo enquanto há fôlego em seu corpo? Não, nunca!" Ele sentiu que deveria continuar a dar testemunho, porque o nosso texto sempre esteve diante dele, "Lembra-te de que foste escravo na terra do Egito, e o Senhor teu Deus te resgatou".
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Lembre-se que você foi um escravo, o cheiro do forno de tijolo está em cima de você agora, meu irmão, minha irmã, você ainda não limpou todo o barro de suas mãos com o qual fez um trabalho em tijolos. Então não se tornem egoístas, sem amor, cruéis, mas em todas as coisas, amem o próximo como a si mesmos e assim provem que amam o Senhor Seu Deus com todo o coração. Deus os abençoe. Amém.
Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
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A Si Mesmo Se Humilhou
"a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz." (Filipenses 2.8)
Coloque-se ao pé da cruz e conte as gotas de sangue por meio das quais você foi purificado.
Veja a coroa de espinhos e os ombros de nosso Senhor ainda feridos e jorrando o fluxo vermelho de seu sangue.
Contemple as mãos e os pés de nosso Senhor cravados pelo ferro áspero, bem como todo o seu Ser desprezado e escarnecido.
Veja a angústia, o sofrimento e as dores intensas da agonia íntima do Senhor revelando-se em sua aparência exterior.
Ouça o deprimente clamor: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46)
Se você não está humilhado na presença de Jesus, ainda não O conhece. Você estava tão perdido, que nada poderia salvá-lo, exceto o sacrifício do unigênito Filho de Deus.
Visto que Jesus se humilhou por causa de você, prostre-se em humildade aos pés dEle.
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Uma compreensão do admirável amor de Cristo possui mais tendência de humilhar-nos do que a compreensão de nossa própria culpa.
O orgulho não pode subsistir debaixo da cruz.
Assentemo-nos ali e aprendamos nossa lição.
Depois, levantemo-nos e a coloquemos em prática.
Por Charles H. Spurgeon
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Na Grandeza da Sua Humildade Repousa a Sua Glória
Ninguém poderia ter se humilhado mais do que Jesus Cristo.
Nem de muito, e de muito longe mesmo, poderia fazê-lo.
Porque ninguém poderia abandonar a posição tão elevada de Deus Altíssimo, entronizado acima dos querubins e serafins, na glória excelsa do terceiro céu, criação das Suas mãos, e criador e governante de tudo o que há no universo e além dele.
Deixar tudo isto e se fazer a si mesmo homem, para servir aos homens e carregar sobre Si os pecados de todos eles, numa morte terrível de cruz.
Quem pode humilhar-se mais a si mesmo em tão grande nível?
Por isso o Seu Nome, deve ser elevado acima de todo nome, e deve ser adorado e servido por amor, de coração, por toda a eternidade.
Jamais nos gloriemos portanto em nós mesmos, ou nos feitos dos homens, senão
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exclusivamente no Senhor Jesus Cristo, que é digno de toda a honra e de toda a glória.
“Flp 2:5 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Flp 2:6 pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
Flp 2:7 antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana,
Flp 2:8 a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
Flp 2:9 Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome,
Flp 2:10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra,
Flp 2:11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”
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Nosso Dever de Sermos Humildes
“Filho do homem, em que a madeira da videira é melhor do que o galho de qualquer árvore da floresta?” (Ez. 15:2 NVI)
Estas palavras são para humilhação do povo de Deus; chamam-lhes a videira de Deus, mas qual deles, por natureza, é mais do que os outros?
Eles, pela bondade divina, tornaram-se frutíferos, pois foram plantados em boa terra; o Senhor os cultivou nas paredes do Santuário e eles produziram frutos para Sua glória; mas, o que são sem seu Deus?
O que são, sem a contínua influência do Espírito Santo, gerando neles fecundidade?
Ó cristão, aprende a rechaçar o orgulho, vendo que não tens motivo para ele!
Não importa quem sejas, nada tens que te faça orgulhoso.
Quanto mais tens, mais deves a Deus, e não deves te orgulhar daquilo que te torna devedor.
Considera a tua origem, olha para o que eras. Considera o que terias sido, não fosse a graça
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divina. Olha para ti mesmo como és agora. Porventura tua consciência não te acusa?
Não estão diante de ti tuas muitas perambulações, dizendo-te que és indigno de ser chamado Seu filho?
E se Ele alguma coisa te faz, não foste ensinado por isso que é a graça que te torna diferente?
Ó cristão, terias sido um grande pecador, não tivesse Deus te tornado diferente.
Ó tu, fortalecido pela verdade, terias sido fortalecido pela mentira, não fosse a graça de Deus sobre ti.
Portanto, não te orgulhes, pois embora tenhas muito — amplo domínio da graça, nunca tiveste nada para chamar de teu, exceto pecado e miséria.
Ó estranha obsessão, que tu, que tudo tens tomado de empréstimo, penses em exaltar-te; pobre pensionista dependente da generosidade do Salvador, cuja vida se esvai sem a refrescante corrente de vida procedente de Jesus, e ainda assim cheio de orgulho!
Quanta vergonha para ti, ó coração insensato!
Por Charles Haddon Spurgeon
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Humildade
Um senso de nossa própria pequenez deve decorrer do fato da corrupção do nosso coração, do fato de sermos pecadores.
E ainda que convertidos a Deus, vê-se em nós em nossa jornada terrena, os restos desta corrupção.
Isto em si mesmo, é um motivo bastante forte para que sejamos humildes, e para que não se encontre em nós qualquer tipo de elevação, porque as nossas melhores obras, e a nossa própria santidade, é imperfeita, pois sempre carrega algum tipo de mancha de orgulho ou qualquer outro pecado.
Quanto à consciência de nossa pequenez em razão do pecado, não precisamos necessariamente nos comparar com Deus, pois que todas as criaturas que habitam o céu não têm qualquer tipo de pecado, inclusive os santos que lá estão.
Nisto temos um bom motivo para nos mantermos humildes com uma consciência da nossa pequenez comparativa.
A humildade tende a prevenir um comportamento de justiça própria.
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Aquele que está debaixo da influência de um espírito humilde, se ele entrou em uma falta, como todos estão sujeitos a cair em algum momento, ou se em qualquer coisa ele prejudicou outros, ou desonrou o seu nome e caráter, estará disposto a reconhecer a sua falta.
Não será difícil para ele ser trazido a uma consciência da sua falta, nem testemunhar o reconhecimento do seu erro.
Ele será humilhado intimamente por isto, e pronto a mostrar a sua humildade da maneira pela qual o apóstolo Tiago aponta, quando ele diz em Tg 5.16: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros”.
É o orgulho que faz com que os homens sejam tão endurecidos para confessarem os seus pecados, porque consideram que isto será vergonhoso para eles, mas na verdade o que está em foco é que estão preocupados com a estima da sua própria honra. E ficam assim, privados da mais elevada honra, já que Deus dá graça a quem se humilha.
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Humildade, Modéstia e Simplicidade
Um texto que poderia ser pensado relativamente ao título seria o de Mateus 5.3, vertido muitas vezes como “bem aventurados os humildes de espírito...”, mas, a palavra grega no original é ptochoi, que significa pobre, conforme também empregada em várias outras passagens do Novo Testamento. Pobre, no sentido de reconhecer-se desprovido da glória de Deus, e completamente necessitado do ouro refinado da graça de Jesus, para ser enriquecido espiritualmente.
Todavia, como tal condição conduz necessariamente a nos tornar humildes diante de Deus, pode-se dizer que a expressão traduzida como humildes de espírito é correta. A humildade é a condição requerida por Deus para que possa nos exaltar, sem o perigo de nos tornarmos arrogantes e orgulhosos.
Quando conscientes da nossa real condição, e desprovidos da graça de Jesus, estamos preparados para receber os dons de Deus sem o perigo de deixar de Lhe atribuir toda a honra, louvor e glória.
Temos o exemplo supremo e insuperável de humilhação na própria pessoa de Jesus Cristo, que sendo o Criador e soberano sobre tudo e
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todos, rebaixou-se a ponto de se fazer homem, gerado segundo a carne no ventre de Maria, sem ter sequer onde reclinar a cabeça. Foi perseguido e escarnecido, rejeitado e crucificado; e tudo isso para efetuar a obra da nossa salvação.
De igual modo, todos os que Lhe pertencem são chamados a compartilhar da Sua humilhação e sofrimento, carregando cotidiana e pacientemente a cruz que lhes está designada por Deus, como sendo a porção deles neste mundo, pois importa que em tudo sejam conformados ao seu Salvador e Senhor.
Além disso, em nosso caso, a auto-humilhação possui o efeito benéfico de nos colocar no nosso devido lugar de criaturas dependentes de Deus, pois somos dados naturalmente à autoexaltação, por causa do pecado que opera em nossa natureza terrena.
A humildade é uma virtude comparativa, ou seja, ela se manifesta quanto ao que sentimos em relação a outros. Geralmente, por um engano do pecado, somos levados a pensar que somos mais qualificados do que os nossos semelhantes. Todavia, deveríamos nos comparar sempre com Cristo, para vermos qual é de fato a nossa real condição.
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Assim, somos exortados a considerar os outros superiores a nós mesmos, para que não incorramos neste grave pecado de soberba e presunção.
Lembremos sempre, que foi por causa da exaltação que Satanás e os anjos que o seguiram, que caíram do seu estado original se transformando em demônios; inimigos de Deus e da verdade.
Assim, Deus sempre rebaixará aqueles que se exaltarem, seja para a perdição eterna, como no caso do diabo e os demônios; como no caso dos homens que morrem resistindo a Cristo; ou seja, para correção, no caso de crentes que se permitem deixar-se dominar por este pecado de autoexaltação.
Não é lícito que louvemos a nós mesmos, nem devemos andar à procura do louvor dos homens, senão somente do de Deus. Não é correto quem a si mesmo se glorifica, senão a quem Deus glorifica.
De modo que se a intenção do nosso coração é a de subir acima das estrelas, e estabelecer um trono acima de Deus, é certo que seremos derrubados para as profundezas, tal como o Senhor fizera com Satanás.
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Aos pecadores arruinados que foram salvos por exclusiva graça e misericórdia, não cabe um melhor lugar do que os joelhos dobrados, com o rosto no pó, diante da sublime majestade do seu Salvador e Senhor.
Por que Deus se agrada tanto da nossa humildade?
Porque Ele é Deus verdadeiro e se agrada da verdade. O que se reconhece humilde testifica da verdade da sua condição pessoal. É isto o que convém a toda e qualquer pessoa, por maior que seja a sua força, inteligência ou riqueza.
“Jeremias 9.23 Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas;
Jeremias 9.24 mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o Senhor.”
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Humilhar-se Sob a Potente Mão de Deus
1Pe 5:6 Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte,
Mesmo quando afligido debaixo da potente mão do Senhor, é sempre nEle e não em outros, que o Seu povo deve buscar auxílio e socorro, como podemos ver no capítulo 30 de Isaías.
Judá estava debaixo da ameaça da invasão dos assírios, que haviam se engrandecido contra o Senhor, e intentavam levar Judá para o cativeiro, coisa que Deus não lhes ordenara, e que Judá conheceria caso tivesse buscado o Senhor.
Mas em vez disso, foram se aliançar com o Egito para defendê-los dos assírios, como se vê em II Rs 18.21.
Da Assíria que Judá tanto estava temendo o Senhor disse através do profeta:
“Com a voz do Senhor será desfeita em pedaços a Assíria, quando ele a ferir com a vara.” (Is 30.31).
Os assírios destruíam as nações dominadas, e temos afirmado repetidas vezes que Judá jamais poderia ser destruída, não por causa da justiça
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dos judeus, mas por causa do propósito determinado de Deus de trazer a salvação ao mundo por meio dos judeus, porque seria deles que procederia o Messias.
Mas quando filhos rebeldes darão ouvidos e praticarão as coisas ordenadas por seus pais? De igual modo Judá não daria ouvidos ao Senhor e não O buscariam porque eram filhos rebeldes, e por isso um remanescente dele deveria ser purificado no cativeiro em Babilônia.
Somente filhos que honram a seus pais e que lhes obedecem, buscam tomar conselho com eles, mas esta não era a condição dos judeus, que não buscavam conselho do Senhor, mas fazendo aliança com outros sem a instrução do Espírito Santo, e assim acrescentavam pecado sobre pecado (Is 30.1).
Eles fizeram de faraó o deus deles, esperando que seria a força do Egito que os livraria da Assíria (v. 2,3).
Os oficiais de Judá, que haviam descido ao Egito, seriam envergonhados porque o próprio Egito seria subjugado pela Assíria, e assim em nada poderiam ser ajudados.
Em Is 30.6 o Egito é chamado de a Besta do Sul, porque é um auxílio vão, um poder que não pode ajudar os judeus. Assim como o Anticristo é
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também chamado de Besta, porque é como um animal feroz irracional que não poderá auxiliar Israel na aliança que farão com ele nos últimos dias, para serem livrados da ameaça árabe.
Em vez de ajudá-los o próprio Anticristo se voltará contra eles e destruirá a muitos por via de perseguição.
O Egito havia feito grandes promessas aos judeus por troca de um grande tesouro que eles deveriam lhe dar, mas como de nada lhes aproveitaria, Deus chamou o Egito de Gabarola, isto é, de contador de grandes feitos, mas que nada poderia fazer (v. 7).
Deus ordenou que esta profecia ficasse registrada conforme a encontramos em Isaías 30, porque era Seu intento que isto ficasse como testemunho para o futuro e para sempre, não para registrar a fraqueza do Egito, mas que os judeus eram de fato um povo rebelde, filhos mentirosos, filhos que não queriam ouvir a lei do Senhor, como se afirma no verso 9.
Eles rejeitavam a mensagem dos profetas que Deus lhes enviava, porque queriam ouvir coisas aprazíveis e ilusões e não a verdade (v. 10).
Não somente deixavam de dar ouvidos aos mensageiros de Deus, como os rejeitavam, pedindo-lhes que se afastassem deles, para que
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o Santo de Israel deixasse de estar entre eles, para terem liberdade para viverem no pecado, sem terem suas consciências confrontadas e aferroadas pela verdade (v. 11).
É importante que se frise que tudo isto estava ocorrendo em pleno período em que o rei Ezequias estava se esforçando para empreender uma reforma religiosa em Judá, para trazer o povo de volta aos caminhos do Senhor.
Mas Deus sabia que toda a honra que Lhe estava sendo tributada, era da boca para fora, porque não era nEle que estava o coração do povo, senão no pecado.
Porventura, não é esta a condição de muitos na igreja de Cristo?
Por isso o Senhor os chama ao arrependimento, nas cartas dirigidas às sete Igrejas no livro de Apocalipse, com exceção de Esmirna e Filadélfia.
Deus não olha a aparência do culto que Lhe prestamos, porque conhece o que está no nosso coração.
Ele sabia o que havia no coração dos judeus, apesar de gostarem de comparecerem aos seus átrios, oferecerem ofertas e sacrifícios, jejuarem e orarem, como veremos nos capítulos
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seguintes, mas foram repreendidos pelo Senhor por causa das más obras das suas ações.
Eles não se submeteram debaixo da potente mão de Deus, não se arrependeram dos seus pecados, e se dedicavam à simples apresentação de um culto externo que não provinha do profundo de seus corações.
Eles ficaram acomodados à dureza produzida pelo pecado, e não consideravam em sua carnalidade que o que Deus requer é que estejamos em íntima comunhão espiritual com Ele.
Então o juízo sobre eles soou nos versos 12 a 17 para os ímpios de Judá que rejeitaram a chamada ao arrependimento. Mas ao exercer o juízo Deus não deixaria de esperar, isto é, de ser longânimo para usar de misericórdia para com o Seu povo, porque determinou em Seu conselho eterno que poria ainda a Judá como glória sobre toda a Terra. E faria isto com todos aqueles que esperam por Ele (v. 18) e os faria habitar em Sião, em Jerusalém, e os consolaria porque haviam chorado por seus pecados e pelas aflições que sofreram reconhecendo que lhes sobrevieram por causa dos seus pecados.
Deus se compadeceria deles e ouvira o seu clamor e lhes responderia, embora lhes tivesse dado o pão de angústia e água de aperto, e em
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vez disso, lhes daria agora guias que poderiam ser reconhecidos por eles, como enviados por Ele, porque lhes abriria os seus olhos para discernir que eram mestres da verdade; e ouvidos para poderem ouvir a palavra de instrução quanto ao caminho que deveriam seguir, quando se desviassem para a direita ou para a esquerda, deixando de andar no caminho estreito e reto da verdade (v. 20, 21).
Quando eles se convertessem eles jogariam fora os seus ídolos de prata e de ouro (v. 22).
Nos versos 23 a 26 são feitas promessas de bênçãos para os que se convertessem em Judá.
E nos versos 27 a 33 é descrita a alegria do povo de Deus por ter Ele tomado vingança contra os Seus inimigos que os oprimiam.
É exatamente isto que sucede com os crentes de todas as épocas, inclusive na dispensação presente da graça, uma vez que quando nos sujeitamos aos juízos corretivos e disciplinadores do Senhor, com mansidão em nossos corações, com quebrantamento de espírito e verdadeiro arrependimento, aguardando com paciência pela demonstração da Sua misericórdia, o efeito sempre é este de sermos livrados dos poderes espirituais que nos oprimiam e de podermos assim louvar o nome do Senhor e servi-lo na liberdade do espírito,
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com gratidão e alegria em nossos corações, porque a Sua graça é quem opera tudo isto em todos aqueles que caminham humildemente com Ele.
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Humilde Como Uma Criança
"1 Naquela hora chegaram-se a Jesus os discípulos e perguntaram: Quem é o maior no reino dos céus?
2 Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles,
3 e disse: Em verdade vos digo que se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.
4 Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus.
5 E qualquer que receber em meu nome uma criança tal como esta, a mim me recebe.”
O ensino básico desta passagem é que a medida de grandeza do reino dos céus é proporcional ao tamanho da humildade, ou seja, quanto maior for a humildade da pessoa, maior será a sua grandeza no reino.
E esta humildade é a de espírito, a pobreza de espírito citada por nosso Senhor nas bem-aventuranças, que conduz a todas as demais virtudes essenciais daqueles que pertencem ao reino, a saber: mansidão ou submissão; contrição; pacificação; fome e sede de justiça;
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misericórdia; pureza de coração; ser perseguido por amor à justiça.
Portanto, em quem estas características forem achadas em grande grau, tanto maior será a sua grandeza no reino dos céus.
Por isso nosso Senhor se valeu da ilustração de uma criança para nos ajudar a entender esta verdade, porque estas características, especialmente a da humildade, se encontram naturalmente em crianças, pois não aspiram a fama, poder, posições elevadas, honrarias e tudo o mais a que o pecado conduz em nossa vida adulta.
Além disso, se permitem ser ensinadas e creem nas coisas que lhes são ensinadas. Cristo deve nos ensinar, e se não formos como as crianças, jamais poderemos ser Seus discípulos.
Então a humildade aqui referida nada tem a ver em não se adquirir conhecimento ou bens, mas com o modo como usamos todas estas coisas, especialmente as relativas ao reino espiritual, quanto a não nos deixarmos dominar por nada que não seja celestial, espiritual e divino, e que não tenhamos em relação a todas as coisas, quer terrenas ou celestiais, sentimentos de orgulho, cobiça egoísta, arrogância, ou qualquer outro que nos incompatibilize a viver no amor devido a Deus e ao próximo.
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Logo, a aspiração de ser grande no reino dos céus é legítima, todavia, deve ser movida pelos motivos corretos; pois isto tem a ver com servir a outros com amor e humildade e a não ser servido, conforme o exemplo que nos foi deixado pelo próprio Senhor em seu ministério terreno.
Deste modo, nosso Senhor vislumbrou nos Seus discípulos um sentimento de busca de grandeza pela superação de uns aos outros, e pôs a verdade relativa à grandeza do reino, quando apontou para a necessidade de conversão, antes de tudo, para que se pudesse ter a aspiração de ser grande no reino, porque é necessário que primeiro se nasça de novo do Espírito, e uma vez transformado, esta transformação deve prosseguir em graus, pelo processo da santificação, que em sendo real e efetivo em nossas vidas convertidas, há de nos tornar cada vez mais humildes, conforme é do propósito de Deus.
Agora, aplicando este ensino do Senhor, de modo prático, na vida da Igreja, podemos observar que aqueles que são menos notáveis nos trabalhos de culto da mesma, são exatamente as crianças.
Isto não significa que não sejam alvo dos nossos cuidados, mas é notório que as expectativas
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quanto ao que deve acontecer no culto, não é colocada geralmente, nelas.
Todavia, nosso Senhor está dizendo que Ele as repara, e que o que elas são é muito importante para Ele.
Não somente isto, indica-nos que devemos nos esforçar para sermos como elas. Desprovidos de aspirações de grandezas terrenas, baseadas no culto da autoglorificação, e por nos sentirmos superiores aos demais.
Estar quieto e sossegado diante do Senhor, dependente da Sua palavra de ordem, sem questionar o Seu mover e as Suas ordens, e prontos a obedecer-Lhe, confiando inteiramente nEle, é algo precioso e que indica de certo modo a medida da nossa grandeza no reino.
Não é o que é elevado para os homens que é necessariamente elevado e digno diante de Deus, porque tem escolhido as coisas desprezíveis e as que não são para confundir as sábias e aniquilar as que são.
“26 Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados.
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27 as Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes;
28 E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são;
29 Para que nenhuma carne se glorie perante ele.
30 Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;
31 Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor.” (I Cor 1.26-31)

The Physical Object

Format
Paperback
Pagination
vvi, 81p.
Number of pages
81
Dimensions
21 x 14,8 x 0,5 inches
Weight
121 grams

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OL25937056M

Work Description

Religião cristã

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